terça-feira, outubro 09, 2007

carnaval no fogo

aprendi a beijar o pão que tivesse caído ao chão. são coisas que ficam para o resto da vida: pegamos nele, sopramos e damos um beijinho. para o lixo é que não ia, nem pensar.

a comida do prato também era para se comer até ao fim. chateia-me profundamente deixar comida no prato. e quando não consigo combater esse problema, rapo os pratos dos outros. fico lixado quando temos de deitar comida para o lixo. arrepia-me o sistema todo.

o meu avô gonçalves tinha uma frase que define toda a cultura de humildade que caracterizou a educação da minha mãe e dos seus irmãos. dizia ele no final das refeições: que os pobres mais necessitados do mundo estejam como eu estou agora.

é incrível como depois da sua morte não voltei a comer bife como aquele que ele fazia - picado à mão, juntamente com batata esmigalhada e apresentado no prato em forma de bolo - nem bacalhau cozido com batatas, que eram comidas a garfo e pão. pão este que era partido, assim, rasgado, como cristo na ceia, só que em 28 bocados - nunca me hei-de esquecer disto, 28 bocados sempre! - e que servia para se empurrar a comida para o prato.

ora com os livros tenho uma relação parecida. sempre me custou abandonar um a meio ou gastar dinheiro num ou noutro que depois se venha a revelar uma valente trampa. com as devidas diferenças, também se me meto a ler um livro e se passo as vinte, trinta páginas tenho de o levar até ao fim. é certo que agora há alguns martírios: deixei de ler o lobo antunes porque... ora, porque sim!

estou-me a recordar que os cem anos de solidão foram uma seca horrivel e agora acabei de ler uma coisa que também se arrumou na prateleira das estuchas: as mulheres do meu pai do agualusa.

tenho pena deste tipo de livros, esta onda de se escrever sem princípio e sem fim, só na onda do escrever a parte do meio. é uma barraca do catano. e depois tornam-se também muito compridos.*

além disto, tira-me do sério aquele tipo de escrita muito à africana: se se escreve sobre áfrica então temos de falar em colonialismo, em repressão, nessas coisas. é mais ou menos como no cinema americano, os pretos bons ou são polícias incorruptos ou juízes sérios. nunca são, sei lá, ceo's ou coisa parecida. já não há pachorra.

tenho saudades de ler coisas com nexo, romances decentes, imaculados. ou até mesmo daqueles assim, com princípio, meio e fim. com história, sem invenções. sem se armarem aos cucos. até lá, parti para um porto seguro: ruy castro e o carnaval no fogo.



* estou obviamente a exagerar. é escrito num português que amei. é escrito numa linguagem muito meiga e calma. e tem trechos, aqui e acolá que são sublimes. repito, sublimes e superiores. e além disso, adoro ouvir o escritor a falar. são bons preconceitos, pronto.

2 comentários:

voandobaixinho disse...

Eu tenho saudades de romances mesmo. De Amor...daqueles em que tudo fica bem porque tudo o amor vence (e aquelas tretas que já sabes). Detesto nomes mexicanos tipo "pablito, juanita e marionito", confude me a cabeça. detesto politica no meio do amor, de nova yorkina que se apaixona por afegão. enfim...tenho livros que só foram lidos até à quinta página. No entanto posso dizer-te (além de que este comentário já vai longo) que o meu livro preferido favorito e amor do coração doi "Os 3 casamentos de Camila S." Rosa Lobato Faria.

Anónimo disse...

É uma coisa do genero "william Sommerset Maughan", não?!

Cumps