quinta-feira, dezembro 27, 2007

vida em marte?

há cantores ou grupos que eu sabia (e sei) de antemão que ainda iria gostar deles.

a elis não foi amor à primeira vista, o gonzaguinha também não, a minha mulher foi logo no primeiro olhar, os fleetwood mac quando consegui ouvir o tusk sem tirar, e rendi-me aos eagles quando ouvi o wasted time pela primeira vez.

um velho amigo diz-me, em tom de gozação, que eu ainda chegarei aos king crimson e quem sabe até aos devaneios do rick wakeman. cá estarei para assistir a isso.

o seu jorge chegou aqui há dias. fiquei com a tal sensação que descrevi ali em cima, quando o vi lá na cidade de deus: este gajo tem ali alguma coisa, nah, ainda não chegou a altura dele.

e rendi-me quando o ouvi cantar:
então vem cá, me dá a sua língua
então vem que eu quero abraçar você....

porque alguém que escreve assim, só pode ter nascido no brasil. um português falaria pudicamente em boca ou, quanto muito, em beijo. ai a falta que um jorge amado faz à literatura portuguesa... adiante! gostei, saquei, estou a consumir.

estas versões mais softes das coisinhas do báuí, além de virem com a voz quentinha do seu jorge, estão francamente adocicadas por estas letras francamente lindas.

por falar em versões, ouçam isto com atenção. estão a ouvir, estão? percebem porque é que os nouvelle vague me dão sono (e diarreia)? uma coisa são aquelas cenas dos stones e do marley em ritmo bossa nova. ah e tal, sabe bem ouvir aquilo no verão, com o céu alentejano como tecto, enquanto que a mão transporta um copo de licor de noz estupidamente gelado, do braço da cadeira até à nossa boca. maravilha! outra coisa são os nouvelle vague. que lástima. os nouvelle vague, além de estragarem músicas tão boas como o the killing moon, estão para o panorama musical como o júlio machado vaz está para a televisão e a rádio: ele fala, eu adoeço.


a vinte e quatro??????

em mirandela, um concelho que eu aprendi a chamar também de "minha terra", um juiz decidiu que uma criança tinha de ir para uma casa de acolhimento temporário antes de ser devolvida à mulher que a pariu.

até então, a catraia esteve com um casal que a tratou como filha.

eu já deixei de opinar sobre essas coisas de "quem é que deve ficar com a criança", "quem é que tem o direito", "quem é que afinal é o pai ou a mãe!". já não opino, pronto.

agora uma coisa tenho a certeza, um juiz que pega numa criança de três anos para a colocar lá na casa de acolhimento - antes de ir para a mulher que a pariu, como disse - NO DIA 24 DE DEZEMBRO, não é nem nunca será boa gente. que merda é esta? no dia 24? de dezembro? véspera de natal?

digam-me por favor que o juiz* fez aquilo porque os pais adoptivos a tratavam mal ou coisa parecida, se não dá-me já aqui a travadinha.

* terão estes juízes assim tão grande mérito para serem tratados por meritíssimos?

apesar de tudo...






... há qualquer coisa de transcendente numa consoada realizada sob a parca luz dumas simples e tradicionais velas (apagão no estoril made in edp).

terça-feira, dezembro 25, 2007

mais prendas

há cerca de dez anos o meu sonho era receber meias. sim, repito, meias. e fui anunciando isso ao longo do mês de dezembro:

- pessoal, quero que me ofereçam meias. pessoal, preciso de meias.

nunca ninguém me levou a sério. lá me foram dando coisas do arco da velha, alguns objectos que não lembram ao diabo e que, obviamente, não refiro aqui, com receio de ferir susceptibilidades. e lá tinha eu de ir comprar o raio das meias. são sempre iguais, são sempre as mesmas.

aliás, eu visto sempre as mesmas meias, os mesmos chinelos, as mesmas camisas, os mesmos calções e até as calças, passaram a ser sempre as mesmas, desde que há uns anos, um empregado da levi's do colombo, daqueles que atraca de popa, me disse enquanto me controlava o pacote: chavalo, andas enganado, pá. o teu número é 32/30!

depois desse momento já devo ter comprado uns quatro ou cinco pares sempre do mesmo modelo.

por essa altura, a minha namorada tentava colonizar-me com um tipo de roupa que ela achava ser o mais adequado à minha parva estampa. escusado será dizer que nunca gostei de nenhuma das peças que ela, tão pacientemente comprava. e eu lá tinha de fazer, nos dias seguintes, o caminho doloroso até às zaras e às pulls desta vida, trocar todas aquelas farpelas.

todos os anos é a mesma coisa. estão ali as pessoas a anunciar nomes como quem diz números do bingo e a cada embrulho que pegam nas mãos, eu até tremo de medo, com receio que seja para mim. e depois insistem que tenho de abrir ali, à frente de toda a gente, para ter de fazer aquele meu ar "eh pá, como é que adivinharam que eu (não) preciso mesmo disto (para nada)."

é arrepiante a mania das pessoas oferecer por oferecer. não há nada a fazer. ainda assim, o que me custa mais assistir são mesmo as ofertas de brinquedos às crianças. não há nada a fazer. continuam a matraqueá-las com barbies e mais o diabo a sete.

alguém faz ideia de quanto custa uma vacina? e um pacote de fraldas? arranjem tomates, dediquem-se à prenda útil. e que tal meia mensalidade escolar? juntavam-se dez pessoas, chegavam-se à frente e tunga! quinze dias lá na creche eram à borliú para os pais.

apesar de tudo, continuo a achar que aquela embalagem xpto de audace que o meu pai me ofereceu algures na década de oitenta consegue bater todas as bolas para fora que eu tenho assistido por aí. eu no fundo acho que ele tinha uma secreta esperança que eu virasse "lady piton" e fizesse carreira no trumps

prendas

e apesar das minhas incontáveis insistências, lá teimaram em me oferecer prendas* (ok, amor, foste a única a ouvir as minhas preces, verdade seja dita). lá voltaram a aparecer coisas que não lembram ao diabo e quase sem ter encomendado nada, houve um milagre, dois objectos que servirão para a vida: um espremedor de limões e um vaporizador de vinagre balsâmico.

* tias da minha terra, provem-me porque é se deve dizer presentes em vez de prendas que eu talvez mude de palavra.

ok corral

já li, pelo menos, umas quatro reportagens de fundo, sobre os incidentes ocorridos lá no porto com os bidás da naite.

a pergunta que eu faço é a seguinte: alguém consegue entender que é que estava do lado de quem? quem é que era amigo de quem? por causa de quem é que aquele matou o outro? conseguem, sem recorrer a esquemas desenhados num papelinho de rascunho, seguir o enredo do desenrolar dos acontecimentos?

ou, como eu, perdem-se a meio do caminho e até acham que afinal os matriquesses não são assim tão complicados?

(eu tenho para mim que eles se andam a matar simplesmente porque também eles às tantas, já não sabem quem é que fez mal a quem.)

sábado, dezembro 22, 2007

o que é nacional (nunca) é bom!

vê comigo,

isto não é bem uma "defesa do professor" versus "um ataque à dranquilidade e ao salir a ganar", nada disso. nem um precisa de defesa nem os outros deixaram de fazer coisas para não serem atacados. nada disso.

contrariamente ao que dizes no teu post, não há um único momento em que o jesu deixe de ser educado. olha as declarações dele: fala no penalti que ficou por marcar - e tem razão - mas depois continua as suas declarações sempre no condicional: "... esse lance poderia colocar o fcp em vantagem" (....) "provavelmente o jogo teria sido outro".
repito, ele usa sempre os tempos verbais no condicional.

deixa-me acrescentar mais um trecho das palavras do transmontano: "o fcp criou ocasiões suficientes para ganhar este jogo... falhámos demasiadas ocasiões para podermos aspirar à vitória... não fomos felizes e nem fomos suficientemente esclarecidos na finalização"

irmão, volta a rever as imagens, em nenhum momento ele diz que perdeu por culpa da arbitragem, repito, em nenhum!

em nenhum momento encontro uma falta de coerência. em nenhum momento ele diz que o árbitro influenciou o resultado ou mesmo que o árbitro é isto ou aquilo.

e para finalizar, deixa-me dizer uma coisa: quando o porto é beneficiado pelas arbitragens, nunca o viste dizer que "são lances habituais que servem também para compensar os erros que são cometidos a favor dos nossos adversários". capisce?

por outro lado, é um treinador (ou uma equipa - esta noite) que pode ser "atacada" porque:
- o mariano é francamente um erro de casting.
- eu não quero acreditar - está a custar, está a custar - que o meu clube só tem 12 jogadores. parece que os outros que entram a substituir esses 12 já são duma cepa mais reles, não é?
- e não concordo com o jesualdo quando diz que a equipa criou situações suficientes para marcar. acho que a equipa estava perfeitamente apática e perdia bolas atrás de bolas.
- um jogo em que tive saudades do tarik para mim é uma ofensa. o marroquino é jeitoso. mais do que isso, para mim, é um exagero. e eu acho que até hoje ele fez falta.
- já falei que o mariano não vale grande coisa?
- às vezes fico a pensar na nossa vantagem e imagino: bom, este pontinhos servem para aqueles jogos em que os adversário são melhores que nós. depois, claro, caio na real e lembro-me que não há adversários melhores que nós. há é jogos em que temos mesmo de perder porque sim. porque num campeonato com trinta jornadas, como hoje, há jogos em que não jogamos um caralho. e nesses jogos, perdem-se sempre pontos. se se fizerem muitos jogos desses, é certinho como o destino que também o campeonato vai para o galheiro.
- ai vai, vai!

quinta-feira, dezembro 20, 2007

o ovário da minha quinita

e pronto, ontem lá tive a matar saudades deste memorável chou.

é incrível, parece que estou a ouvir um disco antigo ou a cheirar um perfume que já não usava há muitos anos. estamos a ver aqueles sequeteches e surgem em catadupa memórias da quantidade de vezes que ouvimos (ou dissemos) aquelas frases.

é incrível, ouço aquilo e, num ápice, sou transportado para as mesas da sul-américa, para os senuqueres lá ao pé do padre, para os jantares de fim de ano na (defunta) feira popular, para os copos na esquadra do vitinha lá da rua da rosa.

os trocadilhos, a voz da são josé lapa, o "issé que pods ter a certeza!", as pernas da são josé lapa, o lacerda, o "vá, vá lá, nós queremos é que os nossos concorrentes ganhem", a são josé lapa, "o roy raminho", tudo, está lá tudo. aquilo é o anos de mil novecentos e noventa sem tirar nem pôr.

saudades.

eu por mim, organizo já uma vigília em frente à érre tê pê (eu disse uma vigília? estava a brincar. vá, fico lá prostrado em frente da entrada principal, na parte da relva, entre as 16 e as 18 horas dum dia qualquer a combinar. se possível na primavera) para que seja lançado, assim para não se perder o balanço, o hermanias especial de fim de ano.



muita atenção:
o dvd do crime da pensão estrelinha traz uma entrevista com o mestre que deve ser vista com muuuuuuita atenção. para os que ainda duvidam, acreditem que só quem é muito inteligente, culto, esperto e atento consegue fazer uma comédia transversal, assim, daquele tipo que agrada desde aos ricos até aos pobres ou desde a esquerda até à direita (sem passar pelo bloco ou pelo partido do autedór). são todas elas, características comuns ao herman, ao rap, ao markl, etc...

quarta-feira, dezembro 19, 2007

era um porto italiano, mesmo ao pé das montanhas

realmente não se percebe, um jogador tão bom, tão interessante, uma contratação tão cirúrgica que o benfas tinha feito.

não se percebe, mesmo!

pois é, é uma pena,...

... ninguém ganhou a jogar bonito. a holanda em 88 tinha um jogo realmente muito feio (gulite, ráicard, fan basten, cuman...); a alemanha em 96 a mesma coisa (ésslar, chol, bierófe, ziga, quilinsmane e sá mer - meu deus, este sá mer....); a frança em 2000, então, era uma coisa horrível (turâme, dê zái i, pires, diorcaí éfe, zidane, dê chans, enri, dugarri).

uma lástima, uma lástima...

vrummm

há uma cromice de estrada que eu julgo que tem sido subestimada ao longo destes anos e que merece uma criteriosa atenção.

não, não falo do pessoal que não usa piscas, não me refiro aos que circulam exclusivamente na faixa do meio, muito menos quero chamar a atenção dos que julgam que as rotundas são losangos. eu quero chamar a atenção do pessoal que não sabe que aquele bocadinho de estrada que construíram imediatamente antes e logo depois das saídas e das entradas das auto-estradas se chamam "zonas de aceleração e desaceleração".

ou seja, usam a faixa da direita para fazer esses movimentos em vez de utilizarem essas zonas. um gajo vai ali atrás de um carro, às tantas faz o pisca e sai da estrada, começando a travar, quando dá por ela, o marmelo que seguia à nossa frente, decide sair também ali, fazendo um movimento brusco para a direita - sem piscas nem nada - metendo-se à nossa frente e saindo da sua faixa, dois metros antes da saida da auto-estrada. um mimo.

é como quem diz: "eu começar a travar nas zonas de desaceleração? nahh, isso é para meninos. vou ali na minha faixa e quando estiver ali mesmo junto aos rails, zunga, saio!"

"entrar na auto-estrada e ter de seguir por aquele bocadinho de estrada que lá colocaram para esperarmos a nossa vez? vocês 'stão mazé malucos, pá. eu saio das portagens e vou logo a rasgar, atravessando as três faixas de rodagem até me localizar do lado esquerdo da via que é o meu lugar de eleição. olhar para trás a ver se vem alguém? eles que esperem, porra!"

cotão netes

os cotonetes do continente, aqueles mais baratuchos, têm uma caracterísitica que eu acho ímpar: não têm algodão.

ou então, se têm, eu não dou por isso. só sinto plástico a desentravincalhar-me o tímpano.

aí!!!!!!!!!!

fónix

em vez de phónix, não tinha mais piada chamar-se à nova rede de telefones dos correios: dasse!?

está um valente barbeiro!

a minha avó trindade, transmontana, até ao tutano dizia:

- está frio? mete o cu no rio!

dasse!

(não liguem, também dizia "tens fome? come um homem (óme, no original.)!")

ontem no chópingue...

... uma birra monumental. daquelas beras, com babas e cuspo projectados para as montras, à medida que ela se agitava e esperneava sem parar, tentando fugir do meu colo, em direcção a um livro de pintar que descobriu na fnac.

os olhares dividiam-se:

- os que não tinham filhos e olhavam, com dúvida e indignação, duas ou três vezes para confirmarem se não era mais um gajo que tinha raptado uma criança para redes pedófilas.

- os que tinham, seguramente, filhos e olhavam com pena e aquele olhar "pois, deixa cá ver, dia dezoito. sim, é verdade, hoje calhou a birra àquele gajo. tadito!

eu mantinha a calma. porque é que a calma irrita ainda mais as pessoas do sexo feminino?

pobreza de espírito

cresci rodeado pela pobreza. era assim mesmo.

até ao plano de erradicação de barracas, as traseiras da minha casa tinham vista para a quinta dos embrechados. curiosamente, à excepção dessa mancha na paisagem, é ainda, seguramente, uma das minhas vistas favoritas: os olivais, braço de prata, marvila, xabregas, palmela, alcochete, samouco, barreiro (blhec!) e aquela imensidão do mar da palha.

mas sim, se havia coisa que abundava no meu bairro era a pobreza. e alguns eram, obviamente, meus amigos: andavam na escola comigo, jogavam à bola comigo, compravam o pão na mesma padaria, iam à catequese comigo... vivíamos no mesmo bairro, fazíamos vida de comunidade. o habitual, não é?

não que eu fosse muito rico. nada disso, antes pelo contrário - rico, ah, ah, ah, ah! deixa-me rir - tínhamos as nossas limitações económicas mas nada que me fizesse macaquinhos no sótão.

uma família que nunca teve falta de comida - estamos a falar desde que eu sou vivo, da década de sessenta em diante, digamos - e que ia à marisqueira dos anjos, se calhar, duas vezes por ano, não pode nunca ser considerada de pobre. é certo que ainda sou gozado pelos meus amigos por nunca deixar comida nos pratos dos restaurantes ou por beijar o pão que cai ao chão, mas isso já são outros trezentos.

uma coisa que aquele bairro conhecia de cor e salteado era saber distinguir os pobres mesmo pobres

não lhes gosto de chamar humildes. bem sei que a língua portuguesa acolhe esta palavra com o mesmo significado de pessoa de uma classe social inferior. contudo, uma vez que muitos deles não eram nada humildes - por não conhecerem as suas próprias limitações - e eram bem arrogantes ou armados aos cucos, tenho francas dificuldades em lhes chamar humildes. fiquemos pelos pobres. porque isso, eram mesmo.

de todos os outros.

o meu avô materno costumava pronunciar, perto do final das refeições, "que os pobres mais necessitados do mundo estejam como eu estou agora". era uma forma de desejar barriga cheia a toda a gente. logo ele que soube na pele o que era passar fome e conheceu a pobreza por dentro e por fora.

quem habitava aquele bairro, sabia muito bem que este ou aquele não tinha direito a pequeno-almoço ou a bolo no dia de anos. já nem chamo para aqui outras necessidades básicas como por exemplo o banho, entenda-se. ainda noutro dia estive a ver uma fotografia da minha primeira classe. éramos aí uns doze, quinze alunos. desses, seguramente sete ou oito, nunca se sentiram numa banheira de água até aí aos quinze ou dezoito anos, sem exagero! água quente então, nem sei a que idade passou ela pelo corpo. muito
provavelmente, quando foram treinar ao vitória ou iam aos balneários de chelas.

adiante.

o que eu quero aqui salientar é que ninguém enganava ninguém com a pobreza. havia respeito - salvo parvas excepções - pela condição daquelas pessoas.

é por isso que me custa a evolução do crime, da malandrice, do engano praticado por supostos pobres. tira-me francamente do sério as histórias sobre pessoas que andam a pedir esmola e que depois a utilizam para outro tipo de gastos. fico francamente desiludido e irritado. esse tipo de comportamentos, num bairro tão hermético como a picheleira, era facilmente denunciado e motivo dumas bocas valentes ou dumas chineladas nas trombas.

gozar com quem tira da boca dos filhos para dar aos outros e mesmo assim ser enganado. meus amigos, isso era quase crime de lesa pátria.

por isso, cada vez mais me custa dar esmola. tenho vergonha de a recusar, mas tenho ainda mais medo que seja utilizada para outros fins. é a vida.

o ruizinho decidiu, aí por volta dos quinze ou dezasseis anos, deixar de andar na coboiáda connosco e ser agarrado ao caldo. tudo bem, era com ele. o que não devia era ter-me interpelado numa noite em que se encontrava sentado à porta dos pais - que o tinham posto no olho da rua pela enésima vez - pedindo-me cem paus para uma sandes ou uma sopa. ora, eu que sabia que aquilo seria, seguramente para mais um panfleto ou coisa parecida, disse-lhe para ele ter juízo. o que me tirou do sério foi o facto de ele já nem sequer ter reagido ao que lhe disse. é claro que dez minutos depois, estava novamente junto a ele com dois papo-secos guarnecendo umas costeletas de porco. pelo ar com que devorou aquilo e pelas lágrimas que iam caindo dos olhos, aquele estômago não via outra coisa que não ar, há uns tempos
valentes. em vez de ter ficado contente pela ajuda que lhe dei, fiquei antes irritado. irritava-me ver um gajo que, um par de anos antes andava comigo a tentar engatar uma gaja da mira fernandes, estar cheio de mazelas e completamente obliterado para a vida. fui-me habituando com os outros casos - muitos. alguns que foram parar mais cedo que o costume à quinta das tabuletas - que foram sucedendo ali à volta.

o pedro bucherie, escreveu um valente artigo no sábado, sobre uma família com rendimentos mensais de alguns milhares de euros que recorria à ajuda do banco alimentar para satisfazer a sua fome. ao que parece utilizava o dinheiro para outras necessidades. outras prioridades, não é? bem sei que este exemplo não pode ser confundido com o espírito que norteia o banco alimentar. mas mesmo assim, chateia-me profundamente que a ajuda a esta família, este exemplo relatado, pelos vistos, ainda persista.

saí dum bairro em que todos sabíamos, infelizmente, quem eram os pobres e vim viver para uma zona, presumivelmente "chique". puro engano. não digo que haja tanta pobreza. o que há - e mais do que eu supunha - é uma maior hipocrisia. faz-me francamente confusão ver a prioridade destas pessoas. sei do que falo porque tenho bem próximo de mim (família incluída) - não só daqui desta zona onde resido - pessoas que se queixam da crise e que ostentam exemplos contrários a essa mesma crise.

reparem que eu não digo que são possuidores, eu disse que ostentavam. uma coisa é dizerem que não podem comprar porque não têm dinheiro mas depois, às escondidas, usam-no para comer fuá grá. não, o que eu digo é que dizem que não têm, devem a meio mundo, toda a gente sabe, mas não deixam de se passear de éme xis cinco, envergando pul ouvârs com senhores em cima de cavalos e de taco na mão. cabrões!

uma vez o baixinho - um valente cabrão, diga-se de passagem - estava no meio duma ressaca monumental, interpolou-me ali em frente à loja do nove dedos, dizendo que precisava de uns trocos para comprar pó. recusei, e tentei fugir. ele veio atrás de mim a moer-me o juízo e insistindo, pegou-me da carteira, sacou de lá quinhentos paus e disse que me daria protecção para o resto da vida. eu fiquei tão atónito com aquele roubo - ainda estou para saber porque é me deixei levar por um gajo completamente podre sem sequer reagir - que me calei e segui o meu caminho, fodido, obviamente com aquilo. até porque sabia que era mesmo - ele próprio me disse - para mais um panfleto.

esta semana, entrou-me na loja um gajo que tinha tudo menos um ar ameaçador. pediu-me para falar e explicou - numa linguagem perfeitamente imperceptível - que era búlgaro, que não tinha um tusto e que pretendia ir a sintra pois lhe prometeram um emprego para aquelas bandas. o meu instinto primário foi imediatamente recusar - lá está, é o tal medo dos pobres que não o são e apenas aparentam - e, com efeito recusei. insistiu, realmente num péssimo português - eu só entendia: bulgária, sintra, dinero. o resto era tudo corrido a gestos. fazia-me ali falta o iordanov -, pedindo, por favor, apenas dois euros. depois regateou e disse que só precisava de um euro. continuei a recusar. instintivamente ia recusando. ele lá saiu.

e foi pior a emenda que o soneto. pois, por mais que a história não fosse verdadeira - provavelmente era tanga - ter-lhe entregue um mísero euro, tinha-me deixado com a alma mais descansada. a minha vida não se alteraria rigorosamente nada se eu lhe tivesse dado, um, dois ou até dez euros. mas como recusei, fiquei na mesma na dúvida se ele não me queria dar a boca a mais dinheiro ou ao telemóvel - muito habitual aqui na zona - e fiquei por isso com este peso na consciência. peso que poderia ter aliviado com alguns trocos de trazer no bolso.

estúpido!

é isto que me irrita. esta proliferação de histórias de pessoas que se utilizam da pobreza como método para sacar carcanhol para proveito próprio. tudo bem que se faça humor com os pobres. agora o que eu não admito é que se brinque com a pobreza.

estúpido, na mesma!

terça-feira, dezembro 18, 2007

mea culpa? talvez não.

eu já perguntei neste blog: quando é que o bruno alves sai do clube?

e voltaria repetir. uma das coisas que me aborrece no meu clube é esta mania (às vezes boa) de termos que assistir em campo, e na nossa equipa, à evolução e ao crescimento de um jogador.

mas pronto, por vezes basta surgir-nos um nuno gomes pela frente, uma cabeçada e um castigo, para desatarmos a crescer e a ser homenzinhos. agora aquela parte em que temos de andar ali a stepanoviar enquanto eles não se decidem a justificar titularidades é que é do caneco, não é?

segunda-feira, dezembro 17, 2007

festinha de natal

acabo de chegar vindo da festinha de natal dela.

como sempre, as crianças são uma delícia inatingível.

cá fora, havia biscoitinhos, bebidas, broas, bolo-rei. infelizmente não encontrei por lá, lenços para limparmos as nossas lágrimas.

sou contra!

dá ares.

sou só eu que acho que o friday i'm in love tem muitas coisas do anzol?

(sabes, karla, eu acabo por confundi-las todas. friday i'm in love, just like heaven e até o in between days. até ao the top eles ainda tentavam fazer coisas diferentes umas das outras. do the head on the door em diante, confesso, tenho dificuldade em distinguir as músicas deles. mas deve ser, com certeza, culpa minha. de 85 para a frente desinteressei-me deles.)

uma foto, um bídio

já não é a primeira vez que me detenho em frente à tv enquanto está a dar o friends. um misto de curiosidade e de prazer faz-me ficar ali parado, muitas vezes em pé de comando na mão, a meio caminho entre o "ó paizinho, tira a cuca da banheira, tiras?" e o "podes vesti-la?"

a série é gira. tem francamente piada. confesso que ainda não consigo entender o que raio passou pela cabeça das pessoas que,
aqui há atrasado, decidiram dobrá-la para português e emiti-la como se fosse um desenho animado. é claro que mataram o sucesso da coisa à nascença.

por outro lado, não são só as piadas que me fazem ficar parado. parado, fico normalmente porque também vejo aquilo numa altura em que estou mais cansado. eu reparei foi que por vezes havia um fiozinho de baba que por vezes caía no soalho flutuante.

hoje no google percebi o que era.


é por estas e por outras que eu não percebo porque raio a série se chamava friends e não legs.

juro, não percebo.

minha querida jeni, deixa lá o pitt em paz. podes não ter os marmelos da angelina, mas olha que ela também não tem uns troncos como os teus. e és bem mais gira!

toma lá um bídio, filha.



orçamentos

as questões orçamentais como justificativo das diferenças pontuais nas tabelas classificativas, em portugal, só se aplicam em relação ao meu clube.

ou seja, se é eliminado com o fátima, é uma vergonha porque o ordenado mensal, sei lá, do guarda redes ventura, dava para pagar todo o plantel da equipa do escalão secundário.

no entanto ninguém compara o orçamento do meu clube com os restantes quinze que irão disputar os oitavos da liga dos campeões.

pior, nunca ninguém compara o orçamento do sporting e do benfica com os restantes plantéis do campeonato. por isso, deixem-me lá perguntar:
- com esta diferença de orçamentos, não era suposto o sporting estar com muitos mais pontos de vantagem sobre o guimarães, por exemplo? e sobre o setúbal? será que a diferença de dois pontos, por exemplo sobre o braga, não são muito pouco para uma décalage* orçamental tão gritante entre os dois sportings?

* ando seguramente há 3 anos para arranjar maneira de fazer um post onde pudesse incluir esta palavra tão querida nos meios económicos da nossa nação. c'a bonito: décalage. quando conseguir introduzir "período homólogo", acreditem, serei um homem realizado.

dedos

nos anos oitenta ainda me chateava e irritava com o futebol. entretanto a coisa passou, mas nessa altura, normalmente, a guerra maior era com os benfiquistas e, quase sempre, com o zé burrié à cabeça:

- então ó fernando gomes, como é que é? deves pensar que esta ano ganhas aquilo.
- qué que foi, ó galrinho, até agora não ganhaste nada. veremos no fim.

naquele tempo, ao contrário de agora, dizer-se: "este ano o campeonato é nosso, na certa." era algo de arriscadíssimo. é certo que tínhamos as previsões do zandinga - sempre ajudavam muito - mas uma vez ou outra sempre havia um campeonato que lá ia para a luz ou lá se lembravam de meter o allison ao barulho para atrapalhar as conquistas do meu porto e do benfas. por isso, quando o meu clube se lembrava de ganhar jogos na luz distanciando-se dois ou três pontos dos encarnados e o zé burrié vinha com conversas do género:
- então ó fernando gomes, não penses que ganhas o caneco. ainda não acabou o campeonato...
eu, invariavelmente, deixava a matraca fechada, tirava a minha mão direita do bolso, ergui-a bem alto, esticando dois, três ou quatro dedos, consoante a diferença pontual existente na altura.

olho para aqueles tempos num misto de saudade e ternura mas não deixando de verificar que naquela altura as coisas eram bem mais simples. imagine-se agora, com este frio de rachar - seis graus às nove horas da matina, em plena costa do sol, acreditem, é um atrofio - como é que seria se me cruzasse com o zé burrié e tivesse de tirar ambas mãos dos bolsos tendo também de esticar todos, repito, todos os dedos?

com este frio, porrrrrraaaaa! tá bem, tá.

topografia da cidade, sumptuoso personagem

o nelson sargento é um dos maiores baluartes - um termo que ele adora evocar - do samba do rio de janeiro.

escusam de estar à espera que lhes apresente exemplos de coisas conhecidas feitas por ele que, na certa, não irão conseguir identificar. tudo bem, não há crise. digamos que o senhor já leva com mais de oitenta anos no esqueleto e continua aí para as curvas do morro. uma maravilha.

lembrei-me dele porque ao andar por aí a passear na net - raramente navego porque me dá enjoos, prefiro passear - encontrei, quase sem querer, um documentário fantástico sobre este malandro. é um documentário que já tinha visto há cerca de uns bons dez anos realizado pelo estevão pantoja e que retrata duma forma belíssima, o morro da mangueira, o espírito do samba que vem lá de cima, a poesia do nélson e, porque não, um pouquinho da boa onda da favela.

não me vou alongar muito com isto, convido-vos apenas a assistir ao filme, e a deixarem-se levar pelas palavras deste senhor. uma maravilha.





bom, eu disse que não me alongava mas não consigo deixar de mencionar o seguinte. reparem neste trecho do filme. diz o nelson em voz off:


agora, cada pessoa é uma pessoa. eu não sou dado a tristezas não. eu não penso no meu problema mais de uma hora. eu tenho vários. eu penso: bom, vamos fazer isso. vamos, vou tentar aqui, não deu. se não deu aqui, vai ali, não deu. nnenhum dos três deu... ah, amanhã eu penso nisso. vamos ouvir sarah vaughan.


depois entra o encanto da paisagem:

morro, és o encanto da paisagem
sumptuoso personagem de rudimentar beleza
morro, progresso lento e primário
és imponente no cenário
inspiração na natureza
a topografia da cidade com toda simplicidade és chamado de elevação
vielas, becos e buracos
choupanas, tendinhas, barracos
sem discriminação
morro, pés descalços na ladeira
lata d`água na cabeça
vida rude alviçareira
criança sem futuro e sem escola
se não der sorte na bola vai sofrer a vida inteira
morro, o teu samba foi minado, ficou tão sofisticado, já não é tradicional
morro, és lindo quando o sol desponta
e as mazelas vão por conta do desajuste social.


e termina o bom do nélson como seguinte comentário:

isso aí é meio frescura, mas tudo bem. isso é para agradar os possíveis intelectuais que olharem meu samba. topografia da cidade, sumptuoso personagem. bonitinho, né?

jóinha!


no entanto o meu trecho favorito sucede lá após o minuto catorze - podem andar com o cursorzinho para a frente se não quiserem estar à espera -, quando ele diz "a mangueira mudou, mas a mangueira não morre" e surge o eu agora sou feliz. este, curiosamente, um samba do jamelão.

eu agora sou feliz
eu agora vivo em paz
me abandona por favor
que eu já tenho um novo amor
e eu não te quero mais
esquece que você já me pertenceu
que já foi você meu querido amor
aquela velha amizade nossa já morreu
agora quem não quer você sou eu!

que espectáculo, meu deus!

sexta-feira, dezembro 14, 2007

está confirmado

isto é mesmo um dvd.

de caras, desde que puseram os padrinhos em dvd, o mais aguardado lançamento de sempre.

repito, de caras.

pronto, agora só faltam o thirtysomething, o live at the appollo dos hall & oates, o skin deep e não fica a faltar mais nada. ou fica?

(fica sempre)

quinta-feira, dezembro 13, 2007

leões*

ontem, no final do encontro, os jogadores joão moutinho e miguel veloso ofereceram as camisolas à juve leo. aos despois, a claque devolveu-as à procedência alegando que ainda estavam amuados com aquela cena do "não dignificaram a camisola do clube em jogos recentes".

entretanto, a claque informou que foram lá resgatar as camisolas, porque as mesmas continham símbolos do clube.


aqui há uns anos, num daqueles torneios estilo "taça snickers", "taça nike" ou coisa parecida - com malta do milão, do real madrid, equipas assim, de peso -, para aquelas equipas de miúdos de 10 ou 12 anos, o sporting levou uns oito ou dez - bom, não sei precisar, foi uma cabazada - dum desses "colossos europeus". às tantas, na reportagem televisiva, entrevistaram o guarda-redes leonino:
- não ficaste triste por ter levado com tantos golos?
- não, uma pessoa quando veste uma camisola com este símbolo aqui - apontando para o leão no símbolo estampado no peito - nunca se pode sentir triste.
(respeito!)
(o miúdo não tinha sequer 12 anos, pessoal)


percebem a diferença dum leão para o outro?
percebem porque é que eu odeio claques? percebem? vejam o próprio nome da coisa: claque. claque chama-se claque porque é o som que as mãos fazem quando se bate uma palmada mão na outra. desde quando é que as claques existem para controlar, repito, controlar a qualidade desportiva dos atletas? ou para amuar, por exemplo?

* para o meu tio álvaro, o melhor leão de sempre.

terça-feira, dezembro 11, 2007

cão preto

o concerto do milénio (so far)! de caras.

foi ontem! eu estive lá (só que foi há sete ou oito anos, snifff). à falta de melhor, venha o dvd! (e a tourné)

respeito!

(perdão)

muito respeito!


asae

irá a asae proibir a trombada?

e o bico?

segunda-feira, dezembro 10, 2007

cama de princesa




lamento se olho para as outras crianças e não te ache a mais bonita de todas.

lamento se relativizo demais coisas que te dizem directamente respeito.

lamento se olho para outras crianças - assim aquelas mais bem comportadinhas, sabes? - sem evitar pensar que tinha dado jeito teres vindo com menos pedal, com menos velocidade, digamos.

lamento se não consigo deixar de pensar que gostava que fosses sossegada - sei lá, uma vez por semana - o suficiente para ficares assim, no meu colo a ver tv, por exemplo, enquanto ficava ali a fazer-te festinhas nas costas ou fun-fun
nos teus olhos com uma melena do teu cabelo.

sinto por vezes que ainda estou a anos-luz de me sintonizar com a tua frequência radiofónica. és imprevisível, gaita. vê ontem, por exemplo, andavas cansada mas ao mesmo tempo tão feliz que nem fizeste birras. mas logo depois recarregaste baterias e pronto, estavas logo pronta para outra. para outra guerra qualquer. essas de manjerona que gostas de inventar.

lamento se olho para esta ou aquela criança mais dadas a socialismos sem sentir ma certa pena pelo teu aleatório egoísmo.

curiosamente ando a gostar da tua auto-estima. ok, por vezes roças o piroso ou o peneirento, mas havias de ver o ar
com que entrei na sala de educação musical da professora maria helena belém, há uns vinte e tal anos, envergando um equipamento do fê quê pê, para logo compreenderes que não tenho autoridade moral nenhuma para te chamar foleira.

nem sempre estou com pachorra para o fazer mas gosto de te ler histórias. assim, quando vais para a cama, sabes? mas gosto, confesso que gosto. ficas deitada sobre o meu peito e permites que te cheira o cabelo enquanto te conto as façanhas do hércules ou as malvadezas do hades.

mas é quando já dormes que me vingo. sem saberes, vou até lá, ponho para dentro da roupa aquela tua perna que gostas - como eu - de deixar de fora, sobre o edredon quando adormeces e fico a fazer-te festas na cabeça.

ali, sim. umas duas horas após ferrares no sono, quando vou à casa-de-banho antes de apagar a luz lá do quarto da mãe e do pai, passo pelo teu e fico a olhar para ti, iluminada apenas pelo fantasminha azul que trouxemos lá da loja grande que tem aqueles cachorros quentes que tanto adoras.

ali, sim, aceito. ali és perfeita. és a filha que eu gostava de ter. e tenho! és linda, serena, derrotada, cheiras bem, tens aquele respirar que adoro nos bebés. dá gosto ver-te agarrada à tua mana zarolha ou bem de braços abertos e esparramada à balducha sobre o lençol.

é nessas alturas que fico a pensar que um dia peço autorização à tua mãe para me deixar dormir contigo. e tu, será que me deixas? nem, que sejam uns meros 32 minutos. coisa pouca, pá. mas gostava, sim gostava de saber o que é adormecer com esse corpinho tão maneirinho e leve - já disse que é bem cheirosinho, não já? - bem juntinho ao meu nariz.

ontem tentei, sabes? ia apagar a luz da cozinha e fiz-te uma última visita. eram umas duas da manhã e já o teu sono era profundíssimo. deitei-me lá do lado da parede, agarrei-me a ti e fiquei a cheirar-te - o teu perfil é bestial, sabes? tivemos sorte, contigo. hummm, tão bom. e tinhas o cabelo suado qb, exalando mesmo o teu cheirinho bom aqui para dentro do meu nariz.

quarenta e oito segundos depois, caí na real. acordaste e sentenciaste em voz baixa:
- pai, sai da minha cama de princesa e vai lá dormir com a mãe!

fui.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

o tempo perguntou ao tempo...

"são eles é que nos fazem velhos."

esta frase que muitos de nós ouvimos os nossos pais pronunciarem em conversas com outros adultos sempre me fez espéce. gaita! que raio nós fizemos para andarmos a acrescentar anos à idade dos cotas? quanto muito, demos cabo do orçamento familiar com a quantidade de ténis que escavacávamos em futeboladas na rua, certo?

pois é, julgo que só me apercebi do eventual sentido dessa frase quando passei a dizer "há vinte anos". até uma certa altura, dois anos era uma eternidade. quatro anos, então, a duração do ensino primário, era algo que não tinha fim. depois o raio dos anos passaram a ser mais curtos e pior que isso as coisas passaram a perder o seu lugar na moda num ápice. recordo bem, dum gajo amigo ter dito isso: eu senti-me velho, ou melhor, senti que já não era miúdo quando passei a dizer isso mesmo "foi há uns 20 anos.".

fiquei a pensar nessa frase. e pensei também que, quase sem dar por isso, andava a dizer equipas do clube, campeões de há 20 anos. assim, ditas de cor, como o meu tio álvaro dizia das equipas da década de quarenta.

fonseca, gabriel, simões, freitas e murça; octávio,
rodolfo e duda; oliveira, seninho e gomes. parece fácil mas a verdade é que lá por alturas da expo, num jantar de amigos, eu disse esta equipa, assim duma penada. e depois lembrei-me: há vinte anos. gaita, fui apanhado pelo bicho do tempo.

depois vieram as diferenças temporais. e aí a coisa já estava mais parecida com o "são eles é que nos fazem....". às tantas tive uma namorada, uns anos valentes mais nova que eu, uma miúda da geração do cd, que não sabia o que eram maxi-singles. meu deus, foi aí que eu caí em mim e relembrei a frase, dita por um velho irmão, embebida por fluxos etílicos: não achas que andas a desmamar a chavala? ela era realmente bem mais nova que eu...

não sabia o que eram maxi-singles imagine-se.

aqui há dias tive a estocada final. numa conversa com o meu sobrinho, um chavalo de quinze anos, cento e setenta e sete centímetros de massa óssea - já a meter os meus 173 cms num chinelo -:
- mas se queres mesmo comprar um dvd portátil, tens ainda de juntar uns carcanhóis valentes.
- mas, muito?
- sei lá. uns vinte, trinta contos, talvez mais.
- contos? isso é o quê?

ora, eu que não consigo pensar em euros, ouvir um chavalo que eu vi em ecografias, dizer que não sabe o que são contos, fez-me pensar umas quantas vezes. sim, abalou.

não é bem o "há vinte anos", não é bem o "o que é um maxi-single", felizmente ainda não é o "eles é que nos fazem velhos", mas este "contos?" deitou-me abaixo.

buááá!!!!!!!!!!!!!!, quero voltar a dançar o i don't wanna talk about it (a versão do absolutely live, por favor) ou o oh patti dos scritti politti, agarrado a uma gaja qualquer, se possivel no central park do centro comercial são joão de deus.

pode?

quarta-feira, dezembro 05, 2007

quêeeee, o montenegro?????



pára tudo, já disse, pára tudo!

estarei a sonhar? isto significa que a time out vai fomentar a produção do dvd do crime na pensão estrelinha?

será?

hummm, é fruta a mais. aquilo cheira-me que será apenas uma reportagem.

ou não? ai, será?????

terça-feira, dezembro 04, 2007

bibó futebol

eu sabia, mais cedo ou mais tarde haveria de assistir a uma gira do soares franco. esta do veloso e do queiroz acho que lhe fica a matar.

lagartada, já não estão sozinhos: uns têm o pc, outros o orelhas, outros ainda têm o bartolomeu ou aprígio ou os madeirenses do costume. vocês já têm também uma coisa gira com que se queixarem do presidente que têm.

ou nem assim se queixam? ai não? pronto, ok, deixem-se estar assim que estão muito bem.

nota 1) o queiroz tem quantos títulos na sua carreira de clubes? uma taça e uma supertaça? é isso? boa, tantos troféus como o camacho.
nota 2) se o veloso, nas horas vagas, em vez de modelo fosse, sei lá, escritor ou astrofísico também era assim muito censurado? que mal tem, afinal, ser modelo?
nota 3) terá mesmo o nuno gomes noção do que é um prato de sopa? e do que é o cuspo? e ainda mais, do que é cuspir?
nota 4) não estou com fé rigorosamente nenhuma no jogo com os turcos. mas nenhuma mesmo.

benfica campeão

ouvi há pouco na tvi o zé veiga abrir o coração ao povo português.

confesso, estava ali triste a olhar para o senhor e vi que havia alguma coisa que faltava aquele quadro bonito. arranquei um pêlo do nariz e lá me rolou uma lágrima do canto do olho.

agora sim, agora estava tudo bem: o zé veiga a queixar-se do vieira na tvi e eu comovido a chorar.

barrinhas

no centésimo segundo aniversário da trisavó da minha filha - bisavó da minha mulher, avó da minha sogra, mãe do ..... - como habitualmente, fazemos uns dez ou quinze brindes à valente velhota:

- e agora sai mais um brinde à vó mirita!
- yeahhhhhhhhhhhhhh....

este pandã de alegria, é sempre regado com valentes copázios de vinho, e acompanhado por uns quantos frá-fré-fris e por aí fora.

uma vez ou outra - pronto, ok, é sempre. - há um energúmeno - eu - que incentiva a malta a fazer a onda. e faz-se.

à segunda e terceira vez, reparo que a minha filha, ali ao meu lado, ria-se mas não se levantava nem içava os braços:
- não fazes a onda à avozinha?
- NÃO!!!!
- porquê, filha?
- PORQUE ESTOU GRÁVIDA!

pronto, sai mais uma barrinha lilypie ali para o frontispício lá de cima.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

alho vs. cavaca

tenho aqui ao lado, na gaveta, um saco cheio de cabeças de alho.

e não há vez que olhe para lá em que não pense que aquilo parecem cavacas.
e não há vez que olhe para lá em que não fique com uma gula do camandro.

será que o corpo notará muito, se eu enfiar uma cabeça de alho pelo bucho dentro, convencido que é uma cavaca?
e a minha mulher logo à noite, notará alguma diferença no hálito?

tau tau!

venho dos correios, chego ao carro e está um outro a entalar-me a saída.

fón, fón!!!!!!!!!!!!!!!!!

(nada!)

fón, fón!!!!!!!!!!!!!!!!!

(nada!)

dou mais umas seis ou sete buzinadelas e nada. tranco a viatura e começo a fazer uma visita pelas redondezas: uma casa de frangos, um banco, um café.... ai que já me estou a chatear a sério...... outro banco:
(já muito fodido com a situação)
- há por aqui alguém que foi estúpido o suficiente para estacionar em segunda fila?
- um citröen preto?
- claro!
- sim, sou eu. vou já, não demoro.
- não demoro? estás parva? anda já à minha frente! olha me esta: não demoro! deves....
- ai que falta de educação. (virando-se para o senhor do banco) guarde-me isto aqui que eu já venho.

a caminho do carro:
- a senhora está a precisar de tau-tau nesse rabo, estás, estás...
- tens meia-hora livre para me dar?
- achas que já só aguento meia hora?
- ......
- ......

(ai ca nervos!!!!!!!!!)

sábado, dezembro 01, 2007

malandros

o candal ganhou hoje ao porto 2-1. já não há equipas invencíveis no campeonato nacional de júniores.

há dias realmente para esquecer.