segunda-feira, novembro 02, 2009

xô sérgio

de maneiras que ao que parece finou-se o antónio sérgio.

de maneiras que ao que parece também fica bonito escrever qualquer coisa com aquele ar de «as inúmeras janelas que ele me abriu para o mundo musical e blah, blah, blah...»

lamento mas não me incluo nesse lote. a culpa, claro, não é do antónio sérgio, coitado.

bom, vamos por partes: se há grupinho "irritanchi à beça" no panorama da fauna musical portuguesa, são, obviamente os antigos vanguardas, posteriormente indies e actualmente alternativos. se há grupo com maior percentagem - cerca de 95% - de pessoas com aquele ar «isto aqui é que é bom, aquilo aí que tu ouves é foleiro e menor» são estes que referi atrás. sei do que falo, frequentei essas «zonas zoológicas» e realmente aquilo cansa. cansa porque tem coisas (musicais) muito, muito más.

pior, confundem alegria com brejeirice e confundem brejeirice com mediocridade. poderia dizer que os metaleiros e os clássicos (antena 2) também são um bocado assim. aceito, tudo bem. mas os alternativos metem essa malta toda num cantinho.

o problema é que entretanto essas pessoas crescem e não mudam. ora eu não peço que mudem de gostos, mas peço, cum raio, que deixem de vez a atitude pedante.

já não temos 16 anos. já lá vai o tempo em que ter uma t-shirt com a foto do garlands ou do porcupine era um santo e senha para se ser «aceite».

ora, todo esse grupinho, está hoje de luto pela morte do senhor sérgio. é claro que o senhor sérgio não tem culpa nenhuma das atitudes pedantes dos seus seguidores. não podemos culpar o menssageiro pelo efeito da mensagem. longe, muito longe disso e é certamente uma afronta eu falar sobre esta coisa no mesmo texto sobre o antónio sérgio. mas não resisti, confesso. foi mais forte que eu.

eu lamento a morte do antónio sérgio porque lamento o desaparecimento duma característica que ele tinha ao qual eu tiro o chapéu. ele foi o último dos moicanos, o último dos radialistas da sua geração (e da geração dos que punham discos na rádio quando eu ainda não tinha pêlos nas partes de baixo - nem nas de cima!) que não trabalhava com playlists. se há coisa que eu odeio são programas com playlists. ou melhor, eu tenho é pena de não haver mais programas daqueles em que os senhores que iam lá pôr música, pegavam num molho de discos escolhidos previamente e «olha, hoje toco estes.» assim, sem mais, apenas porque lhes deu na veneta.

e por isso, caramba, aqui fica a minha chapelada ao antónio.

(e não há um caralho dum vídeo no you tube com os xutos a tocarem o som da frente!)

3 comentários:

Di Napoli disse...

Bom texto, irmão. E percebo-te. Posso não concordar 100% contigo, mas percebo-te.

Eu continuo a gostar muito de ouvir (independentemente do significado da música, ou da letra, ou de ambas) músicas como o "Uncertain Smile", como já escrevi, ou o "Transmission", ou o "Song to the Siren", ou muitas outras coisas giras que ele tocava na nossa altura. Apesar de hoje (como dantes, de resto) ouvir também outras que pouco ou nada têm a ver com essas.

Agora, não me parece é que, lá pq já não temos dezasseis anos, temos que deixar de gostar do que era "de vanguarda". É isso? Se é, não concordo.

Muitas dessas músicas lembram-me pessoas, ambientes, alturas giras das nossas vidas, pá. Também por isso gosto de as voltar a ouvir, entendes? Talvez não o faça com grande frequência, mas, também, e desde essa altura, muitas outras músicas surgiram e completaram o meu "quadro" musical - aquilo que gosto de ouvir.

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Não serei grande exemplo, mas eu nunca "usei" (expressão forte, esta!) as músicas de vanguarda para entrar em grupos, ou sequer para "ser aceite". Simplesmente, gostava de algumas delas. Por isso, estou à vontade. Olha, para tu veres, não gostava - e ainda não gosto muito - dos Bauhaus; os Joy Division diziam-me pouco na altura mas, recentemente, comecei a ouvi-los com mais atenção e acabei por comprar os seus discos de originais. Gostos... :)

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Quanto ao que escreves sobre a "pureza", ou grande liberdade, do seu método - sem as tais playlists - assino por baixo: "Chapeau!"

Aquele abraço!

Pitx disse...

(a ver se nos entendemos)

- eu não respondo a comentários, como sabes. respondo, a uma ou outra pergunta que por vezes me deixam por aqui ou pela caixa de emails.

- por ser para ti, farei as duas coisas.

- era o que mais faltava que o avançar da idade nos «obrigasse» a deixar de ouvir as coisas que tínhamos da alma aos 15, 16, 17 ou até aos 12 anos.

- o que eu critiquei (e critico) é a mania que esses 95% de que falei no post, tinham, têm e terão em relação às músicas que decidiram gostar.

- se te sentes nos restantes 5% a que aludo (é claro que tens que te sentir, mano!) não te poderás sentir atingido. mas tenta ler as coisas do camacho na gq; abre os ouvidos às conversas nas filas dos concertos dos editors; dá atenção àquele caralhinho que estas pessoas disseminaram de roubar os artigos definidos quando se referem aos seus grupos («vais ver franz ferdinand?», «gostas de killers?», «tens beirut no teu ipod?»; etc.

- meu menino, sei do que falo. andei bem metido, enxertado, nesses meios, conheço bem o espírito da maioria dessas pessoas. são, como diz o outro, uma jóia de pessoas, mas francamente cabotinos em relação aos seus gostos musicais e que seguiam assustadoramente as opiniões de duas pessoas em portugal: o antónio sérgio e o mec.

- eu adoro que as pessoas gostem de música, seja ela qual for: vanguarda, metal, pimba, seja lá o que for. eu próprio, como sabes, não consigo viver sem música. mais, tenho a veleidade de julgar que senti em todos os mais marcantes momentos da minha vida música a tocar como se fosse a banda sonora de um filme. por isso, julgo que houve em certo e determinado momento da minha vida umas colunas a tocar ali, sei lá, deixa cá ver: na escada ao lado da sinfonia; por volta da tevel; nas bancadas da fnat; junto àquela escola que há ali algures no quarteirão que fica lá para trás do cc alvalade; no pavilhão de exposições da tapada da ajuda, etc.

- como sabes, dentro do meu espectro musical, há muitas, muitas coisas dentro da onda do antónio sérgio (bauhaus incluídos. já gora, tenta perceber como é que esses caralhinhos, com que forma cabotino eles pronunciam bauhaus. é assim uma espécie de bah! aus.). e continuo a gostar de gostar. mas o meu espectro é muito, mas muito mais abrangente que isso e só encontro virtudes nisso. os súbditos do antónio sérgio não pensam nem nunca pensaram assim. é aquilo que venha de negro e não é mais nada. opinião que faria arrepiar, acredita, o próprio antónio sérgio.

- repito, o que mais me marcou no antónio sérgio só se revelou nestes últimos, vá lá, 20 anos, quando cresceu a minha pena em não encontrar programas construídos com base nos gostos das pessoas que os apresentavam. chamem-se eles antónio sérgio, adelino gonçalves, henrique amaro ou joão chaves.

dúvidas?

Di Napoli disse...

Dúvidas? Não há, nem pode haver! :)
Aquele abraço!