a picheleira tinha umas quantas pessoas do belém. recordo-me do xô meia-quarta; do s'mestre que deus tem; o ferro tinha afinidades ao clube, claro; sei que os mateus também têm o seu coração do lado de lá da cidade e por aí fora. falar-me-ão também do fidalgo que até chegou a jogar nas primeiras categorias mas esse, confesso, ou me mostram fotos do senhor ou então não me recordo mesmo da cara dele.
bom, a verdade é que era um bairro, obviamente dividido entre benfica e sporting, pincelado, aqui e ali, por um ou outro belenense ilustre. e por isso, cedo me habituei ao contacto desses adeptos e respeitar as suas cores.
aliás, curiosamente a primeira vez que fui ver futebol de primeira divisão foi um belenenses-benfica. fica o registo.
ontem voltei lá para apoiar o clube. é sempre uma deslocação complicada, é sempre um clube que nos dá um certo galo, é sempre bom estar lá para bater palminhas e não só!
bem sei que o bilhete foi gratuito - se não, cheira-me, não tinha ido - mas só a hipótese de amorfar um par de coiratos abriu-me o apetite futebolístico.
e eu podia estar aqui uma semana a fazer posts sobre a noite de ontem. aliás, eu acho que um blog inteiro não chegava para falar sobre tudo o que me apetece contar acerca do jogo de ontem. só para terem uma noção, o emplastro é gajo para ter tido mais de 20 convites com a seguinte frase: ó maluco, deixa-me tirar uma foto contigo, boa?
eu sei é que o azar dos azares me fez sentar lá num spot onde ao meu lado estava um dos verdadeiros velhos do restelo: cromo difícil, gente barulhenta, sempre na conversa, auricular modelo centro comercial abecassis ali da praça de espanha, conectado no seu onda média e houve logo ali qualquer coisa que me disse: vai sobrar para mim!
e a bola começa a rolar. e o caraças do velho mantinha conversa com o seu parceiro do lado direito - à esquerda estava cá o je - e também com... bom, com os jogadores que se encontravam no relvado:
- vamos embora (cândido) costa. mete esse cabrão desse andrade no bolso.
- vai costa, fode-lhe uma perna!
- isso, costa. segura, costa.
- olha o preto, costa. olha o preto, manda-o para a terra dele.
e nem eram daquelas coisas que eram ditas de dois em dois minutos. nada disso, o velho estava constantemente, repito, constantemente a falar. assim como se estivesse a relatar o jogo para a rádio. o pior de tudo é que à medida que falava, mexia-se! ora, quando se mexia, invariavelmente, levantava-se e pisava-me «pisei-o?», ou sentava-se sobre a minha anca «eh, pá, desculpe» ou simplesmente era chato «está a ver a coisa, não está? isto está tudo combinado com estes gajos do apito, estes cabrões....»
uma falta a favor do meu clube e logo ele:
- ó boi preto, já tens o cheque no teu bolsinho, tens?
e à medida que se mexia não me incomodava só a mim como também a quem estava ao seu redor. apetecia-me sair dali mas o raio do lugar estava mesmo ali no enfiamento do ofesáide. eu estava mesmo no lugar do gajo do poste da liga dos últimos.
virando-se para o velho amigo lá do outro lado «eu cheguei a jogar nas reservas aqui do belém mas o raio da tropa... estive em vila real com o pedroto e tudo... quando voltei já tive de ir para outro lado... joguei no arroios que tinha boa gente... joguei contra o oriental... estive para jogar no operário mas aquilo era só gente das barracas. no atlético é que nem pensar. ao atlético até tenho ódio ao bairro. são esses e é ao vitória da picheleira...»
alto que isto interessa-me
«... o pessoal da picheleira... aquilo os jogos e o caralho.... são só gatunage. são uma cambada de paneleiros e filhos da puta...»
e estranhamente um caldo ali na zona occipital fez-lhe abanar o cabelo e baldar a boina para o chão.
- calminha como palavreado. gatunos ainda vá que não vá. paneleiros também sei que os há. agora cuidadinho com o que se diz em relação aos filhos da puta que andas para aí a dizer, entendido? vamos mas é a baixar a bolinha e a ter cuidado com o latim.
e aquilo não foi o caldo de aleijar, porra! não sou gajo de porrada, ora. foi mais um caldo para fazer levantar a boina, não é? era mais um bicuáiate que outra coisa qualquer. longe de mim armar cagaçal. a verdade é que o pessoal em redor sentiu um certo alívio com aquele silêncio oportuno. o velho fez a trouxa, abalou para a lateral superior e não disse mais nada. o velhote seu vizinho quase que agradeceu. os sorrisos ali à volta sentenciaram e validaram o caldinho.
entretanto o cebola enfia o segundo para os nossos e o fernando emplastro - está com uma ganda trunfa - pede-me trocos.
bom, a verdade é que era um bairro, obviamente dividido entre benfica e sporting, pincelado, aqui e ali, por um ou outro belenense ilustre. e por isso, cedo me habituei ao contacto desses adeptos e respeitar as suas cores.
aliás, curiosamente a primeira vez que fui ver futebol de primeira divisão foi um belenenses-benfica. fica o registo.
ontem voltei lá para apoiar o clube. é sempre uma deslocação complicada, é sempre um clube que nos dá um certo galo, é sempre bom estar lá para bater palminhas e não só!
bem sei que o bilhete foi gratuito - se não, cheira-me, não tinha ido - mas só a hipótese de amorfar um par de coiratos abriu-me o apetite futebolístico.
e eu podia estar aqui uma semana a fazer posts sobre a noite de ontem. aliás, eu acho que um blog inteiro não chegava para falar sobre tudo o que me apetece contar acerca do jogo de ontem. só para terem uma noção, o emplastro é gajo para ter tido mais de 20 convites com a seguinte frase: ó maluco, deixa-me tirar uma foto contigo, boa?
eu sei é que o azar dos azares me fez sentar lá num spot onde ao meu lado estava um dos verdadeiros velhos do restelo: cromo difícil, gente barulhenta, sempre na conversa, auricular modelo centro comercial abecassis ali da praça de espanha, conectado no seu onda média e houve logo ali qualquer coisa que me disse: vai sobrar para mim!
e a bola começa a rolar. e o caraças do velho mantinha conversa com o seu parceiro do lado direito - à esquerda estava cá o je - e também com... bom, com os jogadores que se encontravam no relvado:
- vamos embora (cândido) costa. mete esse cabrão desse andrade no bolso.
- vai costa, fode-lhe uma perna!
- isso, costa. segura, costa.
- olha o preto, costa. olha o preto, manda-o para a terra dele.
e nem eram daquelas coisas que eram ditas de dois em dois minutos. nada disso, o velho estava constantemente, repito, constantemente a falar. assim como se estivesse a relatar o jogo para a rádio. o pior de tudo é que à medida que falava, mexia-se! ora, quando se mexia, invariavelmente, levantava-se e pisava-me «pisei-o?», ou sentava-se sobre a minha anca «eh, pá, desculpe» ou simplesmente era chato «está a ver a coisa, não está? isto está tudo combinado com estes gajos do apito, estes cabrões....»
uma falta a favor do meu clube e logo ele:
- ó boi preto, já tens o cheque no teu bolsinho, tens?
e à medida que se mexia não me incomodava só a mim como também a quem estava ao seu redor. apetecia-me sair dali mas o raio do lugar estava mesmo ali no enfiamento do ofesáide. eu estava mesmo no lugar do gajo do poste da liga dos últimos.
virando-se para o velho amigo lá do outro lado «eu cheguei a jogar nas reservas aqui do belém mas o raio da tropa... estive em vila real com o pedroto e tudo... quando voltei já tive de ir para outro lado... joguei no arroios que tinha boa gente... joguei contra o oriental... estive para jogar no operário mas aquilo era só gente das barracas. no atlético é que nem pensar. ao atlético até tenho ódio ao bairro. são esses e é ao vitória da picheleira...»
alto que isto interessa-me
«... o pessoal da picheleira... aquilo os jogos e o caralho.... são só gatunage. são uma cambada de paneleiros e filhos da puta...»
e estranhamente um caldo ali na zona occipital fez-lhe abanar o cabelo e baldar a boina para o chão.
- calminha como palavreado. gatunos ainda vá que não vá. paneleiros também sei que os há. agora cuidadinho com o que se diz em relação aos filhos da puta que andas para aí a dizer, entendido? vamos mas é a baixar a bolinha e a ter cuidado com o latim.
e aquilo não foi o caldo de aleijar, porra! não sou gajo de porrada, ora. foi mais um caldo para fazer levantar a boina, não é? era mais um bicuáiate que outra coisa qualquer. longe de mim armar cagaçal. a verdade é que o pessoal em redor sentiu um certo alívio com aquele silêncio oportuno. o velho fez a trouxa, abalou para a lateral superior e não disse mais nada. o velhote seu vizinho quase que agradeceu. os sorrisos ali à volta sentenciaram e validaram o caldinho.
entretanto o cebola enfia o segundo para os nossos e o fernando emplastro - está com uma ganda trunfa - pede-me trocos.
3 comentários:
Calma Jaime. Vai-se a ver e o gajo tinha sido encornado por algum da Picheleira. E já agora, a boina do velho era azul como a do S'mestre?
Abraço.
Mais um post à maneira, mano. Espectáculo. :)
Abraço!
Tenho de dizer outra vez... TOPO DE GAMA!!
Já me fizeste rir a mim e à Cláudinha :)
Beijos
Enviar um comentário