terça-feira, maio 06, 2008

blind curve

Last night you said I was cold, untouchable
A lonely piece of action from another town
I just want to be free, I'm happy to be lonely
Can't you stay away?
Just leave me alone with my thoughts
Just a runaway, just a runaway
I'm saving myself.

para o engenheiro vaz n.,

estou a trabalhar e em vez de coisas soltas, embaralham-me o pensamento algumas frases musicais avulsas, coisas disparatadas: «last night i said i was cold, untouchable...» e mais uma vez viajo.

afinal a coisa não é assim tão disparatada.

preciso de escrever mais alguma coisa para a minha mulher não vir com aquela conversa do «aquilo tinha a ver comigo?...»

este disco, misplaced childhood, é mais ou menos como os padrinhos, nós colocamos o primeiro dvd só para ver aquela parte do casamento da connie e quando se dá por ela passaram-se nove horas e estamos a assistir ao berro do alfredo pacino quando a filha mary leva um tiro, no final do padrinho iii.

este disco é para se ouvir sem intervalos, sem singles

aliás, eu tenho para mim que quem gosta mesmo deste disco, e dos marillion em geral, não tem muita paciência para o keyleigh ou o lavender. gosta, tudo bem, mas não os concebe como canções isolados.

sem paragens, com headphones,

isto com um dvd audio 5.1 deve ser uma coisa gira, deve.

de olhos fechados ou de olhos bem abertos, com a capa do disco na mão, a seguir as letras do escocês derek dick

meu deus, já fez 50 anos no dia neste último 25 de abril, credo!


ou a observar com muita atenção, todos aqueles pormenores daqueles desenhos das capas: as referências aos anteriores discos, o the wall, etc...

tenho saudades, imagine-se, de anúncios de rádio a discos. sim, a discos. antigamente havia publicidade a discos. e este éle pê dava-se a jeito para publicidade. eu já não me recordo muito bem da coisa e também não há nenhum iu tube de coisas da rádio para procurar spots de rádio da emi portuguesa, mas aquilo começava precisamente com os primeiros acordes do pseudo silk kimono e depois surgia, sobreposta, a voz do jaime fernandes - ou quem sabe do morrison. olha, quem conhecer algum deles que lhes pergunte e depois me diga, sim? - assim, muito formal, a publicitar a coisa.

eu nem sei se foi o disco que mais vezes ouvi, também não consigo avaliar se é o que eu mais gostei, sei é que para mim, assim duma forma consistente, fundamentada e outros adjectivos que ficariam aqui sempre bem mas que agora não me ocorrem, este é o melhor disco dos anos oitenta. pronto, tá dito!

eu não gosto de lhes chamar uma coisa conceptual, nem sei bem o que é isso, eu sei é que distingo bem uma ou outra canção do script ou do fugazzi (o clutching, já não apanhei a tempo. mas tenho esperança de um dia apanhar), sei lá, o chelsea monday, o assassing (que tem uma versãozorra do camandro no real to reel) ou o emerald lies. estes sim, são singles puros. no misplaced, não. aqui, repito, não há singles. por isso, sempre me referi a partes do disco: «ah e aquela do bridges are burning burning e tal, gosto muito...», « agora, agora, o que ando mais a curtir é o the sky was bible black in lyon» e por aí fora.

eu acho que não me estou a fazer entender muito bem, mas estou a tentar dizer que não consigo pronunciar textos deste disco sem associar aos sons, principalmente guitarrais, que aparecem um tiquinho antes ou depois.

e eu aposto que o nápoles está a ler isto com os músculos da cara contraídos, provocando-lhe aquele sorriso malandreco. vai na volta está até com a mão direita no seu mouse macintosh, enquanto que a esquerda suporta a sua cabeça ali no queixo, num gesto que é um dos seus logótipos com mais de vinte anos.

estavas?


vejam comigo, conseguem dizer sem problemas a frase «it's been 7 hours and 15 days since you took your love away», não conseguem. e depois lá pensam um pedaço e até vêem que é lá do prince e tal, certo? pois comigo, lá com as coisas do misplaced é diferente, é como se as palavras estivessem embebidas, besuntadas, intimamente ligadas aos sons que as envolvem.

eu leio «and it was morning, and i found myself mourning (rima do caralho) for a childhood that i thought had disappeared» e na minha cabeça está um teclado do mark kelly ali a pairar, enquanto a guitarra do badochas do steve rothery esgalha um ti-tiquiti-titi-tiquiti, entendem?

não pois não? tudo bem. podem começar a chamar-me de parvo que eu não desisto.

a estrofe com que iniciei este post, por exemplo, para mim aquilo está enleado, mais uma vez, por aquele som dos teclados ali a pairar, a bateria a dar cadência à coisa, o ritmo a demarcar-se e depois entra o fish com aquela voz de highlander como que a juntar uma última peça dum puzzle.

cliquem no play deste video aqui em baixo. as imagens, curiosamente, são do hannibal do ridley scott. abstraiam-se das imagens, cliquem aqui, vão até sensivelmente a meio da página, à parte que tem como título blind curve e deixem-se ficar por ali abaixo a seguir aqueles textos.

pronto, vou-me embora. desisto, não consigo explicar porque é que "também" este é o melhor disco dos anos oitenta.


2 comentários:

Di Napoli disse...

Acho que já uma vez te disse algo do género... E agora, repito-o: tu escreves como poucos, irmão! E nem conheço sequer alguém que escreva assim sobre o "Misplaced Childhood"!

É "o" disco, sem dúvida!

(E estou, sim, com o Mac-rato na mão direita, e com "esse" sorriso, e com o queixo assente na mão esquerda... Tu conheces-me, pá! :) )

Acho que também sei as letras quase de cor...

(O "Heart Of Lothian" foi uma das poucas músicas que cantei, a plenos pulmões, em concertos - foi na Aula Magna, quando ele cá veio em 2006!)

Tu acreditas que fui resgatar o "Market Square Heroes" ao baú das recordações, aqui há uns meses? Que som fantástico, também!

Aquele abraço! :)

Bic Laranja disse...

A carga dos textos não sei. Nunca lhes dei muita atenção. A carga da mescla canto/música caiu-me de supetão em cima, com o peso de todos os anos para trás até 85, quando ouvi o álbum comprado em saldo ao fim destes anos todos. Não voltei a ouvi-lo. Não que não goste, mas neste caso não me apetece voltar...
Grande texto. Abraço!