sexta-feira, janeiro 30, 2009

artistas

com a esperança com que se mete o boletim do euromilhões perguntámos-lhe há dias, enquanto jantávamos, «o que é fizeste hoje na escola?»

não com a sorte de quem lhe saiu o prémio maior, mas com a de quem fez, vá lá, dois números e uma estrela, com a calma e o desprendimento com que responde a estas questões, disse: «desenhámos os girassóis do van god».

com uma estupefacção igual à de quem viu a odete santos na tv, a ajeitar as mamas no soutien ou a repor o dente postiço no seu lugar, olhámos um para o outro, olhámos depois para ela que enquanto continuava a tentar ajeitar meia forminha de arroz com a faca e o garfo a imitar os adultos e dissémos ao mesmo tempo:

- do van god? oh my god!

e não conseguíamos conter o riso e admiração.

- ó filha, o senhor chama-se van gogh. que giro. e gostaste de pintar os girassóis?
- sim!

e gostei desse teu sim. foi um sim de quem deu a devida e correcta importância à coisa: nenhuma! tanto se lhe dava estar a desenhar os girassóis ou a reproduzir a fotografia do bebé do nevermind.

uns instantes depois, estava a esgotar-se-me o juízo porque andava de faca em punho a fazer plonc, plung, plig nos copos, jarros, beiras dos pratos e garrafas que se encontravam sobre a mesa.

- beatriz, pára com isso!
- plung, peng, ping, qlin, qlin, qlin, qlin, qlin, qlin.... é isso, pai, também desenhámos o qlin.

novamente a olhar um para o outro, desta vez já com a admiração de quem viu quatro números e duas estrelas premiadas no seu boletim, rimos e retorquimos:
- desenhaste também o klimt? mas como?
- foi a sofia que levou lá para a sala para desenharmos.

e aí já não aguentámos mais, fomos à cata dos livros e papeladas que pudessem ter esses desenhos e ela lá foi identificando os que conhecia: os senhores a dormirem a sesta, os senhores abraçados a dar o beijo e por aí fora.

- e conheces este filha?

e foi tão giro ver a admiração dela por estranhar que lá em casa também havia girassóis como os lá da escola, imagine-se!

- estes girassóis não são como os que eu desenhei. os meus - para não variar - eram roxos!

e a coisa passou. e no quarto dela agora também quer os livros que têm "os desenhos que a professora sofia levou lá para a escola".

e eu claro, gosto que ela saiba estas coisas. coisas que só no 10º ano a professora guidinha nos ensinou, em longas sessões de slides.

mas também espero que haja um ou outro professor, que ao longa da sua vida académica, lhe relembre que a holanda não teve só artistas como o van god. artistas, cultura, arte... bom arte é marcar, numa final dum campeonato da europa, um chapéu ao melhor guarda-redes do mundo.

arte também é ser van basten.



e não filha, não estou por aí além entusiasmado com um eventual futuro artístico revelado através destes teus recentes conhecimentos. gosto que os tenhas, é certo. ainda noutro dia viste o guernica e lá voltaste a dizer «este também conheço». e prometi-te que te levava a vê-lo em madrid, como o pai e a mãe o viram: grande, imponente e dramático. mas devo-te recordar que o senhor da securitas que estava lá no musée d'orsay ao lado dos senhores a fazerem a sesta também sabem o que tu sabes. não é por andares mais perto da arte que ficas mais esperta ou culta. mas não te faz mal nenhum, isso não faz.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

a malícia de toda mulher

há coisa de trinta anos houve uma novela chamada dona xepa. a nívea maria, uma gaja com quem eu sempre embirrei porque depois de fazer de jerusa - filha do coronel ramiro bastos que era a cara do meu padrinho que deus tem - na telenovela gabriela, tinha o seu tema musical da ordem. nessa telenovela era o dom de iludir. não cantado pelo caetano, seu autor, não cantado pela gal costa, mas sim pela maria creuza.

esta canção, apesar de me remeter invariavelmente para os finais dos anos setenta, leva-me também para umas férias que tive com a minha bicicle... mulher na praia do forte. recordo-me como se fosse hoje: eu, ela e a minha filha ainda a pulular na secção tomatal da minha pessoa, de volta duns hambúrgueres cheiros de molhanga e mostarda, regados por geladas cervejas servidas naquelas garrafas de seiscentos e tal mililitros (serão setecentos e tal?).

recordo-me de me estar a escorrer pelos queixos abaixo uns rios de molho quando questiono a morena:
- ó pá, como é que é aquela música que me está aqui na cabeça e que uma branca não me deixa recordar qual é? uma que diz «... você está, você é, você faz, você quer, você tem...»

a morena sabia. e eu passei o resto dessa semana a cantarolá-la. e finalmente a jerusa deixou de ser a cara do dom de iludir para passar a ser a cara dum boteco lá na praia do forte que, curiosamente, agora é uma loja de roupa.

há pouco, de volta das contas do casal, olho para o caralho dos números e não percebo porque razão faltam ali alguns algarismos. dou voltas e mais voltas e a razão não me assiste. tinha prometido já no ano passado, juntar dinheiro aos bochechos para lá voltar, à praia do forte do dom de iludir, mas concluo que nem com bochechos vou lá.

que merda, queria tanto lá voltar nem que fosse de dois em dois anos, vá lá.

pronto, mudemos a periodicidade para uma coisa mais olímpica, digamos. voltamos em 2012.

com sorte, já me saíram uns trocos nos jogos da santa casa e acabo mas é por ficar lá dois meses.

tunga!


quarta-feira, janeiro 28, 2009

o meu bairro

a minha terra chama-se picheleira.

o nome é habitualmente motivo de gozo porque as pessoas não podem ver, ouvir ou ler uma qualquer palavra que tenha uma qualquer relação com coisas sexuais - nem que seja no que respeita à sonoridade das palavras - que desatam logo com um nervoso miudinho, que as leva a expelir risinhos nervosos, fazendo-as ficar parecidas com um bando de hienas.

sucede assim com a minha querida picheleira, com a buraca, com a própria picha, com a coina, com a venda da gaita, com o posto sanitário do rego, com essas coisas, não é?

algumas pessoas - parvas e provincianas - têm pudor em referir-se à sua origem como sendo da picheleira. ou porque têm vergonha do nome, ou porque, bem sei, os interlocutores ficam logo com aquele ar de "ui, da picheleira? isso é barra pesada, não é?", ou porque no tempo dos meus pais os táxis nem à picheleira iam, ou porque a telepizza não entregava na picheleira, ou porque se sentem de algum modo inibidos porque não sabem sequer o significado duma origem. é a vida.

a pior coisa que aconteceu aos habitantes do bairro

nunca me considerei "picheleirense". quanto muito era vitoriano, como um dia expliquei aqui.

foi terem um dia vindo uns caterpillers amarelos abrir uns buracos lá para os lados dos prédios da mira fernandes e da rua larga num sítio que tinha uma serração, para servirem de caboucos a uns prédios que o presidente do benfica iria para lá construir. ora sucede que para essas bandas havia lá uma quinta que tinha umas olaias e, imaginem, chamava-se quinta das olaias. esses prédios cresceram, a urbanização ficou mais desenvolvida, fizeram um centro comercial todo catita e alguns parvos habitantes do meu bairro desataram a dizer que moravam nas olaias em vez de morarem na picheleira.

conheciam uma gaja e "ah e tal, eu cá moro nas olaias." para dar aquela pala, não é?

e depois, com medo do nome ou coisa que o valha, tudo passou a ser olaias. alguns autocarros passaram a dizer olaias, as indicações aos automobilistas no alcatrão passaram a dizer olaias e até construiu-se uma escola, bem longe da antiga quinta das olaias e chamaram-na de, claro, escola das olaias.

depois há as variações. recordo-me de um gajo que andava a tocar aí em bares e que se a memória não me falha, é actor de novelas, que um dia me disse no atéquenfim:

- eu moro nas olaias sul.
- sul? - perguntei?
- sim.
- em que rua?
- na faria de vasconcelos.
- mas assim sendo, estás mais perto do casal do pinto que das olaias. quanto muito, caso não gostes do termo, dizes que moras no casal do pinto norte.

reparei que não percebeu.

ontem, olhei para a tv e no telejornal vi a minha escola da primária. levantei o som do aparelho e estavam a explicar que apanharam um pedófilo, carteiro, que mora em frente à escola e que a troco de uns euros, convocava a garotada para lá ir a casa mostrar uns filmes pornográficos e servir como modelos nuns outros filmes também. ora segundo a notícia, a coisa passou-se nas olaias.

por muito que isto não me orgulhe, tenho de ser vertical para o bem e para o mal. por isso, a coisa não aconteceu nas olaias. daquele local às olaias, é quase tanto como, sei lá, do campo pequeno ao saldanha, ou do saldanha ao marquês de pombal. para mim, infelizmente, aconteceram na picheleira. ou, quanto muito, aconteceram na quinta dos embrechados.

e lá estão vocês: ihhh que raio de nomes. picheleira, embrechados....

pois, mas se for assim a linha do pensamento vejam lá que nome gostariam de ter ostentado na vossa morada, embrechados ou lapa?

lapa


s. f.,
grande pedra ou laje que, ressaindo de um rochedo, forma um abrigo;
gruta;
cavidade;

Zool.,
molusco gasterópode univalve que adere aos rochedos;
pedra solta;
calhau;

pop.,
bofetada.



embrechado

do Lat. * imbliculatu < imbricula


s. m.,
ornato de conchas incrustadas nas paredes das cascatas e jardins;

fam.,
pessoa considerada um empecilho;
visita ou hóspede importuno;
(no pl. ) embutidos.



uma coisa gira, pertantes: ah e tal, eu moro mesmo ali ao lado da tia cinha, moro no bairo da lapa, perdão, da gruta ou da cavidade. ou mesmo da bofetada.

que bonito viram?

tenho saudades do raio de frase que durante anos foi uma espécie de grito de ipiranga, perante estas merdíces destes disfarces nas origens: a picheleira é linda!

lá está, a picheleira!

terça-feira, janeiro 27, 2009

gosto tanto desta capa


é que são as coisas do lisandro, são as do baía, são as do maxi lópez, são...

blhec!

haverá cheiro pior de desentranhar do corpo que o pivete do salmão?

é que nem com perfume, nem com sabonete, nem com nada! só com um cheiro que seja pior.

alho, talvez.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

ai luiz, deixa-te estar lá deitadinho e não dês voltas no túmulo, está bem?

curioso em relação ao baralho de cartas que o zé delgado iria atribuir hoje no jornal da bola - dá um duque ao árbitro do jogo do clube - uma vez que me recordo das cartas que deu aquando da arbitragem do seu benfica aqui há semanas, olhei para a sua página da bola e o que me espantou mais foi um bitate que ele manda lá a um gajo que já não me recordo quem.

recordo no entanto uma citação muito bonitinha que ele atribui a um tal de chico sá de miranda - estão a ver quem é, não estão? -. diz o ilustre jornalista - cof, cof, - que foi o sá de miranda que escreveu «um fraco rei faz fraca a forte gente».

gente esperta.

calem-se, porra!

agora que já todos os clubes se sentiram prejudicados e também beneficiados - bom, beneficiados a gente nunca se sente, não é? - não é chegada a altura de se começara a falar, sei lá, por exemplo, de golos, de jogadas, de tabelinhas, do hulk, daquele gajo que defende a baliza do leixões que não me lembro o nome, do golo do vuk contra o marítimo - continuo a olhar para aquele nó do liedson a ficar abananado. é que gostei mesmo dessa jogada, pá -, de tanta, tanta coisa gira que vai acontecendo... era giro ou ou não?



alguém é capaz de referir em voz alta que as transmissões televisivas da bola em portugal não vale um caracol. e não falo só dos jornalistas, falo desses e também dos camaras e dos realizadores.

pergunto, alguém consegue ver a bola a bater no braço do guarin, no jogo contra o braga? reprem, eu nem estou a dizer que não bateu. calma, nada disso. eu pergunto é se vêem nas repetições ela a bater. há uma repetição, então, que eu adoro: vê-se o jogador do braga a rematar e depois vê-se a bola a sair da imagem, se se ver o guarin. e então a imagem é repetida vezes sem conta. estão à espera de quê? esperam nós imaginemos que ele está ali, do lado esquerdo do ecran - assim, junto a uns livros que eu tenho ali ao lado - a levantar o braço para mudar a trajectória da bola. ai, ri-me tanto, caramba!

sexta-feira, janeiro 23, 2009

no line on the horizon

terá alguém avisado os u2 que os primeiros, sei lá, trinta e tal segundos do get on your boots é mais coisa menos coisa uma espécie de decalque do vertigo?

quinta-feira, janeiro 22, 2009

natacinha parte dois

deste pequeno clip eu retiro algumas conclusões:

- a minha filha pode ser francamente fraquinha. mas duvido que haja muitas crianças que saiam dum chapão como estes que a obrigam a fazer com a suplesse dum golfinho a quebrar uma onda.

- são notórias e visíveis a olho nu, a miríade de doenças que esta piscina, por exemplo tem. há ali, no segundo 17 deste clip, uma altura em que se vê uma ténia mesmo ali ao lado, na pista dois.

- qualidade da imagem do telefone da minha mulher, é quase tão boa quanto a das transmissões da sport tv efectuadas no estádio da choupana.

- gosto francamente daquele gesto técnico, aquele que parece o camões agarrado ao manuscrito dos lusíadas, quando naufragou lá para os mares do oriente


segurança

se a memória não me falha, os meus pais levaram-me à escola, quanto muito, aí umas cinco vezes.

e digo cinco porque já estou a dar aqui uma boa margem de erro. afinal andei na escola muitos mais anos do que devia e posso estar aqui a falhar uma ou outra vez. além disso estou aqui a colocar de parte, todas aquelas vezes em que o meu pai me fez o favor - há dias em que uma pessoa devia jogar no euromilhões - de me dar uma boleia. ora, toda a gente sabe que «dar uma boleia para a escola» não tem rigorosamente nada a ver com «levar-nos à escola».

por isso, eu recordo-me de ser acompanhado à escola no meu primeiro dia de aulas da primária, na escola 28-40.

dois, quatro, seis, oito, viv' á'scola vin tioito!
três, cinco, seis, sete viv'á nossa caminéte

e lembro-me muito bem do meu pai estar à porta da sala 5 - a que tinha o quadro com pautas de música - a conversar com a dona guilhermina, mãe do meu zezinho, também no primeiro dia de aulas da preparatória, lá na cesário verde.

tirando isso, não estou a ver mais ocasião nenhuma.

bem sei que os tempos eram outros, bem sei que na primária eu vivia a uns bons cento e setenta e quatro metros

medi com o googal arse, juro!

da escola, bem sei que àquela hora havia uma autêntica procissão de pais, alunos, professores, o chalana do casal do pinto,

foda-se, o chalana do casal do pinto merece um cabrão dum post, não merece?

senhoras contínuas,

contínuas, por exemplo, tinha lá uma tia e uma prima

etc. havia gente suficiente para nos amparar no caminho da escola.

por outro lado, é bom não esquecer que: parte da minha primária foi vivida em pleno prec, andei na escola na parte da manhã e toda a gente sabe que a alimentação matinal dos comunistas é constituída à base de criancinhas. por isso a coisa não era propriamente e totalmente segura.

adiante.

esta coisa da segurança ter aumentado ou diminuído nestes últimos trinta anos tem muito que se lhe diga. a minha geração escolar lá do bairro, por exemplo, sofreu as agruras da localização geográfica do parque escolar. a primária estava em plena quinta dos embrechados, um bairro de barracas onde vivia lá de tudo: gente boa, gente má e, adivinhem, sim, isso mesmo, ciganos. a preparatória, estava ali mesmo ao lado da curraleira, onde vivia lá de tudo também:
gente boa, gente má e, adivinhem, sim, isso mesmo, ciganos. por essa razão, meus caros, o pessoal da minha criação teve a felicidade de ter sido educada com pancada e bagaço por parte dos pais e pancada e gamanço por parte dos nosso queridos ciganos que, deus me livre de dizer mal deles se não vem logo o senhor louçã e as irmãs da caridade e mais não sei quem falar na desintegração social e na problemática da realidades sociais dos excluídos e das minorias e mais não sei o quê e afinal estou aqui a pensar e até a casa dos meus pais foi visitada por eles e no fundo foram uns bacanos porque pronto levaram o ouro todo que por lá havia - não era muito, ok - e mais um dinheiro que os meus pais que eram uns malandros duns burgueses que se lembraram de juntar imagine-se a trabalhar - muito parolos estes pais - mas dizia eu que os ciganos que nos assaltaram a casa foram uns porreiraços porque também nos levaram a máquina fotográfica mas tiveram a decência de nos deixar a tampa da lente e é curioso que uns dez anos mais tarde voltaram a roubar-nos o material fotográfico que entretanto tínhamos comprado e aí sim foram competentes porque levaram a máquina e as lentes e as vírgulas deste parágrafo e não se esqueceram da tampa das lentes.... adoro ciganos, no fundo!... venham-me agora falar que nestes 30 ou 40 anos a insegurança aumentou que eu vos fodo!

a minha filha ontem sentenciou à mesa:

- amanhã vou sozinha para a escola.

e a forma como ela disse aquilo arrastava uma certa assertividade no acto. eu tenho para mim que o tom que ela deu à frase transformou-a num «deixem-se de paneleirices os dois que eu amanhã vou MESMO sozinha para a escola».

- mas, ó filha, está a chover e tal e olha que a escola ainda é um bocado longe, pá.
- não quero saber. eu já sou uma audulta e por isso vou sozinha para a escola.
- é pá...

este é pá foi assim naquele tom calmo e paciente de pai instruído por anos de leitura da revista pais & filhos e artigos de psicologia infantil desses mestres que as mães gostam de citar.

... mas, ó filha, e a chuva, pá? olha, fazemos assim, eu dou-te boleia quando for para o trabalho, abro a porta do carro bem perto da passadeira dos peões e depois tu lá vais.
- não
- então?
- eu é que abro a porta do carro sozinha e tiro o cinto da cadeirinha também sozinha. eu já sou uma audulta.
- seja.

hoje, pelo caminho, ia dizendo «vá deixa-me aqui.». e mais à frente, «pronto, já andaste muito, eu já sou uma audulta, deixa-me então aquiiiiiii»

e já mesmo pertinho da escola:
- mas ó filha e como é que tu consegues tocar à campainha?
- espero que chegue alguém e peço para tocar.

deixei-a a uns 30 metros.
saiu sozinha e disse «pronto, adeus.»

- oi, oi, oi, oi, oi, alto lá com o charuto. então e o beijo ao pai? então e o chapéu de chuva?
- ...
- vá, olha bem para os carros na passadeira, pá.
- eu sei, olha eu a olhar.
- mas tu nem consegues fechar bem o guarda chuva, filha...
- eu peço a alguém.
- mas ó filha...

não conseguiu fechar. pediu a alguém. pediu para tocar à campainha.

entrou!

ainda não tem 5 anos.

daqui a nada há-de estar ao lado dum gajo ou duma gaja qualquer - sim, que eu acredito que quando chegar à altura dela, até os vasos de plástico poderão casar. já com os vasos de barro tenho as minhas dúvidas. - em frente a um notário lá no cartório e eu só espero que, pronto, espero que eu e a mãe sejamos convidados.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

o joão aguardela morreu!

agora que o senhor morreu, haja alguém - eu! - que lhe faça, duma vez por todas justiça:

a canção "a noite"...

se não estão a ver a coisa eu ajudo «ela sorriu e ele foi atrás, ela despiu-o e ela o satisfaz. aqui ao luar, ao pé de ti, ao pé do mar......»

...não é dos resistência e também não é dos xutos. é dos sitiados!

entendidos?


sexta-feira, janeiro 16, 2009

memória

acho piada essa tua fixação pelo teu passado.

bom, estou, claro, a exagerar. fixação pelo passado tem o pai. um dia, quando leres este blog - não leias! sério, filha. - hás-de notar que o teu pai gosta de recordar as coisas antigas. repararás também que escrevo cheio de palavrões, mas isso são outros trezentos.

mas gosto desse teu gosto em revisitar as tuas fotos: de como me pedes para te mostrar aquela onde ainda tens
a mola de plástico presa ao cordão umbilical e que, durante uma semana, andei a desinfectar - coisa que me fazia ter uns arrepios ali naquela zona que fica entre a braguilha e o bolso traseiro das calças, assim como quem faz o caminho pelo meio das pernas, entendes? -; de como me pedes para te mostrar aquela outra em que está a avó ana a dar-te banho; ou aquela em que tens a coroa do dia de reis, sabes? que até tens aquele casaquinho todo fashion que a tia te deu...

hoje até quiseste levar o teu álbum pequenino para a escola. tinha lá aquela foto onde estás a dormir ao lado do afonso. gostei da justificação que deste para o facto de achares essa foto tão importante «é para mostrar à sofia que eu quando era bebé já sabia dormir.» (que maravilha!)

ahh e adoro o ar de caso que assumes quando estás a ver vídeos onde sejas protagonista. ficas meio envergonhada, não é? tu não tens noção, mas nunca imaginarás os benefícios que a fotografia digital e esta gaita dos dvd irão fazer à tua memória. praticamente, poderás ter todos os momentos
da tua vida registados, sabias?

às vezes gostava de ter um baby-blog daqueles a sério. mesmo com florzinhas e estrelinhas que piscam quando passamos com o rato sobre os textos. juro! por que gostava mesmo de anotar algumas coisas inusitadas e que são a tua identidade. juro que não estou a gozar. tenho a certeza que 90% das crianças cujas mães fizeram baby-blogs, irão ficar para sempre agradecidas pelo facto de ter havido alguém que foi registando essas coisinhas, mesmo que tudo tenha sido colocado à mostra de quem quisesse ler. os 10% que não ficarão agradecidas são aquelas criancinhas que ao crescer, transformar-se-ão numas valentes cavalgaduras.

por outro lado, sinto que as coisas que mais gosto em ti não são registáveis. não falo que tenham de ser reservadas. não, nada disso. digo isto porque as coisas que mais gosto em ti são as coisas ditas "normais". são aquelas que te fazem ser uma criança igual às outras. as que te distinguem das restantes crianças toda a gente conta e acabam por passar de boca em boca. acabarás por saber, mais tarde, essas tuas traquinices, da mesma forma que eu também sei: a história que relata o dia em que o teu avô diniz despejou dois esguichos de mostarda sobre a minha língua; o dia em que o pai arreou com uma chave de madeira na pinha da tia cila, num dia de procissão em que estávamos vestidos de são pedro e santa teresinha... e por aí fora.

essas coisas são as que ficam para memória futura.

eu gostava era de conseguir registar as coisas mais simples: os teus esforços para comeres com faca e garfo; a dedicação e a forma séria com que brincas com as teus bonecas e as transformas em filhas; aquela coisa de seres uma princesa em casa das outras pessoas e uma rebelde cá em casa - obviamente, mea culpa -; o mistério que é o facto de comeres tomate ,
alarvamente - sem exagero -, em casa da avó e de nem se quer lhe tocares cá em casa; os carinhos que exiges ao pai ou à mãe quando apagamos a tua luz; e os livros, pá! gosto tanto que sejas tão ligada nas histórias que nos obrigas a contar antes de adormeceres; a ratice que te faz começar a marimbar para a história que te estamos a contar quando ela chega bem perto do fim e começas logo a atalhar para a história seguinte «e nesta aqui, pai? conta-me lá o que é que a cabrinha fez?», só para poderes adiar o momento em que te "desligamos o quadro".

gostava de me recordar de tanta coisa, pá: coisas que não ficam em fotografias e que os videos não lhe darão justiça, sabes?

o teu cheiro a catinga e a ciganos quando te recolho na escola ao final de tarde ou aquela linguagem tão engraçada, que inventas quando desatas a cantar as canções do mama mia. pareces a tia cila a cantar quando não sabe as letras - nunca sabe!. ficas tão gira.

estou agora a lembrar-me disso e estou cheio de pena. caramba, sabes, eu recordo-me perfeitamente de ter partido a perna quando ainda nem dois anos tinha, mas gostava de me lembrar melhor, por exemplo, do deslumbramento que acontecia quando, por alturas do natal, o avô diniz me ia mostrar as montras do grandela, repletas de enormes e sofisticadas construções de lego.

não que esteja esquecido por completo. nada disso. mas são já fracas memórias
na minha alma, com pouco pormenor e muito desfocadas.

adiante.

tens uma colega de sala que tem problemas mentais graves. há dias, ficou a olhar para mim, sozinha, no corredor, enquanto me dizia adeus. e eu ali, também, a responder àqueles gestos, sem saber muito bem se aquela resposta lhe estava a fazer algum efeito ou não. na dúvida fui sorrindo. ao mesmo tempo fui acelerando os pensamentos com aquela coisa do «e queixas-te ainda tu das dificuldades que a tua filha te dá e mais não sei o quê...».

fiquei à rasca com aquela cena e dois segundos depois encontro a tua educadora. queria-me contar umas coisas boas sobre ti. estava perturbado demais para ter feito um uso positivo às palavras que ela me ia dizendo. só pensava no raio da tua colega, coitada. e pensava nos pais da tua colega.

perdoa-me mas,
como sabes, não tenho jeito para as coisas elogiosas que dizem sobre ti. elogio, elogio é olhar para ti e saber que não ficas com aquele ar abesbílico que a tua colega assome, ao dizer-me adeus quando me afasto da tua salinha. elogio é ir-me embora ainda com o barulho dos teus guinchos de alegria que provinham das brincadeiras com as tuas amiguinhas. isso é que é um elogio.

sabes, um dia conto-te o que a tua educadora me disse sobre ti. revejo-me em ti na forma como te reservas e não nos contas nada das coisas boas que acontecem contigo ou dos teus sucessos escolares. se calhar, vai na volta, fico mais orgulhoso porque és: uma peste, dura de roer, que me obrigas a levantar-te a voz diariamente, que não sejas medricas com os animais, que sejas uma miúda com muito, muito, ginete e que já saibas ir à chinchada à fruta.

gostava de não perder a memória sobre ti. a memória deste tempo em que andas a betumar as tuas fundações.


fun fun

é francamente absurda, a quantidade de cabelos que se encontram pelo chão de uma casa. eu bem sei que até nem sou, felizmente, dos que, por lá por casa, largam mais pelo, mas caramba, encontro cabelos em locais que eu tenho a certeza que nem a minha mulher nem a minha filha por lá andaram.

poooooooorra!

quarta-feira, janeiro 14, 2009

blues in the 20th century

para o meu zezinho

bem no meio dos anos oitenta, lá por volta de 1986 ou 1987, o steve miller decidiu gravar um disco com algumas versões de umas rockalhadas e duns blues, na sua maioria do jimmy reed. esse disco chamou-se living in the 20th century.

uns anos mais tarde, no final do verão de 1990 ("o verão dos verões"), ali em setembro, entrei com a minha namorada e o meu compincha zé, na cave do atlas que ficava na lousã.

quando damos por ela, estava a dar na televisão uns telediscos de blues - era a nossa perdição na altura - bem acatitados. industriado pelo meu companheiro de noite masculino, soube então que aquilo era uma repetição duma cena que já tinha sido transmitida na tv, durante essa semana. disse-me ele que aquilo era sobre uns blues que o steve miller tinha gravado e que a coisa tinha "muita pinta". recordo perfeitamente de ele se estar a referir às palavras do cantor em relação aos penteados que se usavam nos anos cinquenta: a poupa, a cauda de escorpião...

não voltei a rever aquelas imagens, mas ficaram as memórias dum som muito bem esgalhado, com umas harmónicas a rasgar as malhas da guitarra, tudo filmado num black white muito joly. um mimo.

somente no ano seguinte consegui encontrar esse tal disco que continha as músicas que ouvi lá no atlas, o qual foi comprado, presumo, numa das minhas investidas à frineve do areeiro.

que maravilha! estavam lá todas:: ain't that love in you baby, big boss man, caress me baby (um tesão de canção), i wanna be loved...

adoro, adoro este disco. tenho é muito pena que ele não exista com grande abundância aí pelo mercado. mas também sei que fizeram uma reedição que anda à venda nas amazónias desta internet.

o iu tube andou meio desmazelado em relação a este tema. bem sei que não há edição nem reedição do vídeo a que me refiro nos primeiros parágrafos. aquilo chamou-se blues in the 20th century e pelo que vasculho, além de vhs existe uma edição em laser disc. sei-o porque encontrei este artigozinho aqui. agora à venda nas lojas? nicles! nicles batatóides!

mas caramba, numa altura em que se edita em dvd tudo o que mexe, nunca compreendi porque razão isto não apareceu ainda por aí. é que a imagem é bestial e podiam muito bem espetar um sonzinho cristalino à coisa. nada de cinco ponto um ou sete ponto um. para mim, para se ouvir blues, bastava-me um simples e adequado estéreo que fizesse bombar estas valentes batidas que finalmente encontrei no amigo iu tube.

inté me arrepiei, caraças. após quase 20 anos, voltei a rever estas imagens. isto meus amigos é sublime.

blues como deviam ser todos os blues.

siga o baile.







este é a sequência completa do filme. são apenas 27 minutos. é uma coisa minorca e tudo. que porra, até tem o james cotton na harmónica caralho!

senhores editores, ponham lá isto no mercado, pode ser?

o zé, tu recordas-te que depois de sairmos do atlas, depois da padaria, em vez de regressarmos por serpins, fizemos o long way home e demos a volta pela ponte de sótão e por góis, sempre, sempre a ouvir o just one night? lembraste, pá? até a ana veio para a frente. o japonês aguentou-se com todos nos bancos da frente sempre ali pela serra. devagarinho para conseguirmos ouvir aquela sequência que tinha o wonderful tonight, o if i don't be there by morning, o worried life blues e terminava com o all ou past times? que maravilha! e já agora, não falemos do comportamento dos travões do japonês nos dias mais próximos a esse evento.

biblia

por estas e por outras é que o west wing foi mesmo a melhor das melhores.



os que têm dificuldade, como eu, em entender tudo o que o senhor vai dizendo, devem clicar aqui.

a minha esquisitice em relação ao desempenho de certos actores nota-se em pequenos detalhes. eu, por exemplo, sempre gostei do toby. e neste clipezinho reparo que ele faz um gesto, quase que involuntário, de encolher ligeiramente os ombros enquanto está ali a ouvir o seu presidente. um actor qualquer, ficava, digo eu, simplesmente ali, quieto. gosto.

"nahhh, eu cá é que sei como é que as coisas na realidade são"

neste momento estas são as coisas que gosto de ouvir pessoas a discorrer:

- crise económica
- faixa de gaza
- comentários do cardeal patriarca (sobre esta então, adoro!)

gosto, confeso que gosto.

(contudo, tenho saudades dos grandes tempos que que se debatia sobre a invasão do iraque, os cubanos em angola, a licenciatura do sócrates, timor, a velocidade do michael thomas ou do paula almeida e por aí fora)

broa como o milho

as pessoas que dizem "boas como o milho" não quererão realmente dizer "broas de milho"?

é que o milho ser bom? minha nossa senhora, blhec! eu não estou a dizer que é mau, mas reparem: estão a ver a mónica bellucci ser tão boa como o milho do hollywood foster's ou como, sei lá, uma embalagem de corn flakes?

e dumas broas? não que as broas sejam tão boas quanto a mónica. mas na verdade eu nunca provei a mónica, mas já provei umas broas que me disseram estão a caminho daqui da pança do je. e sei do que falo.

venham elas!

terça-feira, janeiro 13, 2009

o melhor eu sei que vou te amar

eu até sei precisar a altura em que isto aconteceu: falamos do reviralho de 1992 para 1993. ocorreu na ade, uma aldeia do distrito da guarda p'radonde o grupinho que eu tinha na altura fugiu para celebrar condignamente o novo ano.

fui para lá numa viagem de comboio e estive uma boa meia hora, sob um demoníaco barbeiro sibérico, sozinho, na estação de caminhos de ferro da cerdeira, a aguardar que me fossem recolher. foi o ano em que ouvíamos incessantemente o live dos ácê faísca dêcê, foi o ano em que íamos a butes até ao monte perobolço - terra dum jornalista desportivo dos que eu até gosto mas que agora não me lembro o nome - para beber café e foi o ano em que... em que muitas coisas giras aconteceram também.

antes do regresso para lisboa, almoçámos uma frangalhada ali para os lados de castelo mendo e foi aí, já na altura em que ao balcão, com o tito, bebíamos uma cafezada que olhei para a televisão e lá estava ele, num especial sobre o tom jobim. imponente, ali, no quadrado daquela televisão salora, saíam imagens do caetano veloso a cantar o eu sei que vou te amar. e recordo que sonhei esperançado que o meu pai estivesse a gravar aquilo. não gravou, temos pena.

era o meu eu sei que vou te amar favorito. um eu sei que vou te amar igual a um outro que eu ouvia em coimbra, numa puta duma manhã também fria como tudo, uns três ou quatro anos antes.

melhor que o do vinicius, melhor que o do tom jobim, sem sombra de dúvidas melhor que o da simone, incomparavelmente melhor que o da gal costa e do roberto carlos. isto já para não falar duns eu sei que vou te amar que ouvi em tempos pela dona alice caneças (credo!) e por um ou outra participante do big brother (credo, credo!) que a minha memória teve a gentileza de esquecer.

é o meu eu sei que vou te amar favorito porque é igual ao do meu primeiro eu sei que vou te amar. porque é um eu sei que vou te amar que tem um «eu sei que vou sofrer» num falsete que é mesmo sofrido, como devem ser todos os falsetes do mundo.

e podia também referir este eu sei que vou te amar - ou este que também gosto muito -, mas nenhum enxerta aquela parte do dindi duma forma que eu não ouço mais ninguém a enxertar.

em 1989 isto nem sequer era brega, hoje brega é esquecermo-nos que isto é de 1989

consegui, achei e nem te perdoo se não vires isto com um sorriso nos lábios. repara que esta cena nunca foi uma coisa romântica ou pelo menos não simboliza uma coisa romântica nossa. esta cena, curiosamente, para mim, recorda-me o meu pai e as coisas que ele foi fazendo - e faz! - que o tornam um imenso caracter.

como, por exemplo, lembrar-se de gravar numa basf de ferro encarnada, através dum gravador grundig daqueles que usei para o zx sinclair cinzento, assim, presumo, sentado junto da nossa televisão, enquanto fazia um esforço tremendo para manter um silêncio sepulcral que não afectasse a gravação.

e depois, olha, há aquelas frases que repetimos milhares de vezes. porque aos 30 anos, em vez de certas pessoas brincarem às caricas ou às bonecas, divertido mesmo era brincar aos programas de natal do roberto carlos. isto claro, quando não chegávamos ao ponto de brincarmos de faustão.

e para sempre estas frases, lembras-te?

- ... minhas e do erasmo, maurício duboc, carlos colla, isolda...
- isolda!

- eu viajo no teu oceano, eu viajo no teu mar...
- ahhhh, que maravilha.
- ... eu gosto desse barco que viaja pelo infinito...
- que bom que a gente...
- ... eu faço parte dele.
- que bom que a gente está no mesmo barco.
(e aquela gargalhada. a gargalhada que parece um motor de barco com os platinados marados)

- eu cantei, eu cantei coisas assim como «eu te proponho... nós nos amarmos...
- nos entregarmos...
- se você pretende, saber quem eu sou
- eu... posso lhe dizer...
- no seu corpo é que eu encontro, depois do amor... (e o encosto de cabeças. que maravilha!) o descanso...
- (ambos) e essa paz infinita!

- e outras coisas bonitas...
- como o quê, por exemplo?
- como... você foi...
- ui! (este ui esmaga-me)



segunda-feira, janeiro 12, 2009

atalhos

maluco por mapas, google earths, plantas e mais não sei o quê, gosto qaundo descubro atalhos que me fazem encurtar o tempo de percurso entre dois locais.

gosto mais quando o faço sem ajuda da net nem nada. assim, apenas numa tarde de domingo, enquanto fazemos tempo que a miúda durma uma soneca lá no banco de trás.

será para sempre um mistério, a rede viária que se encontra naquele espaço circunscrito entre o ic 19, a marginal, a estrada do autódromo e, vá lá a cril. nunca, nunca hei-de perceber aquilo.

contemporâneos - e eu prometo que não falo mais sobre os rapazes. eu ainda por cima gosto deles, juro!

eu já tenho poucas metáforas para associar à minha relação com os contemporâneos. toda a gente diz que é bom, toda a gente diz que é fixe, toda a gente se ri e chegamos então à conclusão que o problema está é em nós. nós é que não achamos piada, pronto.

mas mesmo assim andamos ali de volta do comando, aquilo passa lá pelo canal um e acabamos por parar um bocadinho. já sabemos o que é que vai sair dali, mas ainda assim ficamos a olhar e o resultado... bom o resultado...digamos que aquilo me recorda as escarretas repuxadas dos velhos: nós sabemos que aquilo é uma nojeira que nos fará agoniar. ainda assim, ouvimos aquele barulho do velho a repuxar a garganta, vamos a caminhar em direcção a ele, escutamos a projecção do escarro, tentamos não olhar mas é inevitável, acabamos por olhar lá para aquele monte de gosma que mais parece um ovo verde cru. só que não tem casca, pronto.

casa aliviada

há pouca coisa tão libertadora quanto deitar para o lixo coisas que julgávamos vir a precisar, não precisámos e odiámos que tivessemos necessitado de cinco ou oito anos para termos percebido isso.

verão de 1987 - knight moves

o segundo melhor verão dos verões do tempo em que ainda se contavam verões.


desmancho

enquanto lhes desmanchava a árvore de natal, recordei-me naquelas vezes que tinha de catar carraças ao meu cão preto.

não encontro gesto mais parecido àquela coisa de tentar arrancar as putas das bolas, das estrelinhas e das séries de luzinhas do porcaria dos pedacinhos de plástico lá dos ramos da árvore.

(cada vez mais a favor dos presépios. cada vez mais com saudades da inquisição.)

e o chão cheio de coisinhas verdes entravincalhadas em tudo o que é sítio? e quando se entalam sob o rodapé e nem à laia de aspirador conseguem sair?

w

porque é que todos as minhas passagens de ano têm uma frase lapidar?

"o whisky começava por w e terminava em uílliam."

o efeito "barraca da brahma"

- paizinho, viste aquelas pessoas que atravessaram a rua à frente do carro?
- ... não me lembro. o que tinham?
- não te lembras? eram assim, pretinhos. eram pessoas pretinhas.
- ahhh, muito bem, já me recordo, foi ali perto da pastelaria ribeiro. aquela que até tem um veado, não era?
- sim. sabes pai, as pessoas pretinhas são as pessoas que eu mais gosto no mundo. gosto mesmo de pretinhos.
- pronto, está bem.

e das duas uma, ou me aparece um genro com um sardo enorme daqueles que roçam a tola nos joelhos ou terei pelo menos uma comadre que me fará umas almoçaradas com amboa ou besungué ou esses pratos que me deixam a salivar. mnham, mnham...

domingo, janeiro 11, 2009

este campeonato está viciado*

e no final dum jogo de que já não me recordo, o vítor manuel, entra no campo a correr, vai em direcção ao árbitro e trocam ali umas palavras. as imagens mostram gestos exaltados entre os dois homens e vêem-se no final uns cumprimentos de cortesia.

no flá chinterviú o jornalista mete veneno nas palavras e pergunta-lhe:
- viu-se ali mosquitos por cordas entre o senhor e o árbitro, quer comentar?
- nahhhh, nada disso. tão simplesmente eu abeirei-me do árbitro e disse-lhe «ó olegário, filho, aquilo ali era penálti, porra! falhaste naquele lance»...

reparem bem no uso do «filho». um dos logótipos deste treinador.

... e ele depois disse-me «ó vítor, se falhei foi sem querer.» e pronto, e são coisas do futebol, eu sou muito amigo do olegário e ele, certamente continuará a ser meu amigo.

hoje voltei a recordar-me desta famosa cena com este treinador - pelo menos para mim. e atenção que há outras - quando ouvi as declarações do jesualdo no fim do jogo de hoje.

não sei se o porto teve azar, não sei se o porto mereceu ganhar. sei que falhou muitas bolas e fez uma primeira parte de cáca. houve alguns lances onde foi prejudicado. o jesualdo teve razão na apreciação. já não esteve tão bem quando aludiu o desempenho da arbitragem do jogo do benfica. fica-lhe mal. e fica-lhe mal porque - e eu meto um colhão no cepo e tudo - eu tenho a certeza que daqui até ao final do campeonato, existirão outras arbitragens que beneficiarão o clube e prejudicarão os adversários. e nessa altura não ouviremos o jesualdo dizer que «ah e tal e a nossa equipa foi beneficiada pelos erros da arbitragem». não ouviremos o jesualdo, nem o bento (a quem um dia ouvi dizer que «as más decisões a seu favor existiam para compensar as que acontecem injustamente contra o sporting.» palavrinhas bonitas, não é?) nem o quique, nem o silvio cerdan.

uma chapelada para as declarações do capitão do trofense, não sei quê do ó, relativamente à sua expulsão bem perto do fim do jogo.

níbel!

* uma das cuspidelas para o ar ditas pelo sílvio cervan.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

a provincia é quando e onde um homem quiser

ouço, volta e meia, gente da minha terra a dizer: ah e tal, o que era bem giro era se nevasse.

e em vez de me rir, tenho pena. e por outro lado tenho alegria. haja finalmente um momento em que esteja estampado na alma desta minha gente cosmopolita que se há povo provinciano e parolo, ele é o da minha terra.

já não bastava irem passear para o colombo, de mãos dadas com o namorado envergando uma camisa com um rato bordado nas costas: já não bastava pagarem 15 ou 17 euros para verem teatro representado pela dona alice caneças ou por aquela apresentadora do concurso em que aparecia aquele rapaz que tratava a namorada como quem trata um furriel; já não bastava vestirem os filhos como se fossem marinheiros da normandia ostentando penteados "à foda-se!" a imitarem agricultores alemães do século xix, e baptizando-os com nomes de animais domésticos como tomás, tobias ou rubin e sancha; agora para piorarem a coisa, imagino que se devem sentir no topo da piroseira e do provincianismo bacoco, posicionados na varanda do lux, de vodka laranja numa mão e um sg gigante cravado na outra, a olhar para a estação de santa apolónia convencidos que estão virados para coina ou para a atalaia, e enquanto contam os flocos de neve que caem na estrada suspiram «julgava, estava convencida a avaliar peloas imagen que transmitiam lá das estradas do marão, que a neve caía mais devagar. afinal não.»

quinta-feira, janeiro 08, 2009

então bom ano.

mais ou menos até que dia temos de dizer às pessoas que não vemos desde o dia 31 de dezembro «olá, bom ano!»?

ou melhor, a partir de que dia não somos rotulados de «mal-educados» por não dizermos o referido «bom ano!».

é que hoje não disse e ficaram ofendidos.

por outro lado, se digo, tenho receio que fiquem a pensar «olha-me para este parolo, ainda a desejar bom ano...» e caramba, eu tenho de aceitar que me chamem parolo mas por outra coisa qualquer. sei lá, por estar à frente do leixões. e do marítimo. e do paços de ferreira. e de mais uns quantos de que agora não me recordo.

patronizar

quem me lê (lêem-me, não é?), quem me conhece bem, sabe que eu não tenho conhecimentos de português suficientes para saber bem quando se deve escrever porque ou por que, quando é que se deve usar maiúsculas ou minúsculas, qual é o plural de gel (esta já sei) e por aí fora.

por isso também não me irrito assim muuuuuuuito (só um bocadinho, vá lá) com os erros de português que vou detectando. sou mais implacável com quem tem obrigação de o fazer duma forma limpa e desinfectada. gente da comunicação, gente das palavras não tem perdão.

por isso estranhei que ontem tenha lido numa legendagem duma série de televisão a seguinte frase:

- ai, pára de me patronizar.

a personagem em questão tinha dito qualquer coisa como «stop patronize me, please». se não foi isto para lá caminha.

ora eu julgo que o tradutor julgava que patronizar existia em português, que seria como que armar-se em patrão. é que não estou a imaginar outra coisa.

só espero que ele não apareça um dia lá no escritório, onde faz as traduções, a espirrar e a assoar-se e desabafe para os seus colegas:

- estou cá c'uma constipation do caneco! alguém me faz aí um chazinho para me acalmar?

é que não é por nada. são capazes de lhe encher um balde de água a ferver para que a merda comece a amolecer e possa desentupir a canalização traseira.

digo eu, pronto.

mas se calhar estou enganado e até um gajo se pode patronizar, quem sabe.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

* gays no futebol? meu caro, o futebol não é para invertidos!*

ao que parece a federação de futebol inglesa quer gravar um vídeo contra a homofobia que grassa nos estádios inglesas.

vai daí tratou de convidar alguns futebolistas para aparecerem lá no video, transmitindouma mensagem de tolerância, compreensão e mais o caralho. dentre os futebolistas convidados, estão o cristiano e o beckham. dizem lá os senhores da federação que escolheram cirurgicamente estes dois meninos, por ambos terem uma boa aceitação junto dos públicos mais machos e, digamos, mais panilas.

ora, supondo eu que não são propriamente os maricas que vão armar estrilho para as bancadas, não seria melhor - isto sou só eu a perguntar, reparem - convidar mas era pessoal com aspecto de macho, gente de barba rija e tal, gente que bebe bagacinhos e come coiratos nos intervalos da bola em vez de pessoal com aspecto limpinho e abichanado como estes dois maduros.

re-pergunto: tinha ou não tinha mais credibilidade um video feito, sei lá, pelou grobellar ou pelo joe jordan?

sim, o jordan, um gajo com ar de vilão do 007 e que não tinha vergonha de jogar sem placa nem nada.

eu não estou a pôr em causa a heterosexualidade dos moços. estou-me cagando para o facto se se espetam de frente ou se atracam de proa**. a mim isto faz-me recordar quase - atenção aqui ao quase - aquelas campanhas anti-droga feitas pelos xutos nos anos oitenta, na mesma altura em que eu, por exemplo, tinha livrinhos de filtros de ganza - merchandising, pertantos. - com imagens do cerco.



* resposta dada pelo treinador oliveirinha quando lhe perguntaram se tinha conhecimento de haver paneleiros entre os jogadores de futebol.
** pronto, eu sabia que deveria ter tirado carta de marinheiro ou lá o que é antes de escrever esta gaita. fica aqui o registo de quem sabe da poda: atracam de popa, assim é que é.

senhor rodriguez

aqui há uns anos quando o rafael chegou do paços de ferreira um amigo, gente da bola atente-se, informou-me «não te admires se daqui a uns meses esse rafael seja o melhor jogador do teu clube e até de todo o campeonato». eu, confiado nas suas palavras, enchi-me de esperança. esperança essa que como a história veio a presenciar, foi pelo cano abaixo.

eu já sabia que de bola só deveria falar, comentar, acatar, as opiniões do meu quim. porque é assim desde há dez anos e assim deveria ser sempre.

aqui há meses, ao ver um jogo do clube no estádio da luz contra o benfica - o clube do quim - dizia-me ele enquanto eu via o senhor rodriguez a fintar uns quantos jogadores deitados no chão a contorcerem-se com cãibras «contrataste o nosso melhor jogador. ainda não sabes muito bem o que tens ali.»

e confesso, recordado pela memória do episódio do rafael, não dei muita importância à coisa.

as jornadas foram passando e, as fracas exibições do rapaz foram sendo disfarçadas lá pela versão oficial do clube «estava em processo, complicado, de adaptação». a verdade é que o tempo tem passado e vejo o senhor rodriguez, realmente, mais adaptado à coisa. noto, contudo, que desde que ele accionou lá no seu seguro automóvel a cobertura de quebra de vidros - ou terá sido vandalismo? - que a adaptação está a ser até mais bacana.

por isso foi no quim que eu pensei quando vi este golo. que diga-se é realmente um golaço do caneco.



contudo eu, esquisto como tudo, gostei mais de ver as movimentações lá dos senhores de azul e branco antes do golo acontecer. no meu tempo chamava-se aquilo geiometria pura - método de monge, não é? -. actualmente são apenas basculações. eu gosto, confesso. e gosto cada vez mais , mesmo coxo e a jogar a passo, do lucho.

entretanto gostava aqui de lembrar que esse tal senhor rodriguez, um médio-extremozado, tem mais golos que o senhor nuno ribeiro. gomes para alguns, amélia para outros.

«ó quim, até ver, além do golo ainda não o vi fazer nada de especial. o paim também marcou um golo contra o teu benfas para a taça e é ver onde anda agora. tenho de continuar a esperar?»

e pronto, já cá faltavam os coldplay

é certo que todos nós sabemos que o rod stewart roubou descaradamente o da ya think i'm sexy ao taj mahal do jorge ben.

é certo também que se não foi roubado, foi seguramente inspirando-se no still crazy after all these years que o armando gama compôs (ou não) o linda, linda esta balada que te dou.

até a kd lang veio dizer que os stones tinham plagiado o constant craving. a verdade é que os senhores quando souberam disso, adicionaram a senhora lang aos escritores do anybody seen my baby.

toda gente sabe, ou devia saber, que o irritante "só eu sei, porque não fico em casa" é retirado do refrão do wrong'em boyo dos clash.

noutro nível, é claro que o i want my, i want my mtv que o sting canta é igual ao don't stand so, don't stand so close to me que ele já cantara antes.

e por isso, o que algumas pessoas chamam de colagem, outras chamam de sampling e outras ainda chama de roubalheira (róbalheira no original). é atribuir-lhe o título correcto consoante os casos.

o que ninguém espera que eu acredite é que tenho sido "entirely coincidental" - são palavras lá dos senhores coldplay - haver uma música lá dos senhores que tenho muuuuuuuuuita coisa em comum com esta aqui.



mas pronto, é a vida. ou é a viva la vida, conforme queiram.

eu não digo que seja um plágio. nada disso. mas porra, usem palavras correctas. agora
entirely coincidental?

e não, não é isto que me faz gostar mais ou menos deles. não vão por aí

a little stiffy on that

eu sabia que um dia ia cair no limbo. não digo que já caí, mas confesso que colocar o vídeo ods oasis é meio caminho para me desgraçar.

mas espero que compreendam a atenuante da coisa. é que tenho saudades da royale family.

e este era a cantiga do genérico da coisa.





(desculpas, dirão outros)

corre, meu querido, corre

não é só o facto de ser uma grande canção e ter uma letra do camandro, eu nem sei muito bem o que é. há ali qualquer coisa... eu sei é que esta cantiga tem ares de ser dos anos setenta.

eu já de si me atrapalho a explicar as coisas, mas com isto que eu sinto sobre esta música a coisa é bem pior. até mesmo a sonoridade dela, pá, aquilo soa diferente, tem um ambiente sonoro (vá, não gozem, não sei como é que hei-de explicar, porra!) que não é igual ao resto do álbum.

a pianada muito calminha lá por trás, muito melancólica, como que a fazer molho de refogado àqueles enrrrhhhrr! da guitarra, e depois a voz dela, sem exageros, sem picos, ali certinha, que maravilha. e o baixo também, estou agora a ver, ali a dar corpo à tal pianada. uma pianada que tem aquele ritmos dasquelas caixinhas com uma bailarina a rodopiar em cima de um espelho.

mas gosto também ali do som da guitarra no solo. parece um solo daqueles órgãos da missa, mas acho que é mesmo uma guitarra. um dia, se encontrar o libório ou o condesso - pronto, se encontrar um dos organistas lá do meu bairro - pergunto-lhe se aquilo é mesmo a guitarra que faz aquele somzinho ou se é mesmo o órgão. e se afinal for mesmo o órgão, peço-lhe para reproduzir este trecho lá na igreja um dia destes.

e podia falar dos olhos ou daquele penteado com os caracóis sobre os olhos verdes. e podia falar da filha da mãe das pernas que a senhora tem. mas pronto, isso já não entra pelas orelhas dentro.

eu quero é dizer que há músicas que deviam ser bitola para uma discografia duma cantora. e esta, infelizmente, não é.





e quero dizer também que isto me recorda 1996 e se há ano que eu odiei foi mesmo 1996, mas isso agora não interessa nada.