terça-feira, fevereiro 12, 2008

incas


algures na década de noventa, fui passar algumas passagens de ano - reviralho, como se diz nalguns sítios do norte - numa colónia de férias que havia na terra da minha mãe. o edifício albergava as canalhada durante o verão e, durante o resto do ano, magotes de malta jove, ia para lá curtir uns eventos à grande.

numa dessas passagens de ano, calhou-me ter de entregar algum material num fornecedor que tínhamos na lousã.

depois de ter dormido dois pares de horas, sábado, bem cedinho, pela fresca, deixei o pessoal a dormir e lá me pus eu à estrada, bem devagarinho que a coisa até foi feita com a antecedência devida.

ali por volta de serpins, reparo que a minha velha renô écspress, andava a dar de lado nalgumas curvas. e eu, maaaaauuu, tu queres ver....

o piso estava mesmo escorregadia, provavelmente devido ao facto daquela chuvinha miudinha que nesse momento caía, avivar o raça do gasóil que estava entravincalhado no alcatrão.

além disso, estava já queimado, por um toque de merda que tinha acontecido uns dias antes, onde parti um cabrão dum farolim, porque, ao travar de repente, o pé escapou-se por entre os pedais da embraiagem e do travão.

esta mistura de azelhice com pneus modelo yul breiner, estavam a ser uma mistura perfeita para esta quadra natalícia.

chegados ali por volta do prilhão, deu-se o (in)esperado, a carrinha começa mesmo a dar de cu - eu ia mesmo devagar!! - desata a derrapar na curva, eu olho para o lado direito e, pelo vidro assuto-me porque estava ali a circular ao meu lado a traseira da carrinha.

tunga! foi certinho. bati de cornos na barreira.

cum caneco!, fico ali parado, a pensar que raio de mal tinha feito eu a deus para me estar a acontecer aquilo ali, num sábado de manhã, com o fornecedor à espera dumas controladoras e duma placas gráficas vesa bus, para montar uns computadores que iria entregar ainda antes do almoço.

e depois sem telemóveis nem nada (há invenções que realmente chegam tarde demais)....

bom, saí do carro, vejo que a frente está toda marada, as rodas presas na valeta, o carro a ocupar toda a estrada e trato de ir até à curva mais próxima, aí a uns 10 metros, colocar o triângulo.

é nesse instante que vejo chegar um carro e começo-lhe a fazer sinal para parar. o gajo começa a dar guinadas enquanto travava, vai perdendo finalmente velocidade, eu desvio-me porque vejo que o gajo me vai atingir, quase que fica na estrada, mas já não consegue evitar a coisa: desata a rebolar ribanceira a baixo, quedando-se uns quatro metros ali abaixo. eu fico ali pasmado, mas cago para o triângulo, e começo então a descer até ao carro capotado. lá de dentro saem, a custo, duas bifas, hippies, já no grau 19 da escala de sarro e nojo(que vai até ao valor 20). pela janela, entre terra, cordas, sacos de plástico, papéis velhos, botas velhas, meias e talheres, consigo tirar cá para fora, um bebé com cerca de meio ano, que berrava desalmadamente, competindo com a mãe que soltava para quem quisesse ouvir por toda a comarca de arganil:
- my baby, my baby. fuckin hell, what's happened to my baby?

pega o puto ao colo, leva-o para a beira da estrada, onde entretanto chegou, sabe-se lá de onde, um carro.

o puto estava com um arranhãozeco na mona, mas as bifas queriam levá-lo para o hospital. o gajo do carro olhou para o aspecto delas e não queria levá-las. depois dum berro nas orelhas:

- ó chavalo, tu leva-me o caralho das bifas ao hospital, ok?

lá anuiu e seguiram até à vila.

muita coisa aconteceu entretanto: consegui tirar o carro da estrada com a ajuda dum jeep que ali parou, fui de boleia para a colónia de onde chamei um reboque, voltei para o local do acidente já com pessoal amigo, esperei pelo reboque até depois da hora do almoço até que um ax para ali e nos pergunta:

- estão à espera de reboque?
- sim, estamos.
- ele mandou avisar que está ali atrás, a 400 metros. não demora nada. são só mais cinco minutos. é que o piso está todo enquinado e ele saiu da estrada. está com o guincho a safar a situação.

nunca mais vi as gajas (mas sei que se safaram na boa), a carrinha lá seguiu para a oficina e o material informático foi entregue ao fornecedor que entretanto tinha sido avisado por um amigo, dum amigo, dum amigo.... no entanto, desta história toda, guardo com carinho, as palavras dum velho lá do prilhão que, ao contar o acidente das bifas, confundiu a palavra hippie e disse à mulher, enquanto se apoiava num cajado:

- ora bem: aquilo, as gajas, eram axim,.... como que se há de dizer? eram, eram, axim, estranhas, axim, com umas roupitas, sabes... axim eram... olha eram assim... com uns brincos nojolhos e axim, no narix e ... eram, eram, eram umas incas*!



* deve-se ler jincas!

4 comentários:

tcl disse...

ahahahahah!
isto parece uma cena dum filme "amaricano"!

Gonçalves disse...

Confesso que acabo de apanhar um susto com a jinca da foto. Por momentos pareceu-me a irmã do "celse".

Bic Laranja disse...

Esta até chorei a rir. Ahaaaaaaaaah!
A irmã do Celse que era irmão do Matos?
Cumpts.

tcl disse...

oube lá! Dijer a jincas é assim o mesmo que dizer a jorelhas, o jouvidos, o jartelhos, o jolhos... é num é?