sexta-feira, setembro 21, 2007

a malta da cola

a actividade profissional dos meus pais era feita, digamos entre - as nossas - portas. eu tomava o pequeno-almoço na loja, almoçava na loja, jantava na loja, etc...

enquanto a minha mãe preparava o jantar, eu e a minha irmã, estávamos incumbidos de despejar as várias latas
individuais de cola - eram na realidade antigas latas de salsichas. nobre, na certa - que a minha mãe e as restantes costureiras utilizavam durante o dia, para dentro dum latão que levava para aí uns dez litros da coisa.

a cola que eles utilizavam e que a minha mãe, apesar de reformada - coitada - ainda utiliza, é assim a modes que do género daquela castanha. da cola tudo, estão a ver?

ora, era habitual, aí desde os meus... sei lá, quatro ou cinco anos, fazermos - eu e a minha irmã - grandes sessões de snifadelas dos restos das latas, até ficarmos tontos e nos rirmos que nem uns perdidos.

e claro, só anos mais tarde é que eu percebi que o que eu e a minha irmã fazíamos era apanhar valentes pedradas de droga. pode-se, assim, depreender que esta minha nóia - e da minha irmã, e da minha irmã - tem origem no facto de eu ser um ex-toxicodependente, vulgo drógádo (este acento é mesmo assim, na minha terra, diz-se drógádo, ok?), do ramo da cola, sub-ramo snifadelas.

é claro que a minha mãe chegava-nos a roupa ao pêlo e avisava-nos que aquilo não se fazia. que me lembre foi a única preocupação de monta que a minha mãe teve. por isso, sempre andei na rua (quando havia ordeca, obviamente) por sítios que nem lembram o diabo - ó pessoal, vocês deixavam os vossos filhos de oito e nove anos irem para o túnel da bruxa? -; sempre comi aquelas, sei lá, seis, sete, oito sandes de manteiga e açucar, todas de seguida e ao lanche; sempre comi rios e rios de açúcar, e apesar de todo este passado, desde que siga a medicamentação, conseguirei sair do miguel bombarda, se tudo correr bem, mais coisa menos coisa quando terminar o castigo do scolari. foi pelo menos o que lá os senhores disseram.

ah, e para infelicidade dos meus amigos, tresandava a chulé.

lembrei-me disto esta semana durante a reunião de pais lá na escolinha da minha filha. é que às tantas aconteceram duas ou três cenas que me fizeram abanar para cima e para baixo a cabeça e pensar:
" - realmente, escolhi (quem me conhece sabe que isto é mentira. eu não escolhi rigorosamente nada, ela é que apontou o dedo e disse: ó coisinho, 'bora lá fazer uma filha que o meu relógio biológico.....) mesmo bem o raio da mãe da minha cuca.

cena 1)
nas apresentações
olá, eu sou o pedro, tenho 38 anos (nesta altura as mulheres viraram todas a cara para a minha direcção e fizeram aquele ar invejoso de "só???? ai querido, ouça (sabem como é que se diz este ouça, não sabem?) está muito bem conservadote, sabe?) e sou o pai da beatriz
há uma mãe que se lembra de dizer "eu sou a _____, sou a mãe da ____ e queria aproveitar a oportunidade de agradecer às educadoras, vigilantes, auxiliares, etc... e demais responsáveis da escola, porque com o seu inexcedível trabalho ao longo destes três anos, fizeram da minha filha o ser maravilhoso e fantástico em que se tornou e que está à vista de todos vós".

ora aquilo que inicialmente parecia ser um elogio ao pessoal docente, acabou por ser um elogia, parvalhote, à sua filha. graças a deus que quer o pessoal da escola, quer os restantes pais, se estiveram literalmente cagando para aquelas palavras. aquilo entrou a cem e saiu a mil. apeteceu-me rir muito alto - vocês sabem como eu sou!

cena 2)
às tantas fala-se da ementa da escola e há uma mãe que tem a infeliz ideia de se "queixar" - duma forma profundamente educada e correcta, é certo - sobre a sobremesa. verificava ela que a mesma ou era constituída por doce ou por fruta. ora se o seu bento filho não comia doces, nos dias em que não havia fruta, como é que era?

mais, sendo a sobremesa constituída por doce, como é que ela poderia saber se o seu excelso rebento poderia ou não comer um doce ao jantar? sim, porque tendo já comido durante o dia....

mais ainda, verificou também que ao lanche, volta e meia, há o costume de barrar o pão com tulicreme. ora se essas coisas estão completamente proibidas de lá entrar
lá em casa, de que forma é que a escola estava a pensar contornar o problema?

uma das respostas que eu mais gostei foi a da educadora:
- olhe (e a mãe olhou!), eu inté, se fosse cá eu a mandar sabe, ainda besuntava mais o pão com tulicreme. aquilo havia de ser do género de a malta trincar e sujar os dedos e as mãos com o chocolate que escorresse do pão! ó senhora, tenha lá paciência, mas acha que o que a escola besunta de tulicreme no pão, é suficiente para intoxicar o miúdo? aquilo quase nem se vê, pá.

cena 3)
às tantas há uma mãe que utiliza a seguinte frase:
reparem bem nas palavrinhas que a iluminada escolheu. e não se esqueçam que estamos a falar de crianças com três anos. repito, três anos.
"sabendo que esta escola tem como linha vocacional pedagógica a "iniciativa", de que forma é ela incutida às crianças?"

não aguentei, fingi que queria cagar e fui-me rir para o corredor!

se fosse eu a mandar, obrigava o bin laden a queimar tudo o que são libros do brazelcoiso e afins. estas gajas não podiam começar a coçá-la em vez de gastar tempo a ler estas merdas? mas de onde é que elas retiram isto? da pais & filhos? de onde, de onde? repito só mais um 'cadinho "linha vocacional pedagógica"

tirem-me deste filme, sim?

ó mana, traz lá a cola outra vez.

6 comentários:

Xana disse...

Ahahahahhahaha!

tcl disse...

isto fez-me lembrar uma tarde memorável em que resolvi pintar, com uma tinta própria para o efeito, uns horríveis azulejos côr de caca do wc duma casa onde morei, à falta de trocos para substituir os ditos azulejos. Como o cheiro da tinta era forte (tipo verniz), fechei a porta e abri a janelita, que era pequena... bom, ao fim de meia hora, só cantava e ria. curti aquilo à brava. recomendo.

quanto às reuniões de pais, pitx, vais ter muito que sofrer. ainda há uns dois anos, só me apeteceu bater numa mãe cujo filho era uma verdadeira peste que lixava todas as aulas e prejudicava todos os outros miúdos, que dizia que se fossem tomadas medidas drásticas em relação ao seu rebento, como faltas disciplinares e afins, ela se ia queixar ao ministro e que a escola é que era responsável pela educação do menino. dá para acreditar?

Clara disse...

tenho para para a troca e à grande, que a minha cuca (de facto chamava-lhe isto mas agora com 8 anos já n me deixa) já andou em 4 ou 5 escolas diferentes.
A mais marcante foi numa reunião na sala dos 3 anos, mais de metade dos pais estavam muitíssimo preocupados com a faculdade para as quais os filhos iriam entrar, porque "isto (15 anos) passa num instante". Imagina a cara quando eu disse "a minha vai para a faculdade se quiser" (ar de nojo absoluto em toda a sala).

Papoila disse...

A cola UHU em bisnaga também batia!!!
Quer dizer.... ainda deve bater........


Ainda há cola UHU em bisnaga???

Bic Laranja disse...

Apesar da cola, dos doces e do túnel não te transviaste, embora digas hoje mais palavrões (a tua mãe não lê isto, pois não?). E demonstras alguma inteligência(embora isso não seja mérito teu; aconteceu-te); és atento, com alguma iniciativa, dado teres um blogo. Devias portantes saber que as mães estúpidas não têm culpa de o ser. Além disso parece que foram educadas para a caganeira, o que só agrava a estupidez.
Abraço.

ccunha disse...

No meu tempo a cola da moda era a BOSTIK. Não sei se ainda está assim, mas na EP Nuno Gonçalves havia um "cantinho dos namorados" cujo chão parecia esponja, por ter tantos sacos de cola enterrados!

As reuniões das creches devem ser todas iguais... há sempre meia dúzia de cromas e de cromos que vão lá mandar postas de pescada e fazer perguntinhas da treta para no fim nos fazerem uns olhares (na cabeça deles) superiores como quem diz: serei só eu a preocupar-me com o bem estar e o correcto desenvolvimento do meu bebé? No entanto, quando se têm que decidir coisas importantes ou distribuir tarefas para o ano lectivo... hum?... onde é que eles andam?... olha, calaram-se!!!