segunda-feira, março 24, 2008

o crocodilo que voa

o luiz pacheco surgiu na minha vida lá por alturas do início da década de 90, quando o dito senhor apareceu numa reportagem da televisão fazendo uma espécie de pingue-pong oral com umas quantas pessoas da cultura portuguesa. a coisa já se passou há tempo demais para me lembrar de pormenores, mas ficou-me na memória umas bocas - positivas - da natália correia comentadas por ele mais ou menos da seguinte forma:
- eh pá, o que é que queres que eu diga? agradeço pronto. se a gaja o diz que tenho valor quem sou eu para negar, não é? uma gaja importante, porra. deputada e tal...

ora eu que nunca tinha lido nada do senhor - continuo sem ler - fiquei ali, naquela, mas quem é este gajo? que cartonância dos diabos, um tipo que manda umas bocas destas... categoria!

tinha felizmente a meu lado, um escritor - tradutor, poeta, etc - que lá me elucidou acerca da pinta do maduro.

adiante!

para estas férias da páscoa carreguei comigo um livro organizado pelo joão pedro george - pronto, é aquele gajo que fez aquele ensaio sobre as constantes repetições encontradas nos livros da margarida rebelo pinto, já estão a ver quem é? - com um punhado de entrevistas ao pacheco.

tenho de fazer aqui um intervalinho para voltar à carga com este meu caralhinho de me deleitar com edições, com livros, assim, bonitinhos. este é bestial. aliás, todos os livros que conheço da tinta da china são um mimo: o papel é de bom toque; o tamanho é "como deve ser", assim a5; a mancha não faz cansar a vista; a fonte tipográfica é bonita; têm daquelas folhas (páginas) que não sei o nome, mas que antecedem o início do texto, assim, contendo as informações relativas ao autor, à edição, etc... depois gosto muito dos livros que nos dizem "...foi composto em caracteres hoefler text e impresso pela guide, artes gráficas, sobre papel besaya de 90 gramas, numa tiragem de 2000 exemplares." já sabem, na dúvida, se quiserem comprar um livro para enfeitar (nunca se sabe, há de tudo por aí), vão pela tinta da china.

e pessoalmente o que lá está contado tem, literariamente, pouco interesse para mim. mas as coisas que ele diz são tão, mas tão divertidas. eu gosto tanto da forma como ele desarma (ou arma) o pessoal que lá lhe ia bater à porta para o ouvir chamar paneleiro a este, cabrão aquele ou ignóbil aqueloutro.

bom, eu não resisto e tenho de transcrever aqui duas ou três passagens. aqui vai:

"...tem um verso mais ou menos assim: «amanhã há bola, madame blanche e parola.»
[...]
eles (a censura) embirraram com que palavra exactamente?
com «madame blanche». sabe o que era? vocês não sabem nada! havia em lisboa duas casas afamadas de broches, onde isso era a especialidade da casa: a madame blanche, na rua da memória, e a eva, no largo da misericórdia, lá num terceiro andar."


"... cada dia vejo pior... e também ouço mal. há dias, a miúda da cozinha bateu-me à porta a dizer que o almoço era arroz de pombo. pensei «de pombo! devem ter morto os pombos todos do jardim.» afinal não era arroz de pombo, era de polvo, porra. devo ter ouvido mal, mas só percebi quando meti o garfo à boca."


"é como aqueles gajos do «acontece» que têm a mania que são cultos. aquela besta do pinto coelho - com aquela cara ninguém pode ser culto - dizia anteontem: «a soprano russo» - referia-se à vaca que lá ia cantar. não é «a» soprano, é «o» soprano, soprano não tem feminino. é por ser vaca, é por ser vaca. quando um gajo está a dizer: «assim acontece» quero que ele vá bardamerda. tás para aí a... «ó mário, mário...» e o outro estúpido, o mário de carvalho a fazer umas observações muito engraçadas e eu vou ler o livro que vai editar já com vontade de rir."

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