domingo, novembro 05, 2006

Muito Chico, Tanto Mar

Em 1980, tinha eu 11 anos, fui duas vezes à festa do avante. primeiro com o meu pai, no sábado, altura em que pude aumentar substancialmente a minha colecção de autocolantes. nos stands dos países lá das traseiras da cortina de ferro então nem se fala. arranjei ainda um crachá da festa do liberté e ainda, atenção a esta parte, uma micro gaita de beiços (que também era porta-chaves) que me foi oferecida por uma jovem alemã (da alemanha do honecker, claro) e que eu utilizava para tocar o refrão do flash gordon dos queen. o meu querido zé malveira é testemunha que não se conseguia distinguir esse tal refrão, da sirene do meio-dia dos bombeiros do beato.

no domingo, desta vez já com a minha mãe metida ao barulho (não me lembro se a minha irmã estava presente ou não) voltámos lá ao casalinho da ajuda com o intuito de irmos à missa do padre chico buarque.

a minha recordação dessa noite é muito muito vaga. lembro-me que o palco estava lá muito em baixo, lá muito longe. lembro-me que estavam p'ra cima de 100.000 pessoas (infelizmente não me lembro da simone. ohhhhhhh), lembro-me das mulheres de atenas, do cálice (lê-se cale-se!) e lembro-me principalmente que quando chegou a altura de se cantar o tanto mar, não se ouvia a voz do chico buarque

(eu digo sempre chico buarque e não chico. como também não sou capaz de dizer caê, bethânia, gil, ou gal. ou bem que se diz tudo ou então é melhor estar calado. lembrem-me para vos contar um dia, uma história do meu pai.)

mas sim, um coro uníssono de pessoas que só largaram o isqueiro duma mão e o cravo da outra quando chegou a altura de acompanhar o ritmo com palminhas.

(muito gosta o português de bater palminhas nos concertos)

diga-se de passagem que essa parte das palmas no tanto mar, sempre me fez lembrar o ritmo da carvalhesa.

(sempre achei curioso e paradoxal o facto da banda sonora "oficial" do pcp, provir duma zona tão reaça como trás-os-montes)

hoje, já não houve mulheres de atenas, nem cálice (repito, deve ler-se cale-se!), mas houve um chico buarque muito bom (e capaz de melhor, também), um som estranhamente imaculado para as cânones do coliseu, uma banda certinha sem aquelas paneleirices dos arranjos musicais que o caetano veloso costuma encomendar e teve, 26 anos depois, um tanto mar de levar-nos às lágrimas!

volta sempre, pá!

2 comentários:

Anónimo disse...

Olha, não gosto de ti, tá?

:( Rasparta o homem que se lembra de cá vir nem um mês depois de me nascer a mais nova, pá :(

Nuno disse...

certo-certinho é que o último disco dele está uma bela duma seca. e nisso, ele envelheceu bem pior que o Caetano.