quinta-feira, junho 08, 2006

Mãejinha!

Li noutro dia um texto que me despertou para algo que já rondava cá na minha cabeça há uns tempos. Acho que cada vez mais, as mães ditas "modernaças" (e isto não é nada depreciativo) se esquecem do quanto é importante ser uma mãe à antiga.

Bem sei que isto que se escreve - e principalmente, se descreve - nos blogs, anda inúmeras vezes longe da realidade. Mas ainda assim, eu cada vez mais encontro nas mães "escritoras" (e isto também não é nada depreciativo) uma ausência ou talvez um decréscimo de atitudes que se podem considerar conservadoras (ou não) ou antiguadas (novamente sem ser pejorativo).

E já vou no terceiro parágrafo e o meu texto não está a ir para onde eu gostava que ele fosse. Eu ando nos parques infantis e vejo os pais com uns cuidados excessivos em relação às crianças: "não subas para aí", "olha que a areia pode ter micróbios", "ai meu rico filho tem cuidado com o baloiço", "ó Ricardo Jorge, se me cais ao chão arrancas-me o coração", "não ponhas isso na boca", "não bebas do copo desse menino", etc... Eu cada vez encontro menos mães que dão comida normal às criancinhas, assim tipo, pão, grelos, couve lombarda, chicha, açorda, iscas, pézinhos de coentrada, borrego, coelho, chamuças, etc. As comidas que eu vejo as criancinhas comer é tudo Milupa, Nestlé, Blédina.... há mais marcas? Haverá mães que ainda cosam? Ou é tudo feito nas lojas da Retoucherie de Manuela? É preciso sair das reuniões de pais com aquele ar de que o filho vai ser um infeliz para o resto da vida, só porque em vez de picotar o pintainho picotou a mochila?

Eu começo este quarto parágrafo, olho para cima e isto parece um texto sexista cumó diabo. Para acalmar as hostes, vá voltem a ler isto desde o início e onde está a palavra mãe, podem pôr a palavra pai. Vai dar no mesmo.

Quererei com dizer com isto que sou um pai diferente dos outros? Não, longe disso. Aliás, muito longe disso. E sem mas. Não sou e ponto final. Eu acho é que isto da paternidade e da maternidade moderna está cada vez mais cheia de mariquices, paneleirices e outras cosquices. Agora encontram remédio para tudo: se é fanhoso vai ao terapêuta da fala, se está triste vai ao pedopsiquiatra, se chumba é uma carga de trabalhos, se o percentil está irregular, ui, "o que fizemos nós para a criança ter nascido assim".

Eu cheira-me que anda por aí uma onda excessiva, um kharma qualquer, um Feng Shui de Alguidares de Baixo que proclama que têm de se criar criancinhas demasiado perfeitas. Ou, pronto, vá lá, sem defeitos, nem cicatrizes ou remoínhos no cabelo.

Get a grip, pessoal!

pré-resposta a possíveis comentários: não, não vão por aí, para esse peditório eu já dei.

17 comentários:

Anónimo disse...

Percebo, concordo e assino por baixo...

Mas os pais que tu conheces ainda levam as crianças ao parque... esqueceste-te dos que as "fecham" em casa em frente à Playstation, ao Gameboy ou à TV...

Lembro-me que quando era pequena (ok não conta o meu metro e meio... falo de idade)adorava que a minha mãe me dissesse: "hoje o dia é por tua conta"... e eu pedia para ir ao Jardim Zoológico, à Feira Popular (sim... também me davam ataques sérios de pimbalhice),ao jardim de Belém para andar descalça na relva, ir à praia de Inverno e depois vir para casa toda encharcada porque apanhava a mãe distraida e lá me metia na água...

Eu sou muito fascista (e ainda não sou mãe... espero não morrer pela boca quando o meu bebé nascer), mas acho os pais de agora uns chatos quadradões que devia ser obrigados a viver a sua infância como estão a obrigar os filhos a viver a deles...

E depois que não viessem para cá chorar a pedir pão com Tulicreme e Kaprissone (era assim que se escrevia?)... levam com o danoninho com multivitaminas e bifidus activo e já vão com sorte....

Rita

PS. Se não quiseres "postar" o "comment" percebo... estiquei-me um pouco...ops... "esculpas"????? "esculpas"?????

Márcia Carvalho disse...

iaaa páa o Karpissone!!!

Olha eu cá acho que tens alguma razão... enfim... o mundo está a levar-nos para esse caminho. Hoje já nem que queriam conseguem partir a cabeça nos baliços, aquilo é tudo borracha! No entanto acho que há muitos outros a pensar como tu e a tentar fazer melhor! Na medida do possível eu tento... (deixaste-me com vontade de pensar sobre este assunto e por isso não me alongo mais)

just me disse...

Acho que a nossa (?) geração deve ter sido muito infeliz a brincar na rua à vontade, andar a assapar nas biclas, a comer gelados das carrinhas que andam nas ruas a vender, a passar as tardes na brincadeira, a ter as pernas cheias de cicatrizes com histórias para contar,etc!!! O trauma deve ser tal que deu nisso! Nos parques para mim é na base do : Ai caiu?? Levanta-te!!!Tem nódoa negra? Isso passa!!! E por aí adiante!
E agora vê lá se escreves qualquer coisa parva que eu estou farta de concordar contigo! :D

Karla disse...

Eu passo a vida com o coração na boca de cada vez que ela cai - e ela cai muitas vezes. Não sei coser e detesto grelos, couve, iscas e pézinhos seja do que for. E já disse que tudo o que me sirva para me facilitar a vida é bem-vindo.

Mas a Inês gosta de pão e chamuças, tem um remoinho no cabelo e eu adoro. E eu ainda tenho esperanças de poder criá-la (e à próxima) mais ao ar livre do que até aqui :)

Ana Rute Oliveira Cavaco disse...

primeiro impulso: esganar-te.
sim, sou daquelas mães que se sentam no banco do jardim e que não entra em histeria a cada tropeço.
sim, ele é dos pais que acha que um raio de Sol vai fazer com que fique doente.

mas ainda sou daquelas mães que dão comida saudável com couves e afins aos filhos.

as blédinas são mesmo para as viagens.

estou perdoada?

Xana disse...

Olha, eu não sei se sou modernaça ou não, mas ainda ontem cosi uma t-shirt cheia de botões para a miúda.

Nunca dei comida de boião à criança mas às vezes não me apetece fazer jantar e come uma coisa qualquer (tipo pescada cozida com batata e ovo).

Não ando sempre a correr atrás dela nos baloiços e no outro dia até mandou um espalho tal que ficou com a boca cheia de sangue. Fiquei toda tremeliques e mandei um guincho histérico, mas continuo a não andar atrás dela.

Eu acho que antes se era mãe e pai de uma forma mais despreocupada. Tinha coisas boas e coisas não tão boas, mas agora também acho que se está a cair noutro exagero. Eu acho que o problema nem é só as crianças terem que ser perfeitas, mas também os pais sentirem essa necessidade.

Hoje vinha no carro chateada comigo própria porque ultimamente só me apetece mandar berros à grande e ando sem paciência nenhuma, e vinha cá a pensar que se fosse há uns anos mandavam-se os berros e pronto, mas agora há uma espécie de perfeccionismo associado a isto da maternidade e paternidade e todos achamos que temos que dar o nosso melhor e tal.

Eu vinha a pensar que se calhar não me devia chatear e pronto, e eu sou mesmo assim, e se lhe mandar uns berros paciência, ou então não e tento controlar-me, o que não tenho é que me sentir na m**** cada vez que a coisa corre menos bem.

(M**** no teu blogue não faz mal, pois não?)

Mas isto sou só eu a mandar bitaites.

Rita Quintela disse...

:)

bree disse...

Talvez também por isso que falas neste post, ainda não tenha dado o passo (q já tarda) de ser mãe. Ponho-me a ler baby-blogs e pronto, acho q se ser mãe é passar a vida com esse tipo de "mariquices" como tu dizes e com razão, deve ser um stress e uma pressão enormes.
Só desejo ser tão boa mãe como a minha foi para mim. O resultado da educação dela (e do meu pai) até nem foi mau. Mas receio que se hoje for igual ao que ela foi há 30 anos, me chamem de irresponsável para cima. E tu sabes bem onde eu nasci/cresci, não sabes? Fui uma criança livre, parti a cabeça, tenho uma data de cicatrizes nas pernas e às vezes até erva comia. E fui tão feliz...

Elora disse...

Antigamente é que era tudo bom, já a minha avó dizia.

S.A. disse...

Ainda no outro dia falava disso com um colega meu... ao menos temos consciência do "mal" que fazemos... já é meio caminho andado!

;P

Ana F. disse...

Subscrevo o comentário da Elora: quando somos pais, dizemos que a nossa educação é que foi. Quando os nossos filhos forem pais, dirão o mesmo, e assim sucessivamente...

Mas concordo que, hoje em dia, há um exagero mesmo patológico em querer que os miúdos sejam perfeitos!

Zuza disse...

As mães “à antiga” leram o Brazelton???
:D

anne disse...

Depende das situações, ontem o meu filho chegou a casa com a gengiva roxa e um dente a abanar, e a mim só me apetecia mandar dois berros à educadora. Sim fiquei um bocado histérica, mas um filho desdentado não por favor.

Francisca disse...

E isto tende a piorar, não acham?

Anónimo disse...

Um artigo anti-metromaternal. Concordo!

Anónimo disse...

Nascidos antes de 1986


De acordo com os reguladores e burocratas de hoje, todos nós que nascemos nos anos 60, 70 e princípio de 80 não devíamos ter sobrevivido até hoje, porque as nossas caminhas de bebé eram pintadas com cores bonitas em tinta à base de chumbo que nós muitas vezes lambíamos e mordíamos.
Não tínhamos frascos de medicamento com tampas "à prova de crianças" ou fechos nos armários e podíamos brincar com as panelas.
Quando andávamos de bicicleta, não usávamos capacetes.
Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e airbags - viajar à frente era um bónus.
Bebíamos água da mangueira do jardim e não da garrafa e sabia bem. Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos gasosa com açúcar, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora. Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos disso.
Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pelo monte abaixo, para só depois nos lembrarmos que esquecemos de montar uns travões. Depois de acabarmos num silvado aprendíamos.
Saímos de casa de manhã e brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa antes de escurecer.
Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.
Não tínhamos Play Station, X Box. Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVD, Chat na Internet.
Tínhamos amigos - se os quiséssemos encontrar íamos à rua.
Jogávamos ao elástico e à barra e a bola até doía! Caíamos das arvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem processos em tribunal. Havia lutas com punhos mas sem sermos processados.
Batíamos às portas de vizinhos e fugíamos e tínhamos mesmo medo de sermos apanhados.
Íamos a pé para casa dos amigos. Acreditem ou não íamos a pé para a escola; não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.
Criávamos jogos com paus e bolas.
Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem, eles estavam do lado da lei.
Esta geração produziu os melhores inventores e desenrascados de sempre. Os últimos 50 anos têm sido uma explosão de inovação e ideias novas. Tínhamos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade e aprendemos a lidar com tudo.
Esta mensagem é para aqueles que tiveram a sorte de crescer como verdadeiras crianças, antes dos advogados e governos regularem as nossas vidas, "para nosso bem".
Para todos os outros que não têm idade suficiente pensei que gostassem de ler acerca de nós.
Isto meus amigos é surpreendentemente medonho ... e talvez ponha um sorriso nos vossos lábios:
A maioria dos estudantes que estão nas universidades hoje nasceram em 1986...chamam-se jovens. Nunca ouviram "we are the world" e uptown girl conhecem de westlife e não Billy Joel. Nunca ouviram falar de Rick Astley, Banarama ou Belinda Carlisle.
Para eles sempre houve uma Alemanha, um Vietname e um 25 de Abril.
A SIDA sempre existiu.
Os CD's sempre existiram.
O Michael Jackson sempre foi branco.
Para eles o John Travolta sempre foi redondo e não conseguem imaginar que aquele gordo fosse um dia deus da dança.
Acreditam que Missão impossível e Anjos de Charlie são filmes do ano passado.
Não conseguem imaginar a vida sem computadores.
Não acreditam que houve televisão a preto e branco.

LP disse...

Não, não me apeteceu esganar-te ao ler isto - antes pelo contrário. Tudo o que dizes é verdade e, embora eu seja muito prática e aproveito todas as modernices que me facilitem a vida (boiões incluídos) não me considero muito picuinhas e deixo-os muito à vontade. O pior é que quando acontece alguma coisa, penso sempre se o poderia ter evitado...