sexta-feira, julho 25, 2008

isto não é um poema, porra!

isto é a maria a dizer umas palavras que algumas pessoas - e principalmente aquela geração que se divorcia e vai passear para as areias do abano e do guincho, envoltos em lenços palestinos comprados na festa do avante de 1983, com a trela do cão na mão, à procura de carinho alheio - costumam chamar de poemas.

mas para mim não são poemas. poemas são as coisas que o vítor de sousa declama. a maria bethânia não declama, ela canta poesia, ela interpreta-a como quem as lê. eu ouço-a e perco-me nas palavras, na forma como ela as diz. mais que uma vez, dou comigo a tentar seguir o texto e a ficar enleado na sua musicalidade, no tom da sua voz e a distrair-me dos significados dos textos. nessa altura retrocedo o cêdê. e retrocedo mais outra e outra vez, nem que seja para a voltar a ouvir dizer «palhaço poli», «topz», «diverlangue» ou ainda porque ninguém diz «moçona» - referindo-se à domadora do circo -, como ela

aquilo não são poemas. repito, poemas são outra coisa.

e eu não sei o que é aquilo. aquilo é tudo e mais alguma coisa. aquilo, por exemplo, é o pássaro da manhã que eu comprei, algures do início dos oitentas, ali na melodia da rua do carmo. aquilo é mesmo muita coisa: blusões de veludo cotelê, camisas de seda, travestis no ronda 77...

eu vou te contar que você não me conhece
e eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve!
a sedução me escraviza a você...


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