quinta-feira, outubro 09, 2008

hoje o nosso coração também é árabe. pode ser?




de volta da televisão, assistíamos naquele momento a uma reportagem sobre métodos anti-concepcionais. a jornalista decide então apresentar as percentagens dos métodos usados. lá deu o valor da pílula, do diafragma, por aí fora até que disse que 4 porcento usavam o calendário.

virou-se para nós e exclamou:

- eh pá, então para aquilo caber lá dentro tem de ser um calendário daqueles muito pequenininhos, não é?

é este o humor que volta e meia eu encontrava e ouvia quando estava

oh que porra, vou parar com esta coisa dos pretéritos. parece que o homem vestiu camisa de golas duras e foi desta para melhor.

perdão, quando estou com ele.

mas pronto, neste momento não é bem isto que vale a pena recordar. o que interessa é que a unesco - não, não é uma daquelas empresas que metem unhas de gel nos centros comerciais - criou um prémio chamado sharjah para a cultura árabe e decidiu outorgá-lo, este ano, ao poeta adalberto alves - que é o tal que disse aquilo ali em cima do calendário, estão a ver a coisa?

é que o senhor, além de já ter escrito um molho de livros, coisa que tudo somado, como devem imaginar dá muitas folhas umas a seguir às outras - será que surripiava papel lá do emprego? - é um exemplo do amor ao mundo árabe que inté faz impressão. mas quando eu digo que é um amor, digo que é um amor como deve ser, ok? não se resume a andar a coleccionar selos da síria ou cromos do al-ittihad. nah, é uma coisa com uma ganda cartonância!

e eu queria escrever uma coisa como deve ser e não estou a ser capaz de lhe prestar a homenagem que o moço - zé, ainda é um rapazola ou que é que pensa? - merece.

bom o que eu sei é que ele nunca precisou de me colonizar culturalmente com nada. foi suficiente o seu testemunho e a clarividência das histórias que ia, aqui e ali, plantando, para me fazerem olhar, com outros olhos, o povo ou a cultura árabe.

das traduções que ele fez, confesso, não sei avaliar se aquilo está bem feito ou não. as poesias que a sua cabecinha criou, também confesso que não é bem a minha praia saber avaliar a sua categoria. sei, é certo, que se as escolas convidassem, uma vez por ano, um maduro como o adalberto alves para lá ir explicar que os árabes não foram bem aquilo que vinha nos livros de história de portugal que usámos na escola, ou seja, uma cambada de malfeitores que entraram algarve a dentro e desataram a pilhar aldeias e a fornicar virgens até lá em cima às asturias, talvez diminuísse alguma intolerância para com o pessoal dos turbantes ou pelo menos aprenderíamos a respeitá-los um bocadinho melhor.

quem diz falar sobre isso, diz também, dedicar, sei lá, quarenta e cinco minutos - menos que uma aula de história, daquelas onde se conta, por exemplo, que o pinheiro de azevedo se chateava com sequestros. bom, pensando bem, essa parte até é gira. - para que ele venha lá falar das coisas que temos cá em portugal que os senhores árabes nos deixaram. ou contar que há muitas palavras portuguesas muito iguais às palavras que os árabes usam. ou que por exemplo, laranja, em árabe se diz portugal. esta última tem piada, não tem?

estou para aqui a reler isto e continuo a não dizer realmente o que a solenidade do momento exige. bom o que interessa realmente, é que o senhor deixou alguma marca árabe em mim. deixou-me muita mais coisas mas que aqui e agora não dizem respeito. mas basta, se calhar, pensar que a acção dele é responsável pelo minha visão clarificada relativamente aos povos que falam daquela maneira esquisita, lá isso é verdade.

eu sei é que também eu que fiquei muito, muito contente que ele tenha ganho uns carcanhóis com o raio do prémio, porque, tenho a certeza absoluta, um trabalho como o que ele, desinteressadamente faz, caneco!, merece tudo e mais alguma coisa.

sério, acredite, aqui o pessoal que gosta de si, ficou mesmo orgulhoso. e sei também que se calhar não é muito marcante para si, mas fique sabendo que se eu fiquei, sob um calor andaluz - está a ver a coisa, não está? - mais de cinco horas ao sol para conseguir comprar um bilhete para o alhambra, não foi seguramente, porque aquilo é "apenas" bonito. foi, como seria de supor, porque alguém me disse que aquilo é que é bonito.

parabéns, um abraço e - deixe-me cá desviar as folhas de louro - um beijinho aí no alto da pinha!

(e já agora obrigado pelo que me ensinou e por todas as outras coisas que, também sabe, não são para este reles e ranhoso blog chamadas.)

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