a luísa costa gomes disse um dia ao carlos vaz marques que para ela um «bom livro» era um livro que a fizesse escrever.
vamos lá colocar desde já a fronteira no local correcto: eu não sou escritor, eu nem sequer escrevo, eu ando para aqui, como vêem, a vomitar postas de pescada. e da má!
mas ainda assim, das primeiras coisas que me lembrei quando li o slam do nick hornby foi: carai, eu passei por isto. isto é mesmo assim.
o livro conta a histório de um chavalo de 16 anos, filho de uma mulher de 32 (!) e que, imagine-se, engravida uma miúda da idade dele.
(já estão a ver a coisa, não estão?)
ok, nada disto sucedeu na minha vida. porém, quem nunca passou pelo cagaço que é ouvir aquelas deliciosas palavrinhas "o meu período está uns dias atrasado" é escusado tentar porque não vai perceber nem metade do que eu aqui digo.
quem já passou por essas aflições, quem nunca teve a sorte de ter lido aquele livro «subsídios para a compreensão da regularidade e/ou irregularidade da menstruação, dos óvulos, daquela coisa dos atrasos, do papanicolau ou do zé bento ali na racha - edições do "secretariado nacional para os putos que julgam que o esmegma já conta como sémem» e por isso ficou sem saber a gravidade da coisa, verá ali traduzidas em palavrinhas, todo aquele momento que decorre entre a altura em que a menina diz a tal frase e o momento em que é aberto o envelope, ali no primeiro vão de escada aberta a contar desde a porta da farmácia onde ela vai entregar o taparuére com xixi.
contudo, quem já teve a que se confrontar com o choque de ler lá no papelinho «positivo», encontra aqui um texto do camandro com um aparente realismo que é louvável. nunca passei por essa parte mas acredito que a coisa está descrita duma forma bestial.
o livro é muito, muito giro. francamente diferente do high fidelity - que eu acho que é um caso à parte -, com coisas que me recordaram o about a boy, muito melhor que o how to be good e o a long way down. quem andava meio... ora bem, não digo desiludido mas talvez, cansado com o nick hornby, acreditem, faz as pazes com o autor. de caras.
vão à net, investiguem nas amazones desta vida, comprem numa segunda mão em inglês e acreditem, mesmo os mais habituados a terem notas de 2 a línguas - como eu - lêem aquilo na boa.
é claro que este livro é também um retrato fidelíssimo dessa cambada de gajas que têm uma atitude perante a maternidade igual à que se tem quando se compra um ipod - palavras do narrador. aquela coisa do exibicionismo; da novidade; da cagança parva que os militares envergam e que usam quando carregam a criança; como se sentem já pessoas importantes e crescidas igual ao que fizeram no nono ano quando passaram a ostentar orgulhosamente os lusíadas junto dos cadernos, sinal que as distinguiam dos putos do ciclo. aquela coisa das fotos à pança «ai que gira olha a minha barriga»; ou do «tenho duas semanas de gravidez, já engordei 122 gramas. vou tomar nota, quero registar tudo»; ou ainda do «estaciono nos lugares reservados porque sim, porque sou mulher, porque estou grávida, porque mesmo com 24 dias de gravidez é um direito que se me assiste e ...», ... bom vou-me calar!
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