domingo, março 21, 2010

grelaited fiche

há coisas que só acontecem quando somos crescidos. comer favas, acredito, é uma delas. tendo perfeita consciência disso e continuando a não gostar de favas, esta é a razão porque sei que ainda não cheguei à idade adulta. por essa razão, ainda, nunca ninguém soube em quem eu votei, voto ou votarei. ainda sou um chavalito!


sei, contudo, que o caminho anda a ser trilhado. há uns meses comi com uns amigos lampreia. ora se há prato que em piqueno (deixem-me escrever "pequeno" assim, deixam?) eu temia era essa coisa estranha que é a lampreia. nessa célebre (para mim, claro!) noite em que os acompanhei e lhes disse «ahhh, deixei lá, eu como um bitoque.» eles logo vieram com aquelas coisas do «deixa-te de merdas e medriquices... vais comer o que te colocarmos no prato.» comi, babei, repeti e ainda molhei com pãozinho.


há porém um prato que ultrapassa todas essas questões de crescimento. está à parte e acima disto tudo. e quando me refiro a crescimento falo também em como quando tínhamos 17 anos apenas havia dinheiro para bitoques nos jantares de aniversário - os "bifinhos ó xampi nhones" e as «pratadas de picanha ó alho» aconteceram, apenas, anos mais tarde - e não havia paladar para peixe. peixe, obviamente à excepção de linguados nas escadas de serviço de alguns prédios da avenida de roma e a jogar bate-pé, era coisa que não passava pela cabeça de nenhuma alma sã. assim, quando quero pensar num prato que resuma e classifique o supra-sumo da bomboca no que respeita a questões de menú, é imediata a associação ao peixinho-grelhado. não, não é ao bacalhau, não, não são as sardinhas, não, não é o peixinho da horta ou as pataniscas. é mesmo o peixe-grelhado.


é que não sei se é o meu prato favorito (caramba, há tantos «leitões» e «carabineiros» por aí...). sei é que poderia ficar a pensar em mariscadas no porto de santa maria e outras tentações da mesma classe. sim, poderia. mas a verdade é que uma refeição de peixe grelhado é outra ventarola. é diferente. é uma coisa que se me foi colando, principalmente nestes últimos.... sei lá, quatro anos - uma olimpíada, portanto! - duma forma quase discreta. não há refeição de peixe-espada que eu não faça que não termine com o pensamento «porra, tenho de passar a pedir sempre isto ao invés da espetada de lulas!»


hoje fui ter com uns amigos 

dei um molho de abraços que não consigo dar em muitos sítios e a muitas pessoas. gosto tanto...


a um simpósio gastronómico de sushi. todos sabemos que o sushi é o equivalente aos cruássãs dos anos oitenta. agora, todo o mundo gosta e acha chique o sushi. eu também gosto imenso de sushi. não consigo, é certo, achar que é chique e a minha querida maria da paz é testemunha disso (e eu testemunha também dela) já que o comemos uma vez assim, como quem come caracóis, encostados de ladecos no balcão da tasca (meu deus, que vergonha!...) . dizia eu que fui ter com uns amigos mas os da minha família comemos previamente em casa. é que estive a fazer uma sindicância com a minha mulher e não há rigorosamente nada no sushi que ela goste. temos pena, saímos já de barriga cheia e vamos lá, mais tarde, cravar-lhes duas colheradas da sobremesa, um chazinho e uma bica.


calhou de caminho hoje estar um sol do catano que entupiu a marginal com hordas de pessoas em movimentações heliotropistas até ao guincho. e um sol.... caneco! quando está sol, particularmente como o de hoje que ainda não tinha sentido, aqui nas partes ao léu dos bracinhos de mangas arregaçadas, um sol desta forma primaveril que me fez logo imaginar, duma forma mais profunda, apaixonante, concreta e sensorial, uma bela travessa (não confundir com a do poço dos negros) dum peixe-espada grelhadinho, ali com tomate, pimentos (que dão um arrotar de primeira!) e oregãos, regados... ah, não me vou pôr a exigir muito.... qualquer bjeca fresquinha serviria.


eu não sei se é do sol, não sei se é deste cheiro a mudança da hora que se avizinha, não sei se é deste espírito de férias da páscoa que já anda no ar.... eu sei é que volta e meia dá-me vontade de espreitar ali para a esplanada do nuno e ver se já por lá anda aquela movimentação de empregados de mesa, de travessa e galheteiros em punho como que a dizer: vem, meu menino, anda cá ao nosso peixinho.


hoje esteve sol e eu pude andar na rua em mangas de camisa sem ter frio. tive saudades de peixe. peixe grelhado, mais concretamente.


(e o que me lixa é que já andam a dizer que ainda não se sabe se o sol veio mesmo para ficar. e se assim for, nunca saberei quando é que haverá peixe fresquinho no assador.)
(temos pena)

1 comentário:

Morena disse...

No domingo se tudo correr bem vais poder comer teu peixinho grelhado no Nuno e o que é melhor à borlix!