a coisa até estava a correr bem. estava muito carinhosa, desceu as escadas com calma, sempre na brincadeira, assim a meter-se comigo e com a mãe.
sentou-se no meu carro sem refilar, beijou milhares de vezes a mãe, pediu para voltar a beijar a testa maternal quando já tinhamos arrancado com o carro
porta bem, mãejinha!
mas foi uns metros à frente que o pânico se lhe instalou:
- onde está o meu bebé, pai?
- ó filha, ficou em casa.
- em casa? tadinho. quero o meu bebé joão, pai.
- bebé joão?
- sim, o meu bebé joão.
e o carro continuava o seu caminho para a escola
- mas eu quero o meeeeeeeeeu bebéeeeeeeeeeeeeeeeeee joãoooooooooooooooo!
- ó filha, não pode ser.
- eu queroooooooooooooooooooooooooo!
- filha, não dá!!!!!!!!!!
- então quero um beijinho da mãe.
- ó filha....
e mudo de rota para tentar apanhar a mãe. meto duas abaixo, ela continua num berreiro danado já com baba espalhada no tá-bliê, procuro, procuro e nada, não encontro já o carro da mãe.
- não encontro a mãe. a mãe já deve estar na parede. vamos para a escola.
- quero um beijinho da mãe. quero o meu bebé joãooooooooooooo!
- ó filha, NÃO DÁ!
e quando aquilo já parecia o nova iorque fora de horas, paro carro já em transe, abro a porta num descampado, saio, fecho a porta, deixo-a a berrar e a espalhar baba ao estilo mangueira louca pelos vidros e grito:
- FOOOODAAAAAAAAAAA-SEEEEEEE!
e entro novamente mais calmo.
- filha, vamos para a escola.
- nãoooooooo!
e ao passarmos pela loja da avó:
- quero um beijinhoooooo d'ávóoooooooo!
- ó filhaaaa.....
volto para trás, paro em frente à loja. a avó sai, beija-a. a miúda está desaustinada, vermelhíssima, com a cara toda molhada.
- ó vó, eu quero o meu bebéeeeeee!
arranco para a escola. ela contorce-se na cadeira, eu tento agarrá-la e desisto:
- filha, pára. vamos a casa buscar o teu filho. o teu bebé bijou. (digo um quesafoda! muito baixinho)
- não é bijou. é bebé joão.
chegamos a casa. deixo-a no carro, tranco o carro, largo o carro. subo, pego no boneco, desço, abro o carro, ela sorri, abre os braços, dou-lhe o boneco e ela abraça-o duma forma tão ternurenta, tão ternurenta, mas tão ternurenta mesmo. mesmo ternurenta, estão a ver?
- pronto bebé, não chores. a mamã está aqui.
e eu fiquei sem jeito. fiquei a pensar que aquilo era real, catano!
eu estava a tirar um filho à minha filha. eu estava a prejudicar o meu neto, porra.
valeu a pena, pronto. e a miúda ficou contente outra vez.
é claro que ainda tive de a ajudar a vestir o casaquinho amarelo, tive de a ajudar a colocar um imaginário baton para o cieiro, dei-lhe beijinhos na cabeça plástica.....
sentou-se no meu carro sem refilar, beijou milhares de vezes a mãe, pediu para voltar a beijar a testa maternal quando já tinhamos arrancado com o carro
porta bem, mãejinha!
mas foi uns metros à frente que o pânico se lhe instalou:
- onde está o meu bebé, pai?
- ó filha, ficou em casa.
- em casa? tadinho. quero o meu bebé joão, pai.
- bebé joão?
- sim, o meu bebé joão.
e o carro continuava o seu caminho para a escola
- mas eu quero o meeeeeeeeeu bebéeeeeeeeeeeeeeeeeee joãoooooooooooooooo!
- ó filha, não pode ser.
- eu queroooooooooooooooooooooooooo!
- filha, não dá!!!!!!!!!!
- então quero um beijinho da mãe.
- ó filha....
e mudo de rota para tentar apanhar a mãe. meto duas abaixo, ela continua num berreiro danado já com baba espalhada no tá-bliê, procuro, procuro e nada, não encontro já o carro da mãe.
- não encontro a mãe. a mãe já deve estar na parede. vamos para a escola.
- quero um beijinho da mãe. quero o meu bebé joãooooooooooooo!
- ó filha, NÃO DÁ!
e quando aquilo já parecia o nova iorque fora de horas, paro carro já em transe, abro a porta num descampado, saio, fecho a porta, deixo-a a berrar e a espalhar baba ao estilo mangueira louca pelos vidros e grito:
- FOOOODAAAAAAAAAAA-SEEEEEEE!
e entro novamente mais calmo.
- filha, vamos para a escola.
- nãoooooooo!
e ao passarmos pela loja da avó:
- quero um beijinhoooooo d'ávóoooooooo!
- ó filhaaaa.....
volto para trás, paro em frente à loja. a avó sai, beija-a. a miúda está desaustinada, vermelhíssima, com a cara toda molhada.
- ó vó, eu quero o meu bebéeeeeee!
arranco para a escola. ela contorce-se na cadeira, eu tento agarrá-la e desisto:
- filha, pára. vamos a casa buscar o teu filho. o teu bebé bijou. (digo um quesafoda! muito baixinho)
- não é bijou. é bebé joão.
chegamos a casa. deixo-a no carro, tranco o carro, largo o carro. subo, pego no boneco, desço, abro o carro, ela sorri, abre os braços, dou-lhe o boneco e ela abraça-o duma forma tão ternurenta, tão ternurenta, mas tão ternurenta mesmo. mesmo ternurenta, estão a ver?
- pronto bebé, não chores. a mamã está aqui.
e eu fiquei sem jeito. fiquei a pensar que aquilo era real, catano!
eu estava a tirar um filho à minha filha. eu estava a prejudicar o meu neto, porra.
valeu a pena, pronto. e a miúda ficou contente outra vez.
é claro que ainda tive de a ajudar a vestir o casaquinho amarelo, tive de a ajudar a colocar um imaginário baton para o cieiro, dei-lhe beijinhos na cabeça plástica.....
3 comentários:
Parabéns avô!
acho bem.
Olá Pitx,
Adorei o relato. A minha filha tortura-me da mesma maneira...
Quanto à sua feminilidade (e à da minha, ligeiramente mais velha que a tua, mas pouca coisa), tem de estar no 2º cromossoma X (que curiosamente vem do pai). Tem de ser genético, imutável e um dom.
Apesar dos meus esforços em contrário, a minha filha insiste em passar a ferro comigo. Ok, não gosto, não quero estigmatizá-la tão cedo, quero que ela saíba que há outras opções (apesar do exemplar que lhe serve de inspiração, aguardar melhores dias para arranjar uma mulher a dias), mas naquele fatídico dia, teria ela pouco mais 3 anos, em que a vi dobrar uma camisola com uma precisão que eu não ensinei e que já tentei ensinar ao pai 8549 vezes, rendi-me, somos meninas, mulheres, é o código genético. Havia tanto para dizer.
Felicidades
Observa na tua filha a mais pura e inocente capacidade feminina e maternal.
Sandra
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