sexta-feira, junho 15, 2007

mufla

se há coisa que os anos oitenta (e muitos setenta também) tiveram e que os noventa viram morrer, era uma catrefada de bares de música ao vivo (ou não) com banquinhos baixos.

ou será que eram as mesas que eram altíssimas?

ora bem, vamos lá a ver se eu me consigo explicar. eu gostava dos bares de música ao vivo. eu gostava dos bares, mesmo que só tocassem música gravada (assim, cassetes, estão a ver?). eu não me importava que esses bares servissem pipocas ou salgadinhos rançosos.

pensando bem, recordo-me que era sempre uma merda quando a noite corria bem e a nossa companhia, no meio dos meles - já ninguém diz meles, pois não? - nos dizia: acabei de tirar uma casquinha dum grão de milho dum dos teus molares. não te
estava a fazer impressão? estava lá entravincalhada, não era?

eu também gostava dos bares com banquinhos aveludados, assim com uns 50 cms. de altura. o que eu odiava era quando as mesas dos bares eram daquelas à altura do nosso joelho. ui o que eu odiava isso.

os anos noventa trouxeram coisas piores, foram do oito ao oitenta. passaram dos bancos à altura do joelho, para aqueles altíssimos que quase nos chegavam à altura das mamas. havia um bar no bairro alto onde eu, quando me sentava, ficava cheio de vertigens. também se calhar era do álcool. pode ter sucedido isso, é verdade.

depois,
sentados nos tais banquinhos baixinhos ficávamos, assim, meios marrecos e tal. uma merda, uma merda.

nunca me dei também muito bem com aquelas latinhas com pedaços de arroz cru, para fazer tsh-tsh-tsh acompanhando o ritmo do músico. músico esse que não era capaz de terminar a noite sem incluir no seu repertório uma destas três músicas: o gracias à la vida da elis, o trem das onze da gal ou o don't play that song do calentano.

havia um bar - ora bem, aquilo não era bem um bar, era um.... vamos lá ver, era um sítio, pronto - ali para os lados do quelhas que tinha coisas que eu gostava muito: chouriço assado, caldo verde e baratas. chamava-se (chama-se?) mufla e era bestial. que maravilha.

já lá vão uns anos valentes. julgo que ainda o frequentei com meia branca. pois, isso já não tenho a certeza. mas que me viram lá entrar de sapatos lotusse preto e calças de ganga, ai isso foi certinho. é a vida. um gajo mete-se em modas e depois dá nisto.

hoje, no telefonia do carro, ouvi uma música que tocava... ora deixem-me fazer aqui umas contas.... humm... sim, todos as noites em que eu lá fui, ouvi o frampton comes alive. era certinho comó destino, terminava o disco do frampton e começava o just one night do clapton e depois voltavam a repetir o frampton. como eram dois discos bestiais, ambos duplos, nunca ninguém se chateou com a coisa. acho que até nem as baratas se preocupavam.

hoje ouvi o do you feel like we do e aquilo é uma coisa maravilhosa. tem aquela cena de ele por aquela mangueirinha na boca - como o sambora também faz - fazendo aquela voz metálica: doooo youuu feeeel likeeee weeee doooo?

este clip só tem cinco minutos e tal. a versão do disco tem mais de dez. em 1998, na expo, tive oportunidade de o ouvir tocar. maravilha. já não se fazem guitarristas destes.

e muito menos bares como o mufla.


6 comentários:

Gonçalves disse...

Se a asae fiscalizasse a mufla ficaria chocada, só não mandava selar por respeito e quem sabe medo até, do ar austero e imponente do preto quando abria a porta. Muito bom o chouriço assado.

Di Napoli disse...

Vá lá! Ainda há quem se lembre do mufla...
Também andei por lá, também. Mas acho que foi depois da "meia branca". :)
Aquele abraço!

Papoila disse...

Eu digo meles!
E também acho um piadão a esses bares, têm um não sei quê de decadente (esta minha cena com o decadente ainda há-de dar um post) que adoro!
Assim de repende a mim, moça de finais dos 70, alembra-me o Golden no monte e o Henessy's (é assim que se escreve não é?) no cais... bem fixes!

Anónimo disse...

Epah adorei...

tu lembras-te de cada coisa, e depois consegues fazer um retrato muito bem esgalhado da coisa.

Bestial...

Um abraço

just me disse...

Só tu para escreveres sobre o Mufla! Grandes fins de noite passei lá!

janico disse...

Belos tempos em que se saía das boites/discotecas e de manhãzinha ia-se ao Mufla comer o chouriço e o caldo verde, com a inqualificável "simpatia" do rapaz que abria a porta e nos servia. Outras vezes eram os bolos na praça do Chile. Inesquecível.