quarta-feira, maio 14, 2008

lições do abismo

Photobucket
Photobucket

Photobucket

este trecho de um dos livros que eu mais gosto, o liçoes do abismo do daniel sampaio, mostra o quão impotentes podem ser todos aqueles esforços que os pais fazem para serem bons pais (este itálico é de propósito).

se calhar, pelo facto de só apresentar aqui um trecho, podem as vossas opiniões ser moldadas de uma forma errada. aqui, uma simples gripe, foi suficiente para que a mãe não pudesse, nesse dia, ir à janela despedir-se do seu filho. não pôde ficar ali, à espera dele virar a esquina para aquele adeus final. um adeus que lhe dava aquele ânimo extra para o resto do dia. esse gesto viria a deixar uma cicatriz maior do que ele supunha.

são pequenos pormenores que os pais de agora, modernaços - e que transformam os pediatras em manuais de instruções quando eles são, atenção, médicos - não podem controlar.

mães, pais, já tinham reparado que os pediatras são médicos?

já falei aqui no assunto, na maior parte do ano nem me lembro disto, mas volta e meia há uma reunião de pais que me recorda que esta minha geração anda doida com a paternidade, há um ou outro artigo, conversa, até post, que demonstram a paranóia que norteia a mania de se serem uns pais perfeitos.

nunca ninguém admite isso. repito, nunca! abonam que pretendem ser apenas os melhores pais para os seus filhos. balelas, é o que é! metam na cabeça que isso não existe. podemos ler os livros que quisermos, podemos dar toda a atenção do mundo ao pediatras, podemos fazer toda a vida workshops de puericultura, podemos tentar, meramente, usar o bom senso no tratamento deles... meus amigos, isso, obviamente, são coisas a mais. são coisas a mais e ao mesmo tempo nunca chega para nada.

porque, neste caso, foi uma inevitável gripe a causadora da cicatriz que ficou marcada lá na cabeça daquela criança. com os nossos filhos, pode ser outra coisa qualquer. não está nas nossas mãos. e, se calhar, também não está nas mãos deles.

ser bons pais (ou ter bons filhos), às vezes, se não na maior parte dos casos, é mais uma questão de sorte que outra coisa. aqui, os resultados nunca se prevêem à priori. é uma questão de décadas: «ora deixa cá ver como é que eu fui, aqui, até aos 10 anos deles? bem? safei-me? siga, então!»

e não, não é o inglês na pré-primária que faz de nós melhores pais; não é a natação ali, mesmo antes dos seis meses quando a glote não está na sua posição correcta, ou depois dos não sei quantos anos «porque sabem, as piscinas são uma selva de doenças» (coitadinhos, se calhar até cancro lá apanham...) que faz de nós melhores pais; não é a proibição de tulicreme lá na escola que faz de nós melhores pais, não é nada disso. mas também não é isso, ou a ausência destas coisas, que os torna melhores ou piores filhos.

este post não é um manifesto a favor do "deixa andar". longe disso. este post é meramente uma chamada de atenção pessoal (longe, muito longe de ser um sermão para quem quer que seja.) (bom, quem vir por aqui carapuças, sinta-se à vontade para as ir enfiando.) para que eu me vá recordando que a canalhada e a sorte têm mais influência nesta gaita das pedagogias do que nós realmente julgamos.

8 comentários:

Clara disse...

Pois sim, a sorte, sem dúvida, como em tudo na vida. Mas é tãaaaaao difícil ser mãe (e pai , pressuponho).

Karla disse...

Belíssimo post, belíssimo. E sim, enfio a carapuça...

(E sim, é difícil. É muito mais fácil ser avó, tia ou amiga, olaré!)

LP disse...

Desde que fui mãe que só tenho certeza de uma coisa: por muito que me esforce, eles, algum dia, vão-me culpar de algum dos seus traumas. Faz parte do pacote.

tcl disse...

belíssimo o texto de Daniel Sampaio que me deixou com vontade de ler esse livro, muita vontade. Excelente o teu post, també. Parabéns

Daniela disse...

Concordo plenamente.
Mais do que qualquer manuel o que interessa é o bom senso e ...sorte!

S.A. disse...

É q é mesmo assim, tal e qual!!

Comprei o livro há uns 4 anos... está lá á espera da sua vez.

Acho q chegou o momento!

AnaBond disse...

adoro Daniel Sampaio... tenho alguns dele. e já li este.

e serviu-me a carapuça.
e dir-te-ia que, tal como a LP, sei que futuramente eles me irão sempre culpar de alguma coisa. é como ela diz, faz parte do pacote.
infelizmente.
mas é assim.
é a natureza humana.

(gosto de te ler também)

Anónimo disse...

No 10º ano ou 11º, tive psicologia.
O Professor, que tinha uma gargalhada "peculiar", um dia teve um desabafo e disse que se tivesse um filho não saberia como educá-lo.
O que ele nos quis fazer entender, foi, que nem sempre a educação que damos poderá ser a melhor educação...

Daniel Sampaio leva-nos ao essencial, podemos não ter os nossos filhos nos melhores colégios, podemos ter fracos recursos económicos, não podermos dar-lhes uma alimentação adequada, podemos não poder comprar-lhes aqueles ténis da moda.

No entanto há algo que vale mais do que qualquer fortuna ou benesse, não se compra, está disponível em nós sempre...é inesgotável, não tem contra-indicações, é recomendável dar sempre em grandes "doses",chama-se AMOR, AMOR INCONDICIONAL, tudo o que fizermos com AMOR aos nossos filhos, fará de nós bons pais...só o AMOR perdura.