sábado, agosto 15, 2009

ferrari

ontem guiei um «ferrari».

não andava propriamente a sonhar com isso todos os dias mas caneco, um ferrari é sempre um ferrari.
infelizmente não era um ferrari de 4 rodas mas sim um de 2 rodas. falo na realidade de uma bicicleta, um ferrarizaço das bicicletas.
meu deus, eu acho que vi a luz. há qualquer coisa de extraterresre em guiar uma coisa daquelas.
se estou a exagerar no entusiasmo? é provável que sim.
mas reparem, a minha primeira (e única) bicicleta comprou-me o meu pai, tinha eu aí uns sete ou oito anos. era uma chopper azul (à porto, carago!), sem mudanças, daquelas que se podiam dobrar ao meio para facilitar o seu transporte, pesadíssima e que perdeu o assento, poucos meses após a sua estreia.
era daqueles estilo harley e o meu pai teve o cuidado de adaptar um tubo de canalizador num selim branco, comprado na mítica ciclo-areeiro, localizada naquelas arcadas dos edifícios do início da gago coutinho.
ora, devido ao seu peso excessivo, ao selim que me obrigava a pedalar praticamente em pé por não chegar em condições com os pés aos pedais e àquela horrível configuração do guiador era um tormento conquistar subidas com ela.

e o meu bairro tinha (e tem) a característica de estar cercada por subidas (ou descidas). além disso, mesmo lá dentro do bairro, havia umas subidas, digamos, de primeira categoria, como por exemplo a da sede do vitória.

poder-me-ão dizer que a subida da mira fernandes era uma coisa puxada, que a calçada - principalmente devido ao seu piso em basalto e ao constante tráfego automóvel - era também uma coisa complicada e até que quem se atrevesse a subir a do carrascal tinha que ter a sua dose de loucura.

mas friso, subir a silveira peixoto não era para todos. aliás eu arrisco a dizer que nunca ninguém subiu a aquela via.

ora, é com estes pressupostos - somados, eventualmente, ao facto de as minhas últimas experiências ciclísticas terem acontecido numa bicla «conquistada» nuns pontos de combustível e graciosamente cedida por alguém que prefere vê-la a andar por aí sob o meu rabo do que arrumada numa garagem - que eu peguei então na bicla do meu cunhado. o tal ferrari que referi logo no início.
cum raio, aquilo é tudo perfeito, simplesmente perfeito. caraças, a gente bota os pés nos pedais e tudo se encaixa. deixa de haver subidas.
eu às tantas estava a ver que tinha ganho 10 quilos de músculos nas pernas mas não, eram mesmo o raio das mudanças que funcionavam ali, pianinho, sem saídas de corrente, sem trec-trec-trec a roçar nos carretos, com a suspensão dianteira regulável para não andarmos aos solavancos quando subimos as ladeiras. é tudo mesmo perfeito.

e depois o peso. é pá, eu acho que a minha mulher tem talheres lá em casa mais pesados que a bicla. que maravilha!
não posso deixar de referir aqui os travões da menina. para quem passou dois anos - entre os meus 11 e os 13 - a gastar ténis porque os travões da roda traseira não funcionavam, obrigando-nos a entalar o pé entre o quadro e a roda para reduzir a velocidade, acreditem, ter uma bicla com travões de disco é, não só uma loucura, como também, no mínimo, bizarro.
andei nela umas meras duas voltinhas de 45 minutos cada. mas caramba, só o prazer de galgar subidas nela... e estou a escrever esta isto, páro, olho para trás e vejo, na mesma frase "prazer" e "subidas" e há realmente coisas que só acontecem quando andamos num ferrari!
e não, não vou referir nem marca nem modelo da bicla para não virem os eventuais comentários (ou emails) do costume a dizer que «não, não, máquina a sério é uma não sei quantos, por medida, com garfos de titânio ou lá o que é. mariquices, de quem quer - como eu - falar só por falar. como se não houvesse vários "escalões" de ferraris. como se eu dissesse que tinha conduzido um daytona ou um enzo e me viessem falar que o veyron mete os outros italianos a um canto.

são os mesmos comentadores que nos respondiam «ah, mas se fosse um ml63 é que tinha pinta!» quando relatamos que a gaja tinha a mania de nos deixar assapar com o ml350 do pai para as dunas do guincho, depois de nos pagar valentes mariscadas no muxaxo. ainda que lhes replicássemos que aqueles tetos valiam punham qualquer ml63 a um canto...

bom, vou-me calar!

1 comentário:

anonimo do livro disse...

Agora fiquei curioso, não com o "ferrari" mas sim com as voltas no ml63....


conta lá isso, conta lá....