segunda-feira, setembro 13, 2010

e não podemos fazer ppr's para nos protegermos disto, pois não?

já não é a primeira nem segunda vez que entra aqui na loja. eu, que quase nunca me lembro das pessoas que atendo, desta não me esqueço.

primeiro porque quando entra, acompanha-a um cheiro fétido a tabaco. não um cheiro a tabaco, digamos, normal. mas daqueles cheiros que se entranham não só nas roupas mas também na pele, entupindo todos os poros. sente-se à distância. o cabelo, vê-se, já teve melhores dias e melhores cores. apresenta um louro, estranho, antigo, velho, gasto. a composição fica completa com umas pinturas características das madrugadas das putas. apesar de tudo, é de uma simpatia inatacável e dá ideia que já teve outras «vidas».

treme, treme muito quando comigo fala ou quando se prepara para escrever o que lhe vou pedido «aqui, nesta linha mesmo, aqui, dona glória...»

tem uma caligrafia de instrução primária. uma caligrafia igual às que as nossas mães têm: bonita, certinha, quase barroca.

quando olho para o bê i, tirado há não muitos anos, vejo na foto uma outra criatura, com um aspecto saudável. gira, com menos 10 anos de idade mas com menos 40(!) de aspecto.

conta-me, a certo trecho, que a filha morreu nesta luta contra «outras forças que não conseguiu vencer... o meu marido já se tinha ido embora... e a droga continuava a entrar lá em casa mesmo quando a minha atenção estava redobrada, compreende?». «sabe, desisti! ela foi-se e eu não a consegui ajudar a aguentar-se...»

desistiu, sem dúvida. de outra forma não poderia ter sido. e depois de desistir da filha «foram muitos anos a lutar, sabe? só deus sabe o que eu sofri com a minha filha...» é fácil de perceber que desistir dela própria era quase uma inevitabilidade, coitada.

«eu era um valente borracho, o senhor não acha?»

(sorri, não só porque achei piada à pergunta, à palavra borracho e porque sim, ela era mesmo um valente borracho)

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