segunda-feira, agosto 27, 2007



no inverno de 1988, realizou-se no pavilhão carlos lopes, um evento denominado "sons do parque". a ideia era fazer um concerto dividido em duas noites. na primeira com os gnr, os essa entente e os xutos e na segunda com os mler ife dada, o jorge palma, o vitorino e o sérgio godinho.

o mira* que como eu gostava de ir a estas coisas, dá-me uma telefonadela e avisa-me:
- hoje prepara-te porque vamos ver o sérgio godinho e o vitorino!
eu que como ele era doidinho pelo sg, nem pensei duas vezes:
- olha, traz então dois capacetes.

e lá fomos na sua dt até ao parque.

a coisa começou com os mler ife dada e nessa altura nós ainda estávamos no bar a beber cervejas (mas alguém um dia perdeu tempo a ver os mler ife dada?). aos despois arrancou o jorge palma. do palma já gostávamos! era um gajo porreiro e tal.... com o mira tenho ideia de termos papado mais um dois concertos dele. e eu até tinha uma música favorita: terra dos sonhos.

nessa noite apanhámos-lo no bar (isto, da segunda vez que lá fomos). toquei-lhe no ombro e disse-lhe:
- ó psht psht, tu és menino para me dares um autógrafo? (que vergonha, nem quero acreditar que andei a pedir autógrafos. realmente os 18, 19 anos, são uma idade fodida!...)
ele virou-se e replicou
- se me pagares uma cerveja, até dou.
eu paguei e ele lá escrevinhou uns rabiscos no papel:
"ó jaime, já estou farto de dar autógrafos! um abraço, jorge palma"

ele depois pagou-nos também uma cerveja, mas cravou-nos dois sg gigante!

confesso que passei a ouvir melhor aquelas cantigas. e passei a gostar ainda mais das coisas do jota pê. mas o tempo foi passando, vieram as coisas do palma's gang, do rio grande e mais não sei o quê e o palma passou a ser insuportável. e ainda é. pelo menos para mim.

mas há sempre o reverso da medalha.

há na casa onde passo férias, uma colectânea do jorge palma (o meu sogro é fanzoca), que habitualmente toca quando lá estou. não sei porquê, não faço a mínima ideia, mas sem ninguém ter encomendado nada, aos poucos, fui-me habituando a ouvir aquele disco "ali". sim, lá, naquele lugar. lá no alentejo.

é estranho, não suporto ouvir o jorge palma (que é realmente um gajo porreirissimo e o mais pacholas possivel) em qualquer outra ocasião mas ali gosto. o disco em questão é o "só", uma coisa que ele gravou no início da década de noventa, só com voz e piano. e gravou assim, directo para a fita, sem montagem nem mariquices. assim, em puro, construindo um ambiente do belo.

normalmente é assim: boto o cê dê lá no toca cê dês, levanto o volume, ligo as colunas que tocam na rua, pego na caiprinha ou na licor de nóz com muito gelo, e fico ali ao relento, meio grogue a ouvir as palavras e as pianadas a passar.

gosto!

Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar

Só por ter dois sóis
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
E chamei casa a esse lugar

E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão

Só por inventar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
E deixo o tempo decidir

E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão

Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar
Eu sei que nenhuma vai ganhar


* eh pá, tenho de fazer um post sobre ti, meu malandro. um maduro como tu, que a sábado e o dn considerou como sendo um dos melhores escultores de areia do mundo, merece o meu respeito. pagaste para eles dizerem aquilo, não foi?

3 comentários:

Tirtaruga disse...

Tas a gozar!

O Mira??! Temos que ir jantar!

(qq desculpa é boa!)

abraços
PS - Graaaaaaamo o "Só".

Anónimo disse...

já ias de DT, rica motoreta ;-P

Anónimo disse...

"Só" é o melhor albúm de música portuguesa alguma vez gravado. e nem dou hipótese de argumentação