segunda-feira, março 14, 2005

Cigarra



Não gosto dos arranjos e das produções dos seus discos de 1986 em diante. Aqueles sintetizadores a imitar violinos e instrumentos de metal tipo Kenny G; aquelas espanholadas, os discos com canções de Natal, tudo isso me tira do sério.

Gosto de guitarras acústicas, de órgãos Hammond, de pianadas intimistas de bar de hotel e daquela voz grave, tenebrosa e melancólica do Quatro Paredes, do Gotas d'Água, do Face a Face e do Cigarra. O Pedaços é aberta, manifesta e declaradamente o melhor disco de música brasileira de sempre (e estou pronto para a porrada se alguém me quiser desdizer).

Em 1980, gravou um disco ao Vivo no Canecão, que é de certeza aquele que mais vezes ouvi em toda a minha vida, ao ponto de o saber de cor e salteado (sim, também o sei de forma salteada)

Pela terceira vez, em toda a minha vida vou vê-la ao vivo (na realidade é a 4ª, mas da primeira eu tinha apenas 11 anos e não me lembro de rigorosamente nada). Bem sei que este último disco que ela vem apresentar não é o seu melhor disco. No entanto, aquela voz....

Hoje estou em estágio. Logo à noite é chegada a hora. Meus amigos, a partir das 21h30 no Coliseu dos Recreios, não é para quem quer nem para quem pode, é para quem ama.

Simone (com uma estrelinha na pintinha do i)

"E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

O que será que lhe dá
O que será meu nego, será que lhe dá
Que não lhe dá sossego, será que lhe dá
Será que o meu chamego quer me judiar
Será que isso são horas dele vadiar
Será que passa fora o resto do dia
Será que foi-se embora em má companhia
Será que essa criança quer me agoniar
Será que não se cansa de desafiar
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo"

1 comentário:

ni disse...

Pois eu tb queria ver... mas tenho aqui em casa uma cachopita que ainda não me autoriza...
Um dia destes, voltarei a essas lides!