a sílvia era uma miúda que sonhava ter nascido com mais um (dois, na realidade) palmo(s, na realidade) de altura para poder ter tentado a sua sorte como modelo. é certo que lhe faltavam muitas mais coisas caso quisesse mesmo abraçar essa carreira, mas pronto, a vida prega algumas rasteiras aos raios dos sonhos das miúdas.
eu penso que a falta de altura (vai na volta foi mesmo isso) lhe toldou as ideias ao mesmo tempo que, o facto de viver mais perto do chão, lhe permitiu construir um pedestal de auto-estima, irremediavelmente sólido.
por essas e por outras, qualquer cantoria que saísse da sua boca (e a voz, apesar de tudo, era a mais forte de todas as suas (públicas) virtudes), para ela soava como a barbra streisend no left in the dark ou a whitney houston no greatest love do george benson. e ai de quem a tentasse demover dessa ideia.
mas há uma altura em que as femininas acções de cabotinagem atingem o seu patamar mais sólido. e então, ali pelos seus dezassete, dezoito anos passou a referir-se à suas performances ou objectos da sua propriedade sem utilizar artigos indefinidos. eram tudo corrigo a indefiniçamentos, como diria o grande odorico paraguaçu.
assim, para quem tivesse a cara mais ressequida pelo sol da praia ela logo diria que tinha lá em casa «o creminho certo para aquela maleita» porque, obviamente todos os outros estavam obliterados pelo qualidade do seu.
nas saídas nocturnas não era capaz de deixar de aplicar a sua marca pessoal. quando íamos aqueles bares com música ao vivo, onde acompanhávamos o trem das onze com aquelas latas de coca-cola cheias de pedrinhas, para fazerem chic-chic-chic enquanto o gajo da guitarra dizia que morava em jaçanã, ela tinha a bela atitude de retirar-nos pedagogicamente a lata das mãos e, enquanto chocalhava, argumentar «eu é que sei a maneira de tocar o chochalhinho. ora vê lá!». recordo ainda que os nossos óculos não ficavam bem limpos com um pano qualquer mas sim com o paninho dela.
ficaram também algo famosas: a alface que ela tinha lá em casa para fazer a salada, a maneira certa de fazer um tal arroz, a escova de cabelo ou, quando um certo sócio a viu na rua carregando um saquinho, me disse tê-la visto, provável e obviamente, com o saquinho.
em pouco tempo, nalguns círculos, passou a ser tratada e referida como a artdef, precisamente por não usar artigos indefinidos mas unicamente definidos. uma maravilha!
estas sua característica aliada a uma repetida e usual mania de se auto proclamar arauta do bom gosto e da superioridade moral, valeu-me uns longos desaguisados. mas nunca a considerei uma valente cabotina por não ter maldade nem categoria para isso.
é o que eu chamo às pessoas que nem categoria para cabotinas têm, são meras artdefs. a blogosfera, claro está, é um ambiente com características ultra favoráveis para a proliferação da raça. elas andam por aí e, como dizia o anúncio, quando se vê uma, há pelo menos vinte escondidas.
há pelo menos meia dúzia de pessoas que ao lerem isto sabem de quem eu estou a falar. sabem que ela não se chama sílvia e sabem também que ela, no fundo no fundo, não era a barbra nem a whitney, mas cantava isto como mais ninguém.
lá está, ela sabia a maneira de cantá-la!
se lhes fizerem impressão assistir a power points com músicas de fundo - a mim, faz-me -, venham aqui.
eu penso que a falta de altura (vai na volta foi mesmo isso) lhe toldou as ideias ao mesmo tempo que, o facto de viver mais perto do chão, lhe permitiu construir um pedestal de auto-estima, irremediavelmente sólido.
por essas e por outras, qualquer cantoria que saísse da sua boca (e a voz, apesar de tudo, era a mais forte de todas as suas (públicas) virtudes), para ela soava como a barbra streisend no left in the dark ou a whitney houston no greatest love do george benson. e ai de quem a tentasse demover dessa ideia.
mas há uma altura em que as femininas acções de cabotinagem atingem o seu patamar mais sólido. e então, ali pelos seus dezassete, dezoito anos passou a referir-se à suas performances ou objectos da sua propriedade sem utilizar artigos indefinidos. eram tudo corrigo a indefiniçamentos, como diria o grande odorico paraguaçu.
assim, para quem tivesse a cara mais ressequida pelo sol da praia ela logo diria que tinha lá em casa «o creminho certo para aquela maleita» porque, obviamente todos os outros estavam obliterados pelo qualidade do seu.
nas saídas nocturnas não era capaz de deixar de aplicar a sua marca pessoal. quando íamos aqueles bares com música ao vivo, onde acompanhávamos o trem das onze com aquelas latas de coca-cola cheias de pedrinhas, para fazerem chic-chic-chic enquanto o gajo da guitarra dizia que morava em jaçanã, ela tinha a bela atitude de retirar-nos pedagogicamente a lata das mãos e, enquanto chocalhava, argumentar «eu é que sei a maneira de tocar o chochalhinho. ora vê lá!». recordo ainda que os nossos óculos não ficavam bem limpos com um pano qualquer mas sim com o paninho dela.
ficaram também algo famosas: a alface que ela tinha lá em casa para fazer a salada, a maneira certa de fazer um tal arroz, a escova de cabelo ou, quando um certo sócio a viu na rua carregando um saquinho, me disse tê-la visto, provável e obviamente, com o saquinho.
em pouco tempo, nalguns círculos, passou a ser tratada e referida como a artdef, precisamente por não usar artigos indefinidos mas unicamente definidos. uma maravilha!
estas sua característica aliada a uma repetida e usual mania de se auto proclamar arauta do bom gosto e da superioridade moral, valeu-me uns longos desaguisados. mas nunca a considerei uma valente cabotina por não ter maldade nem categoria para isso.
é o que eu chamo às pessoas que nem categoria para cabotinas têm, são meras artdefs. a blogosfera, claro está, é um ambiente com características ultra favoráveis para a proliferação da raça. elas andam por aí e, como dizia o anúncio, quando se vê uma, há pelo menos vinte escondidas.
há pelo menos meia dúzia de pessoas que ao lerem isto sabem de quem eu estou a falar. sabem que ela não se chama sílvia e sabem também que ela, no fundo no fundo, não era a barbra nem a whitney, mas cantava isto como mais ninguém.
lá está, ela sabia a maneira de cantá-la!
se lhes fizerem impressão assistir a power points com músicas de fundo - a mim, faz-me -, venham aqui.
2 comentários:
Bom, não é para mim, espero, estava só a oferecer ajuda para tirares a barra, se quiseres, não acho que seja a melhor a tirar barras do blogger.
Este powerpoint é de facto muito pirosinho.
pois é... de facto, há por aí muito boa gente que se acha dona da verdade. então quando se pensa que se é dono da verdade em termos de gosto, o chamado "bom gosto", é deveras irritante. e aí cai-se naquela do "aquilo de que eu gosto é que é bom e quem gostar do oposto, tem mau gosto, é rasca, é piroso ou, (o supra-sumo dos adjectivos) é possidónio". não há paciência...
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