sexta-feira, março 18, 2011

jantares de borla

é habitual lermos certas entrevistas onde a pergunta 17 é inevitavelmente aquela que faz referência à questão jetsetsetiana-celebridademental da coisa:

- se tivesse oportunidade de jantar com alguém, quem escolheria?

mandela, mourinho, ghandi, churchill, pelé, madre teresa de cálcutá... por aí, tantas pessoas que já foram resposta a essa pergunta.

não tenho nada contra isso. não tenho nada contra heróis. é bonito, é pôr «ventarola» na nossa vida. ventarola é das coisas que mais perdemos com a «idade». idade é das coisas que mais ganhamos quando perdemos a ventarola (sim, estou quase com os copos: duque de viseu, promoção do continente...).

eu não tenho ninguém «com quem quisesse jantar». não tenho e não tenho pena. também não sou deslocado do mundo e, afirmo, tenho os meus heróis. sério, tenho!

mas tenho é sorte: eu posso ter um jantar, à distância de um telefonema (vá, dois telefonemas), com as pessoas que eu realmente admiro no mundo. tenho sorte, porra!

e quem diz jantar, diz, por exemplo, pedir companhia para ir pôr os boletins do euromilhões ou safar-me caso precise de comprar dois pares de palmilhas de cortiça para as botas que o meu cunhado me deu e que são um número acima mas que com as palmilhas estão ali prontas para fazerem mais uns 2 anos de caminhada. ai não, espera, já as passei ao meu pai porque entretanto comprei umas mais bacanas e calhou serem do meu número e sendo assim, o meu pai, coitado, lá com o frio que passa e tal sempre se sentiria.....

vi há pouco um programa de tv que adorei. estava a olhar para aquilo e a pensar «programa do catano». fui ver a ficha final e, lá está, um dos gajos que o ajudou a fazer cumprimenta-me habitualmente com dois beijos e um encosto de ossos. se quero jantar com alguém que admire? aí está um deles.

a pessoa que mais gosto de ler é meu amigo desde sempre. quando estou a ler um post, um email para as finanças, um email para um cabrão que andou a dar-lhe baile por causa de um logotipo, quando estou a ler aquelas coisas penso «escrita do catano». se quero jantar com alguém que admire? aí está um deles.

há um gajo com quem contacto bimestralmente e que tem um tacto inusitado com bebés. o gajo vê um bebé ao colo da mãe lá no trabalho dele, começa com bilú-bilú-bilú (tetéia?), eles estão naquele berreiro dantesco, começam a sorrir, a baba a escorrer-lhes do queixo para a medalhinha que a tia ofereceu no baptizado, pendurada ao pescoço, as mamãs a aliviarem-se com a cena e a cederem o bebé, truz! no momento seguinte está o petiz no colo dele a rir-se desalmadamente, num cabrão dum mistério que me deixa de boca aberta. estou a olhar para aquilo e penso «como é que este gajo faz aquilo?» se quero jantar com alguém que admire? aí está um deles.

os amigos com quem almoço ou janto são assim, são pessoas com quem eu gosto e quero jantar. ensinam-me coisas, mostram-me merdas que eu gosto, contam-me curiosidades: porque é que os aviões que vão para américa dão uma volta ao bilhar grande e não vão a direito pelo atlântico; como são os barcos que estão submersos no mar vermelho; quem é que manda naquele canal de televisão do diário económico; sim, o steve vai fez mesmo parte dos whitesnake; que o transact tem elementos (ou merdas, ou cenas ou....) do brufen; «olha aqui o que o sting inventou nesta parte do englishman in ny»; o que faz agora o tiff needell; como é que os dinamarqueses dizem «pois... sim, pois, pois.... compreendo... hã, hã....»; por que é que é importante a edição em vinil do paradise theatre....

sério, ou sou eu que tenho muita, muita sorte, ou então tenho substitutos mais bonitos para o mourinho, o mandela, o rónaldo (é com acento, não é? não? então?),

juro!

1 comentário:

Aninhas disse...

Nem imaginas como concordo com este teu post!!!
Eu tb tenho essa sorte;o tal jantar ou almoço fica tb à distância de um ou dois telefonemas.
E basta-me só dizer uma..uma pessoa por quem eu trocava pelos MOurinhos, Mandelas, Ronaldos, e afins..
Aposto que tu sabes qual é.