se há memórias musicais públicas que eu tenho do meu bairro, talvez uma das mais vincadas, é a imagem do arménio - não o "trolha da areosa", mas o "méninho" dos embrechados - a descer a frei fortunato, estupidamente bronzeado, calça de ganga muito coçada, t-shirt de alças modelo "ginástica da tropa" - «quero-vos formados às 9h30, na parada, com o vosso fatinho do ballet, seus caralhos!» - ténis nike cor de neve e no ombro e, seguro pelo seu braço musculado - como aquele cabrão cresceu lá nos ferros, porra! -, um enorme e prateado cantante, debitando rock em altos berros:
- méninho, trazes aí um ganda som, pá!
- ihhh, ó jaime, é uma coisa nova que arranjei...
- é bom, pá!
era o love removal machine.
para mim, é "a" música dos cult. é o ponto mais alto de toda a sua carreira. eles chegam ao electric depois de anos dum rock muito chegado à música de vanguarda que culmina com o lp love de 1985. é certo que o love tem uma mão cheia de singles que animam qualquer alma deseperada mas convenhamos é quando o rick rubin pega a sério nas canções deles que a coisa fica ali nos trinques. não é só a guitarra do billy duffy, não é só o vozeirão do ian astbury, para mim, há ali um elemento que dá equilibrio aos dois, é o baixo - gosto tanto de baixos, caneco! - do jamie stewart. pode muito bem ser uma bela coincidência, mas a verdade é que enquanto estiveram estes três juntos - bateristas é que foram mais que muitos - a banda teve sucesso.
pronto, já falei aqui do love removal machine, já disse que acho o electric bem melhor que o love mas este post é para prestar homenagem à mais "esquecida" grande-malha - ao que parece agora já não é de bom tom dizer-se malha, agora é bonito dizer-se riff - dos cult. falo do fire woman do sonic temple.
mais esquecida porque, na realidade, quando vamos para a náite e a coisa mete rock, no que toca aos cult, normalmente o dê jota, bota o wild flower ou o rain. com um bocado de sorte lá apanhamos com o lil' devil ou o she sells sanctuary. curiosamente as melhores para dançar são colocadas de parte. precisamente estas duas: o love removal e o fire woman.
duvidam de mim? tomem então atenção:
ok, é certo que isto tem o seu quê de cromisse, mas recordo-vos que estávamos em 1987. e se metade de vós ainda não sabia que o dystron que a mamã levava para o bidé, não era propriamente um líquido para alargar sapatos como ela vos dizia, a outra metade ainda usava meias brancas, por isso, haja respeito.
o vídeo começa logo com aquele ar de "veio do espaço" e apresenta-nos o caminhar do billy com as tradicionais calças justas às botas, até ao seu amplificador. é então que surge aquela bela imagem do patilhame aparadinho e do grande penteado mullet que o bono tinha imortalizado no live aid do baterista les warner. a malha começa a rasgar e já se vislumbra o ian a saltitar lá no andar de cima. o jamie está de costas, à espera de vez para martelar as cordas do seu baixo. às tantas o ian desce as escadas, aquele seu ar de pocahontas, o cabelão, a camisa gótica, branca, de folhos e avisa: check this one. e daí para frente é um vê se me agarras, com alternância de imagens entre dois takes do videoclip onde se misturam a dança duma espécie de fandango do vocalista com o pedal que o ian imprime na guitarra. o ian ora tem uma camisa branca ora tem uma camisa preta, o duffe ora toca com uma guitarra branca ora toca com uma preta. é tudo muito bom, muito pedaloso. mas aquele baixo sempre ali a marcar ritmo, e aquela forma como o billy domina fisicamente a guitarra, a forma como pega nela, como a suetém segurando-a pelo braço, numa mistura entre os movimentos do chuck berry e as notórias influências das malhas do jimmy page é algo que me deixa de rastos quando escuto isto.
como podem aqui ver, dois anos depois a coisa não está muito diferente. o ian continua com o ar de pocahontas mas com aqueles trejeitos de fandango bem mais apurados, o billy já se meteu a rasgar a guitarra com as malhas mais repuxadas, assim a esticar aqueles oinnnnnnnnn com mais força e durante mais tempo e o baixo continua a ser o mesmo estremo esquerdo do palco, sempre ali, a bombar, a dar ritmo à coisa.
curiosamente neste altura - e neste clip - julgo que o baterista é o matt sorum que depois andou pelos g'n'r naquela altura do use your illusion e afins.
aliás, foi feito pelos cult o melhor concerto - em portugal - que eu não vi em toda a minha vida. 1993, gartejo! paciência.
- méninho, trazes aí um ganda som, pá!
- ihhh, ó jaime, é uma coisa nova que arranjei...
- é bom, pá!
era o love removal machine.
para mim, é "a" música dos cult. é o ponto mais alto de toda a sua carreira. eles chegam ao electric depois de anos dum rock muito chegado à música de vanguarda que culmina com o lp love de 1985. é certo que o love tem uma mão cheia de singles que animam qualquer alma deseperada mas convenhamos é quando o rick rubin pega a sério nas canções deles que a coisa fica ali nos trinques. não é só a guitarra do billy duffy, não é só o vozeirão do ian astbury, para mim, há ali um elemento que dá equilibrio aos dois, é o baixo - gosto tanto de baixos, caneco! - do jamie stewart. pode muito bem ser uma bela coincidência, mas a verdade é que enquanto estiveram estes três juntos - bateristas é que foram mais que muitos - a banda teve sucesso.
pronto, já falei aqui do love removal machine, já disse que acho o electric bem melhor que o love mas este post é para prestar homenagem à mais "esquecida" grande-malha - ao que parece agora já não é de bom tom dizer-se malha, agora é bonito dizer-se riff - dos cult. falo do fire woman do sonic temple.
mais esquecida porque, na realidade, quando vamos para a náite e a coisa mete rock, no que toca aos cult, normalmente o dê jota, bota o wild flower ou o rain. com um bocado de sorte lá apanhamos com o lil' devil ou o she sells sanctuary. curiosamente as melhores para dançar são colocadas de parte. precisamente estas duas: o love removal e o fire woman.
duvidam de mim? tomem então atenção:
ok, é certo que isto tem o seu quê de cromisse, mas recordo-vos que estávamos em 1987. e se metade de vós ainda não sabia que o dystron que a mamã levava para o bidé, não era propriamente um líquido para alargar sapatos como ela vos dizia, a outra metade ainda usava meias brancas, por isso, haja respeito.
o vídeo começa logo com aquele ar de "veio do espaço" e apresenta-nos o caminhar do billy com as tradicionais calças justas às botas, até ao seu amplificador. é então que surge aquela bela imagem do patilhame aparadinho e do grande penteado mullet que o bono tinha imortalizado no live aid do baterista les warner. a malha começa a rasgar e já se vislumbra o ian a saltitar lá no andar de cima. o jamie está de costas, à espera de vez para martelar as cordas do seu baixo. às tantas o ian desce as escadas, aquele seu ar de pocahontas, o cabelão, a camisa gótica, branca, de folhos e avisa: check this one. e daí para frente é um vê se me agarras, com alternância de imagens entre dois takes do videoclip onde se misturam a dança duma espécie de fandango do vocalista com o pedal que o ian imprime na guitarra. o ian ora tem uma camisa branca ora tem uma camisa preta, o duffe ora toca com uma guitarra branca ora toca com uma preta. é tudo muito bom, muito pedaloso. mas aquele baixo sempre ali a marcar ritmo, e aquela forma como o billy domina fisicamente a guitarra, a forma como pega nela, como a suetém segurando-a pelo braço, numa mistura entre os movimentos do chuck berry e as notórias influências das malhas do jimmy page é algo que me deixa de rastos quando escuto isto.
como podem aqui ver, dois anos depois a coisa não está muito diferente. o ian continua com o ar de pocahontas mas com aqueles trejeitos de fandango bem mais apurados, o billy já se meteu a rasgar a guitarra com as malhas mais repuxadas, assim a esticar aqueles oinnnnnnnnn com mais força e durante mais tempo e o baixo continua a ser o mesmo estremo esquerdo do palco, sempre ali, a bombar, a dar ritmo à coisa.
curiosamente neste altura - e neste clip - julgo que o baterista é o matt sorum que depois andou pelos g'n'r naquela altura do use your illusion e afins.
aliás, foi feito pelos cult o melhor concerto - em portugal - que eu não vi em toda a minha vida. 1993, gartejo! paciência.
1 comentário:
Mano,
Tens toda a razão: o LRM (é giro escrever assim, não é? Dá uma certa pinta à coisa...) é "a" música destes tipos. Um verdadeiro must para quem aprecia o rock!
E quanto a concertos dos Cult, pergunto: estiveste no do Dramático de Cascais?(Já nem me lembro é em que ano foi...)
Aquele abraço!
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