Há precisamente 32 anos, escrevi o meu primeiro texto. Eu tinha 5 anos e decidi mandar um postal à minha avó Trindade que morava em Guide - lê-se güide - (terra do meu pai), freguesia da Torre de Dona Chama, concelho de Mirandela, em Trás-os-Montes profundo.
O texto rezava o seguinte:
"Este postal é uma igreja. É italiana.
Querida avozinha:
quando vem para Lisboa?
Já tenho muitas saudades suas.
Que é feito do Mário João?
E o Sr. José? Os meus pais e toda a família estão bons.
Um abraço de todos para a avó.
Um beijo do seu neto Pedro Miguel.
O meu pai pede para a avó lhe mandar a serra grande que o pai lá deixou que faz falta.
Lisboa
3/6/1974"
Sobre este assunto tenho a dizer o seguinte:
1) reparo que os meus textos foram todos escritos, já depois de terminada a noite negra do fascismo. são pois, escritos de liberdade.
2) acho que logo no início estou a passar um atestado de ignorância à minha avó. então não se percebe logo pela legenda, que o postal se refere a uma igreja italiana?
3) o meu amigo Mário João já ocupava um grande canto no meu coração. o mesmo se passava com o seu pai, o senhor José. contudo, desprezo por completo toda a minha restante família paterna que morava na mesma aldeia.
4) o recado sobre a serra grande parece uma espécie de "ele que peça aquilo à avó que nós não temos coragem para tal."
5) caligráfica, gramática e sintaticamente continuo a nulidade de sempre.
2 comentários:
Escritos de liberdade preso em casa. A tua mãe não deixava brincar na rua. A tua avó, que nos confundia desde a varanda afligia-se sempre que me via na rua, a mim e não a ti, jogando à bola em liberdade:
- Ó Pedro! Que andas a fazer aí na rua? Vem para casa!...
Cumpts.
Deliciosos 5 anos! (a tua mãe não te deixava brincar na rua?!)
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