quinta-feira, agosto 02, 2007

a minha ginga é melhor que a tua

eu deveria ter aí uns 6 ou 7 anos quando o meu pai nos ofereceu, a mim e à minha irmã, uma bicicleta. era uma martano, azul, daquelas que se dobravam ao meio, comprada, salvo erro na rua dos sapateiros.

eu era ainda pequeníssimo, era muito canuco e a bicicleta, com assento estilo chopper, tinha de ser conduzida em pé, porque se eu estivesse sentado não chegava aos pedais.

caraças, os quilómetros que eu fiz com aquela ginga, pá.

aprendi a guiá-la ali para os lados da cesário verde, onde, dizia-se, o pessoal das oficinas da picheleira e do alto do pina ia testar as pastilhas dos travões. recordo-me de uma vez, estar ali quase quase a conseguir andar sozinho quando reparo que um carro se aproximava por trás. borrei-me todo com o susto, larguei a bicla no meio da estrada e fugi com medo do carro. também íamos muito para o jardim da paiva couceiro, local onde uma vez a minha irmã abalroou um senhor que estava sentado a ler o jornal. felizmente não houve vítimas.

o assento não durou muito. anos depois foi substituído por um branco "estilo pasteleira" e que já permitia que eu andasse lá sentado. o cabrão do guaidor assim, estilo rider é que era uma merda e não permitia grandes cavalgadas. ainda assim, era com ela que eu, na companhia do luis panzer, ia ver as obras da futura encosta das olaias - muitas horas eu fiz em cima dos bulldozers daquelas obras.

a picheleira não era nem nunca será um dos melhores locais para se andar de bicicleta. aliás, era alguma prova de forte masculinidade apresentar provas de que se conseguiu subir a calçada da picheleira - cuja dificuldade advinha, não da sua inclinação mas do raio dos basaltos que revestiam aquela via - a perry vidal - que era chata de subir porque era muito inclinada e porque essa subida era feita em sentido proíbido - e máximo dos máximos, conseguir subir a silveira peixoto.

o pires tinha uma bicicleta da corrida, verde, tamanho mini, aí uma roda 24, talvez. um espanto. com ela e caso tivesse na cabeça um chapéu à ciclista, daqueles de pala levantada, onde se via o patrocínio à laranjina c, a subida da calçada era feita sem esforço, a perry vidal, se viéssemos bem largados era subida quase a deitar os bofes por fora e a silveira peixoto, por mais que viéssemos a esgalhar desde o saraiva e começássemos a sprintar desde a tipografia do napoleão, a nossa pedalada só dava para conseguir subir até à sede do vitória. não me lembro de ninguém que tenha conseguido subir a temida silveira peixoto.

é claro que há 3 ou 4 paneleirões lá da minha criação que vão com certeza comentar e foder esta minha afirmação, dizendo que conseguiram subi-la n vezes na bicla do zé pascoal ou na do carlitos acha. espero para ver.

sair do bairro era fácil. a afonso costa não existia, no lugar da rotunda das olaias existiam hortas e por isso as saídas eram sempre a descer: descíamos a alameda, descíamos a barão de sabrosa, descíamos a calçada do carrascal e descíamos a calçada da picheleira. o pior era regressar a casa. porra, o difícil que era fazer aqueles regressos. ainda por cima, ordeca dos pais para andar de bicicleta, acontecia apenas no verão. e no verão, meus amigos não é pêra doce, subir a alameda, por exemplo, a empurrar a bicla por ali acima.

houve uns tempos em que ia até ao estádio universitário. era uma aventura. a dificuldade não era desviar-me dos automóveis. o problema estava em tentar evitar as subidas. meu deus, o quanto me custava subir a álvaro pais. um tormento, um tormento.

é por isso que eu não entendo a helena roseta. é certo que nunca entendi. não entendo a saudade que deixa na ordem (perguntem aos arquitectos se gostariam de a ver lá outra vez?), a saudade que deixa no psd, a saudade que deixa no ps. agora decidiu que haveria de ser o do antónio costa. pronto, seja. a mim, irritou-me profundamente algumas coisas que ela protagonizou na campanha. é a vida. ela é livre, graças a deus, de fazer o que bem entende.

no entanto, com aquelas tangas sobre as histórias dos corredores para bicicletas, ficou claro
o seguinte: a arquitecta roseta tem com certeza poucos quilómetros rodados de bicicleta pela minha cidade. e tem pelos vistos alguns de hipocrisia.

já agora, em que poste é que ela prendeu ontem a sua bicla, quando foi à tomada de posse?

4 comentários:

Gonçalves disse...

Diga-se de passagem que até alguns carros patinavam a subir a silveira peixoto, mais difícil ainda era fazer o ponto de embraiagem quando se parava á porta do vcl, quanto mais de bicicleta. Saudades. A minha irmã teve uma bicla dessas, tinha uma grade atrás que dava para levar pendura, não era? tudo mudou, nem a larangina c se consegue encontrar. Os políticos valem o que valem, são munidos de uma coragem fria que os fazem desdizer o passado facilmente. Cidadania, tretas.

Anónimo disse...

Aaahh grande Pitx

Mais uma grande história ;-P

Cumps

Di Napoli disse...

É por estas e por outras que venho cá todos os dias... Espectáculo!
(E fico danado qdo se passam dias sem aparecer um post novo!)
Aquele abraço, irmão, e bem-hajas!

Bic Laranja disse...

Formidável! Histórias de encantar. Argumentação de grande orador! Formidável!
Abraço!