quarta-feira, julho 09, 2008

aurora

eu já o tinha visto a falar com outros clientes lá do restaurante. bem pensadas as coisas, eu já o tinha visto, muito antes, a caminhar para a praia com a sua prancha debaixo do braço. o seu visual chamava a atenção de qualquer pessoa. não que fosse muito alto ou corpolento, nada disso, mas porque tinha uma grande cabeleira de cachos enormes loiríssimos. era um surfista de corpo inteiro.

dizia eu, ele lá estava a fazer uns malabarismos com umas folhas de canas e eu estava curioso em saber o que era. reparei que o cliente, parou de comer e deu-lhe uma moeda. provavelmente um ou dois reais.

parou depois na minha mesa e, com uma inusitada e irrepreensível educação, pediu licença para mostrar a sua arte. contou-nos que fazia origami baiano. ficámos parados a ver o que iria sair daquele trabalho manual. à medida que os dedos faziam aquelas dobras, aquelas voltas e mais voltas, contava-nos que andava a fazer estes "trabalhos" porque «ô bróder, minha prancha si partiu. tô juntando uns trecos para consertá ela». augurei que não iria demorar muito tempo a conseguir reunir todo o dinheiro necessário.

no final apresentou-nos esta rosa. disse que era a rosa da paz. achei a coisa um mimo. quis obviamente ficar com aquilo para dar à minha filha a fim de ela brincar de aurora. perguntei-lhe o valor. «ô bróder, arte não tem preço não. tu dá o que achar que ela significa para si.».



guardei a moeda e tiro uma nota maior da carteira. ficámos a conversar mais um pouco. «vocês são sangue bom. eu olhei para vocês os três e vi logo que aqui havia uma aura super legal.» «são de portugal? é mesmo? gente boa... gente boa.» «não sou daqui não, bróder, eu sou mesmo é de arraiau da ajuda, mas vim para aqui em busca de outras ondas.» «é mêmo? cês conhecem arraiau? nossa, que legal» «eu gostava um dia de pegar umas ondas na terra de ocês: coxos, ribeira de ilhas... vi umas filmagens, achei super-legal»

«valeu bróder, a gente se vê por aí»

1 comentário:

Di Napoli disse...

"Broder's" destes até dá gosto, né?
Deviam era ser todos assim...