quinta-feira, agosto 27, 2009

shattered

um abraço ao engenheiro quadros,

algures em 1983, acompanhado dum meu amiguinho dessa altura, entro em casa dele e deparámo-nos com um cagaçal dos diabos.

no hall, dirigimos a cabeça em direcção da porta da casa de banho e notámos que o som vinha lá de dentro. de lá de dentro vinha também, um cabo que atravessava a porta fechada e que, ligado a uma tomada bem perto da porta da dita casa de banho, fornecia energia a um tijolo, provavelmente onkyo, que emanava uma rockalhada do caneco.

- é o meu irmão zé. está a tomar banho e a ouvir o still life dos rolling stones.
- iá.
- ele foi vê-los a madrid, na final do espanha 82.

ora, este diálogo encerrava, duas ou três questões que, para mim, puto de muita tenrinha idade, eram coisas que poderíamos arrumar na diocesa: g'anda ventarola.

a saber:
- o facto de haver um tijolo lá em casa, quando na minha havia um picâpe dos antigos que me fodia e riscava os discos com uma limpeza dos diabos;
- o facto de haver alguém que gostava dos rolling stones, coisa muito, muito além, para alguém - eu - que submetia os seus gostos musicais à (boa) enxurrada comercial que o jorge pêgo (e a ana bola também) me mostrava no t.n.t (patrocínio do shampoo timotei de camomila);
- o facto de haver alguém, que eu podia tocar assim com um dedo e tal, que tinha ordeca dos pais para ir a concertos;
- o facto desse concerto ser, imagine-se, em madrid.

os rolling stones só se tranformaram na minha banda favorita uns sete ou oito anos mais tarde quando me rendi, não às coisinhas dos seus discos dos anos sessenta, mas sim, aos dos anos 70. black and blue, iorr, exile, emotional rescue, some girls, sticky fingers e por aí fora, esses sim é que são a minha praia. e claro está, o still life que o referido zé estava a ouvir em altos berros naquela casa da miguel bombarda.

da tourneé de onde foi extraído esse disco, lembraram-se os rolling stones de convidar um senhor chamado hal ashby (vão ao gugâl saber quem é) para fazer um filmezeco a que deram o supimpa nome de «bute mazé passar a naite cá com o je», no original «let's spend the night together».

ora esse filme ainda é o filme dos filmes no que toca a coisas de concertos, coisas de rock, ou coisas do musicól, digamos. poderme-ão dizer que há também o shine a light e tal, que o scorcese é que é, que aquilo está muito bem filmado... bom, quero que vão todos para o real caralhinho com essas opiniões. para mim, gosto mais de comer um prego cheio de molhanga e mais um traçadinho na tendinha do rossio que uma gaita qualquer num restaurante daqueles em que os empregados se chamam valdiney e cortam o cabelo em institutos de beleza. ou seja, o meu problema não está no trabalho do senhor scorcese mas sim nos rolling stones
em si. basta olhar para as imagens desse concerto dos idos oitenta para ver que eles ali estavam no pico dos picos.

é toda aquela envolvência: um estádio cheio, americanos doidos, uma coisa em tempe no arizona, bem no meio do deserto e tal, o jagger magérrimo, com calças apertadíssimas e joalheiras de skate, o kiff com aquele ar de joe strummer, ao piano ainda estava o ian stewart e tal... é perfeito, simplesmente perfeito. e o palco? que maravilha: cor, seco, rude, amplo. e depois tem aquele letreiro luminoso a dar um ar de carruagem do metro a anunciar as estações, daqueles antigos com as letras formadas por pontos vermelhos.

esta não é a minha favorita. mas é nesta em que se vê uma coisa que eu ador. está o jagger a mostrar o ombro, a dizer she do me, she do me, she do me, enquanto saltita tesourinhas, quando se vê o bill a sacar o isqueiro do bolso do seu blusão - uma coisa muito eighties, assim em schintz ou coisa parecida. idêntico a um que eu possuí e que tive o cuidado de foder, ao entalar uma das suas abas, no eixo dianteiro esquerdo do meu carro de esferas, numa daqueles excitantes provas realizadas nas traseiras do lote 20 barra 21 da mira fernandes - a acender o seu cacilho, enquanto a música já decorria. sem excitações nem compromissos, aguarda pelo acorde correcto, sem temer perder a vez ou entrar atrasado, fazendo-se ouvir o seu baixo, ali no momento em que o seu téni naique esquerdo começa a subir e a descer, marcando o ritmo do seu instrumento.


chama-se a isto, uma banda de níbel!



2 comentários:

Calvin disse...

És o maior, caraco!
Um verdadeiro "jumpin' jack flash" do bloguismo (a palavra existe??)!

Abraço

teresa disse...

Sinto-me sempre amarfanhada pela grandeza dos teus comentários. Se não és o maior andas lá perto.