não é que estivesse zangado com ela: por causa da ronha matinal; porque aquele pedaço de tempo que vai desde que sai do carro até entrar na escola demorou mais que o habitual porque decidiu apanhar umas flores; porque quis mostrar uma montra ao seu bebé ali sentado no carrinho ou outra coisa parecida qualquer.
não, nada disso. a entrada até foi normal. lá teve os seus pequenos atrasos mas, na classificação oficial do ministério da paciência que os pais têm quando os levam à escola, eu até lhe atribuiria um suf mais.
mas depois, lá dentro, na salinha dela
salinha é uma palavra que só utilizamos com as crianças, não é? bem, é nas crianças e nas mediações imobiliárias «...e temos depois aqui esta salinha que é bem boa, quentinha e tal...»
há sempre uma espécie de dupla despedida. há a primeira que é mais para avisar que me vou embora «bom, então vá, vai lá ter com o resto da canalhada e tal.» e há depois uma segunda despedida, esta mais oficial, cuja existência depende do estado de espírito dela, do facto do resto dos amiguinhos da sala (ou da salinha, lá está) a requisitarem imediatamente para brincadeiras ou depende mesmo da minha pressa.
hoje, depois de ter deixado sob o seu cabide o ovo com o seu bebé, dei-lhe um beijinho seguido duns «vá, adeus, adeus, o pai vai bazar» e, quando ela foi para o pé dos amiguinhos, fui-me embora.
uns 10 minutos depois, tive de ir ao carro. abri o porta-bagagens - garagem, como ela diz - e vejo lá ao canto, a mochila do bebé...
- então filha, vá vamos embora. demoras muito?
- a mãe não me quer vestir o bebé...
- ó que gaita, mas isso é trabalho teu! vá, dá cá depressa a roupa para irmos embora.
- ...
- é mais alguma coisa?
- tenho de levar aqui a mochilinha com a fralda, biberão e o xarope para ele...
- ok, então vá, vamos embora.
...que ficou ali esquecida.
ahhh, dou um saltinho ali à escola, não me custa nada e ela até vai ficar contente.
e quando cruzo a esquina lá do corredor que dá acesso à sala, vê-me, corre para mim transportando com ela o ar mais triste do mundo e abraça-me até sufocar.
- olha o que te trouxe. - continuava abraçada a mim.
- sabe, ó pai da beatriz, ela ficou muito triste e começou a chorar porque não se despediu dela como deve de ser.
- ohhhh, foi filha?
- ....
- ó pá, eu pensava que aquela despedida do beijinho tinha sido suficiente...
- mas eu queria um abraço, pai.
foda-se que desato aqui a chorar, porra! - ó filha, desculpa, pá. pronto, olha, trouxe-te a mochilinha que nos esquecemos no carro...
- ...
- dá cá outro beijinho. o pai vai-se embora agora, ok?
- sim...
- como é que é, jacaré?
- ah pois é!
bem sei que não tem nada que ver, mas... lembrei-me disto.
não, nada disso. a entrada até foi normal. lá teve os seus pequenos atrasos mas, na classificação oficial do ministério da paciência que os pais têm quando os levam à escola, eu até lhe atribuiria um suf mais.
mas depois, lá dentro, na salinha dela
salinha é uma palavra que só utilizamos com as crianças, não é? bem, é nas crianças e nas mediações imobiliárias «...e temos depois aqui esta salinha que é bem boa, quentinha e tal...»
há sempre uma espécie de dupla despedida. há a primeira que é mais para avisar que me vou embora «bom, então vá, vai lá ter com o resto da canalhada e tal.» e há depois uma segunda despedida, esta mais oficial, cuja existência depende do estado de espírito dela, do facto do resto dos amiguinhos da sala (ou da salinha, lá está) a requisitarem imediatamente para brincadeiras ou depende mesmo da minha pressa.
hoje, depois de ter deixado sob o seu cabide o ovo com o seu bebé, dei-lhe um beijinho seguido duns «vá, adeus, adeus, o pai vai bazar» e, quando ela foi para o pé dos amiguinhos, fui-me embora.
uns 10 minutos depois, tive de ir ao carro. abri o porta-bagagens - garagem, como ela diz - e vejo lá ao canto, a mochila do bebé...
- então filha, vá vamos embora. demoras muito?
- a mãe não me quer vestir o bebé...
- ó que gaita, mas isso é trabalho teu! vá, dá cá depressa a roupa para irmos embora.
- ...
- é mais alguma coisa?
- tenho de levar aqui a mochilinha com a fralda, biberão e o xarope para ele...
- ok, então vá, vamos embora.
...que ficou ali esquecida.
ahhh, dou um saltinho ali à escola, não me custa nada e ela até vai ficar contente.
e quando cruzo a esquina lá do corredor que dá acesso à sala, vê-me, corre para mim transportando com ela o ar mais triste do mundo e abraça-me até sufocar.
- olha o que te trouxe. - continuava abraçada a mim.
- sabe, ó pai da beatriz, ela ficou muito triste e começou a chorar porque não se despediu dela como deve de ser.
- ohhhh, foi filha?
- ....
- ó pá, eu pensava que aquela despedida do beijinho tinha sido suficiente...
- mas eu queria um abraço, pai.
foda-se que desato aqui a chorar, porra! - ó filha, desculpa, pá. pronto, olha, trouxe-te a mochilinha que nos esquecemos no carro...
- ...
- dá cá outro beijinho. o pai vai-se embora agora, ok?
- sim...
- como é que é, jacaré?
- ah pois é!
bem sei que não tem nada que ver, mas... lembrei-me disto.
1 comentário:
humm, que bonito.
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