sexta-feira, novembro 24, 2006

post propositadamente longo. com, pelo menos 18 anos. proibida a leitura a pessoas com menos de 35 anos.



eu estava convencido que a turma do rainha que eu mais tinha gostado, tinha sido a do meu primeiro 10º ano.

mas pensando um bocadinho melhor, verifico que o que me marcou, não foi bem a turma em si, mas sim um conjunto de acontecimentos que sucederam por essa altura: tinha passado a barreira do 9º ano, entrava finalmente na área de artes, mostraram-me o nebraska e o darkness on the edge of town, vi o cotton club e o rumble fish, conheci o left in the dark, apaixonei-me por uma miúda com problemas e cheia de complexos
(há sempre um momento na vida em que caímos perdidinhos por uma tipa assim. é da praxe. o facto de anos mais tarde ela me ter encornado com outra gaja - sim, eu disse gaja -, também é uma coisa, digamos, que fica sempre bem num currículo),
o meu vitória da picheleira foi campeão, saiu o queen is dead e o cerco, fiz a minha primeira directa, andava doido pelo plays live do peter gabriel, armava-me aos cucos a ver coisas do tarkovski no quarteto, tinha acabado de sair o misplaced childhood
(apesar de eu ser muito mais fugazzi ou scrip for jester's tear)
e os meus pais celebraram as bodas de prata.

e na realidade era uma turma bestial com pessoal do belo e todo joly, artistas meio malucos
(éramos uma turma de artes, não esquecer, ok?)
e com professores que até me acabaram por marcar à séria
(gosto muito de dizer "à séria"):
não consigo olhar para um quadro impressionista, uma cena art nouveau ou deco ou uma coisa qualquer do lalique sem me lembrar da famosa professora guidinha que para mim há-de ser sempre sinónimo de história da arte.

mas a história, como as montanhas, deve ser vista à distância. por isso, visto à luz de 20 anos já decorridos, verifico que "a turma", aquela, a tal, foi a que se criou no ano seguinte. quando recuo no tempo a ideia que salta à memória é que era uma turma com uma camaradagem fora do vulgar. também tinha os seus grupinhos, é certo. mas não eram grupos fechados, herméticos. eram coisas mais maleáveis, mais permissivas. eu, por exemplo, tanto ia com o pessoal da gabardina preta para a esbal ouvir os shish, como zarpava para o central park, ali no centro comercial s. joão de deus, para me roçar às gajas
(ok, não eram assim tantas. foi mesmo só com uma gaja)
quando dava o sign your name.

eu acho que o traço comum mais importante d'"a turma" era o humor. era tudo pessoal com um humor fora de série
(volto a dizer, éramos de artes).
humor do mais fino recorte, uma coisa muito inteligente, muito montypythoniana (eu pergunto, quantos de nós não elegem a vida de bryan como "um dos 10 filmes de sempre"?) e ao mesmo tempo muito subtil.

lembro-me que há coisa de 10 anos, numa noite em que fui ao speakeasy, no meio duma operação de charme que uma amiga me estava a submeter, encontro um colega dessa turma que já não via há uns bons 5 anos, o meu querido peixoto. apesar do gajo estar acompanhado, forniquei-lhe o caldinho e fui para a mesa dele. bom, foi um fartote de riso a noite toda
(bom, foram só 20 minutos, mas pronto, fica mais giro se eu disser que foi a noite toda).
no fim, pergunta-me a minha amiga: "mas olha lá, tu não o vias mesmo há 5 anos? eu acho que me estavas a tangar, vocês tinham conversas iguais, piadas iguais, gargalhadas iguais e ainda por cima, recomeçavam conversas que pareciam ter ficado suspensas há dois dias."

lembro-me duma outra história, esta ocorrida há coisa de 2 anos e pouco, quando apresentei a minha mulher e a minha filha ao Osmar
(desculpa lá, meu querido Luís, mas nos assuntos relacionados com esta turma, hás-de ser sempre Osmar).
quando vinha para casa, dizia-me a minha mulher: "não te percebo. vocês gostam tanto um do outro e só se vêm de dois em dois anos. juro que não percebo."

nesta sexta-feira, dizia-me alguém lá no nosso jantar: "tu desta gente, quem tens visto com mais frequência é o gonçalo, não é? é que têm conversas tão parvas, falam como se tivessem visto ontem ou na semana passada, conversas de putos, pá! ainda contam as mesmas piadas e as mesmas anedotas...". pois, compreendo o que ela quis dizer, mas na realidade não o via há 15 anos.

na sexta-feira aconteceu um milagre. eu continuo a julgar que sim, que foi um milagre. na sexta-feira, houve 16 pessoas que se lembraram que já foram putos charilas e foram reviver outros tempos numa jantarada ali para os lados de carnide. e foi bom, foi muito muito bom. na sexta-feira voltámos a provar que aquela turma não tinha problemas de gestão de egos complicados. foi como entrar numa cápsula espacial. dum momento para o outro passámos de senhores e senhoras respeitáveis para aquela cambada de putos que atiram pão uns aos outros quando estão a comer, que falam alto e que dão gargalhadas demolidoras. foi giríssimo. e para mim aquilo foi tudo muito rápido, passou tudo num fogacho. dizia-me o nápoles: "eu nem sequer vi a ementa! eu ouvi alguém falar em polvo e gritei: passa a dois!"

e não me canso de dizer: foi realmente muito bom. eu que tenho um coração que vive alimentado a "saudade", tive uma alegria doutro mundo quando pude rever:

a odete palaré (porra, a nossa détinha já é senhora professora da esbal - como é que aquilo agora se chama, pá? deves ser pouco lixada para a canalhada, deves.);
a alice (ó pá, juro que não te reconhecia se te visse na rua; eras tão menininha e estás tão senhora. isto é um elogio)
o inginheiro di napoli (outro, como eu, que só lhe faltou foi chorar - a gente estava a chorar por dentro, não era, man?) que me fez o favor de me mostrar uma cassete que eu lhe tinha ofertado com o still da joy division (bem, quando eu voltei a ver a minha caligrafia de há 20 anos deu-me cá uma coisa, pá). outro assunto, tu sabes fazer puxadas para roubar electricidade lá ao teu patrão, ou não? ensina à malta pá! agora com o frio dá jeito com os aquecedores, man.);
o tiago capristano (para mim, a pedra mestra do humor da turma) (ainda tens de me ensinar como é que eu faço para ir ao monument valey);
a susana teixeira (como é que é mesmo que tu te chamas agora, pá? moura-carvalho? realmente, isso agora já é nome de arquitecta) que está enxutíssima, charmosérrima, que deve ter tido os filhos pelas pernas, e que, como eu e o gonçalo dissemos: tens uns abdominais que até parece o petit! ah, melhér dum raio!;
o mira, o nosso pedro alentejano. coitado, está todo marado de snifar o raio do pó da pedra das esculturas. outro malandro que se esqueceu de engordar. (percebeste que fiquei meio à nora quando te abracei, não percebeste? percebeste que tens um t6 com duplex e vista para o rio aqui no meu coração, não percebeste?)
o tomé, que passou de cara de menino a senhor arquitecto respeitável de barbas. olha lá essa cena era postiça? és um dos "others" lá do lost?;
o osmar, contigo é diferente, pá. somos da mesma família. estamos condenados a ser mesmo felizes juntos;
o miguel, outro que ficou barbudo e com quem recordei uma célebre noite na aula magna, num concerto de beneficência aos povos oprimidos da américa central (foda-se! que coisa mais comuna!), onde estivemos nos camarins com o sérgio godinho e o luís pastor. depois do mira ter andado aos abraços ao baíco salomé lá da terra dele, ainda acabámos a noite a mamar imperiais no canecão! (olha lá, a namorada que na altura o teu amigo fred ou martim - nunca consegui saber qual dos dois é que era - tinha, era uma naco do c-a-r-a-l-h-o!);
o pissarra, rapaz que merece o meu sincero respeito porque continua igual aquele gajo pequenino do era uma vez o homem e também porque em 2006, em pleno século xxi, é a única pessoa que eu conheço que não tem telemóvel. não tem, nem nunca teve, repare-se!
a xana, a nossa actriz. que se lembrou de nos ganhar a todos: além de giríssima e charmosa, apresentou-se mais magra que há 20 anos. estúpida, isso faz-se, pá?
o gonçaladas, parvalhão de merda. pacóvio, ignóbil, imbecil, aldrabão, etc. tu achas que a gente acredita que já tens 40 anos? (disseste à paula que lhe mandei uns beijinhos cheios de saudade, pá? vê lá se precisas que te puxe uma orelhinha?)
a carlinha do prédio da sul-américa (é assim que assinas nos autógrafos, não é?), que teve a alegria da noite, quando lhe contámos que afinal o rabo da cláudia não era nada inferior ao dela. e que além disso era (e é), muito mais querida e doce que a outra parvalhona!
o pratas, porra o pratas está cum ganda níbel, sim sinhôr: arquitecto, fotógrafo, "filósofo", cineasta.... cum caneco, pá. a tua vida dava um filme. gostei tanto de te ver, meu malandro. (eu juro que deixo de te falar se não me mandares fotos lá dos nosso tempos, pá. muita atenção ao blog deste menino, ok? muita atenção à escrita desta malandro. níbel!!!)
e o narciso. ihhhhh, já nem me lembrava do narciso. bom, mas quem é que o mandou não trazer o elástico à ivan lendl? assim ninguém te reconhece na rua, pá

fico contente por saber que houve um cabrão dum post que, em parte, desencadeou a vontade de nos reencontrarmos (eu sabia que afinal ter um blog era uma boa aposta). sei que aquilo soube-nos a todos a pouco. tenho para mim que isto devia ter sido o dia todo, com futebolada, piquenique, churrasco, sesta, bailarico e eleição de miss "ti-chârte" molhada. para mim, era assim. mas vocês não alinham nestas merdas. têm medo do quê, das formigas nas toalhas aos quadradinhos?

pois, eu não sei se vos vou voltar a ver mês sim mês não. eu sei é que com filhos, maridos, mulheres e afins, foi uma sorte dos diabos, juntar ali aquele número de pessoas. sei também que agora estamos todos com o tesão do mijo para nos vermos todos os dias. eu então ando de pau feito. não tenho ilusões, a vida de cada um de nós não permite encontros destes com a frequência que nós gostaríamos. é certo que deixámos de ter 3 meses de férias no verão, mas gaita, a ver se não voltamos a estar 18 anos sem nos vermos.

pode ser? combinado? a gerência agradece.

p.s.:
1) o nápoles teve a indecência de me outorgar um cd
(isto tinha mais piada era se fosse uma k7. só que depois eu não tinha onde a ouvir. pois, se calhar foi melhor assim.)
com música da altura. assim, além de ir com o ego nos píncaros com os carinhos qu'estes malandros me fizeram, fiz a a5 a abrir ao som de coisas que já não passam pela cabeça desta malta nova como: o transmission, o winning dos the sound, o mr malcontent, o sketch for dawn e principalmente, muito muito principalmente o duel dos propaganda. nem queiras saber o quanto eu adoro o duel, pá.

2) o peixoto não pôde vir. fiquei mesmo triste, pá. prometes que me dás um abraço apertado quando nos reencontrarmos?

3) o desenho que está lá em cima, é uma caricatura feita pelo luís ratana
(já disse que éramos uma turma de artes, não já?).
que me retrata na perfeição: ali estou eu, gel na parte lateral do cabelo e a parte superior em reboliço, nariz vincado - sou possuidor duma sinalética portátil: ó jaime, diz-nos lá onde fica a casa de banho? - camisa aos quadradinhos, blusão de ganga coçadíssimo, umas calças bombazine e uns mocassins à índio. aliás, aqueles mocassins eram o meu logótipo.

4) eu gosto mesmo muito de vocês! obrigado por me terem deixado participar numa das noites mais felizes da minha vida.

5 comentários:

Anónimo disse...

Fazemos o piquenique hoje? Com o tempo que está não temos problemas com as formigas! E quanto à "ti-chârte" molhada é democrático, é para toda a gente!
Temos que nos voltar a juntar!
Abraços a uns, beijos a outras.
Até breve!

Zuza disse...

(não li! volto daqui a 4 anos, pode ser? :P)

Anónimo disse...

Grande Jaime!!!
Saudades tuas, pá já não te vejo há uns anos...
tenho um filhote também...
Que te corra tudo bem, e espero estar convosco no próximo jantar.

Tiago Petinga

Anónimo disse...

Acho graça,

Um gajo passa tanto tempo sem pensar em coisas que se passaram e anos mais tarde descobre como essas coisas nos influenciaram tanto.

Acho graça a este post. E fico na dúvida, quantas mais coisas passamos na vida que estão praqui guardadas e deviam ser desenterradas de vez em quando?

Vamos mas é a esse jantar de Ano Novo, que estou doido para ver o q vou descobrir sobre nós desta vez.
:)

Tiago Capristano

Anónimo disse...

Que grande pancada...!
Proponho uma terapia de grupo!
É só marcar...(próximo encontro)...quando?
Ninguém tem uma casa grande e isolada (com lareira)...que se possa partir?
Início do Ano (?)
Abraço
Pedro (Tomé)