quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Olé, olé Porto, olé.

À maior parte das pessoas, faz imensa confusão como é que eu consigo ver jogos do meu clube pela tv, envolto numa "nuvem" de silêncio: não reclamo, não me excito, não digo "aaaaaaaiiiii à trave", não grito golo, não insulto o árbitro, nada, nicles, fico ali enterrado no sofá tipo estátua de pedra.

Bom a verdade é que temos de recuar alguns anos para perceber porque é que isto acontece.

A primeira vez que decidi ter clube de futebol, foi para aí por volta de 72 ou 73 (tinha uns 3 ou 4 anos), altura em que decidi ser do contra e ao invés de escolher ser do Benfica ou do Sporting, decidi ser do Ajax de Amsterdão. Por essa altura, este clube holandês tinha acabado de ser tri-campeão europeu e o seu nome era bastante badalado. Resolvi pois ser Ajax limpa vidros. Esta decisão custou-me inúmeros chocolates e rebuçados, recusados peremptoriamente à sugestão «És do Sporting ou do Benfica? Vê lá o que dizes? Olha que te dou este chupa?» A minha resposta, cheia de carácter, era sempre a mesma: «Sou do Ajax!». E assim, lá fui perdendo algumas guloseimas, mas cimentando o meu carácter; Oh meu Deus, como me arrependo de não ter mentido.

Em 1977, estava eu na 2ª classe e o Benfica tinha conquistado mais um título nacional, quando surgiu um novo fenómeno futebolístico, o Fernando Gomes. Com apenas 20 anos, este jogador acabava de conquistar a Bola de Prata (prémio que consquistaria 6 vezes) e fez-me despertar mais "à séria" para o futebol. Decidi então ser do fê-quê-pê.

Verifiquei desde logo, que algo de estranho se passava. À excepção do meu pai (que em nada me influenciou nesta escolha), mais ninguém era do FC Porto. Só então reparei que o raio do clube não era da minha terra. Ó que gaita! Que raio de escolha a minha!

Bom, a verdade é que fui recompensado com a conquista de dois campeonatos seguidos (após
18 anos de seca, aos quais felizmente não assisti).

Entretanto os anos foram passando, as vitórias aparecendo, os troféus conquistados e o prestígio aumentado.

Mas não é fácil ser portista em Lisboa. Estamos longe da equipa e só vamos apoiá-los ao vivo, 2 ou 3 vezes por época. E acima de tudo estamos rodeados pela maior mancha de adeptos de um clube português: os anti-Porto. Fui-me habituando a vencer em silêncio, assim sorrateiramente e com pouco estrilho. São hábitos que se adquirem.

Tenho uma forma inusitada de ser portista: não sou anti-nada. Não sou anti-Benfica, não sou anti-Sporting, não sou anti-Belenenses, não sou anti-nada. Sou simplesmente Porto. Por outro lado não tenho por hábito festejar efusivamente as vitórias do meu clube. Ok, fico contente (fico mesmo MUITO CONTENTE), mas a vida continua. O mesmo sucede nas derrotas (onde também fico com um GANDE MELÃO, mas não bato na mulher. É para o lado em durmo melhor). Com a diferença de ser nessas alturas que mais vontade tenho de apoiar a minha equipa.

Por essa razão, sou o melhor anfitrião para quem vai ver jogos da bola lá a casa. Mesmo que o Porto ganhe, ninguém sai zombado. É tudo calminho.

A maior parte dos adeptos de futebol é de um clube como quem segue uma religião. Ou seja, cumprem uma reverência aos símbolos dos clubes. Aquilo é algo de inabalável mesmo no meio da maior das adversidades. Ora se os meus amigos são seguidores de outras religiões, com que cara posso eu me vangloriar das vitórias do meu Porto, perante os adeptos doutros clubes (e olhem que nos dois últimos anos....)? É que todos os meus amigos são de outros clubes. Só tenho mesmo é de os respeitar.

Ora vejam, com que cara posso eu gozar com o Sporting, se são da lagartada quase toda a minha família carnal (mãe, irmã, todos os tios e tias, avós, etc...) e matrimonial? Não pode, não é? Estou a falar de pessoas como o meu tio Álvaro, um desportista de bancada como os que já não há. Um Sportinguista à moda antiga. Um homem que na sua juventude, foi capaz de fazer 40 kilómetros a pé,
na companhia do seu amigo Cadacho, durante uma noite glacial, para irem a Coimbra ver os Cinco Violinos jogarem contra a Académica. Um homem que sabe a constituição de todas as equipas campeãs nacionais da decada de 40 e 50 (se é que não sabe de outras décadas), incluindo a de 45/46 do grande Belenenses (Capela, Vasco, Feliciano....). E os meus queridos amigos Rui Calado, Rui Monteiro, Alberto Marques, José Luís (com s e acento agudo) Amaro, o meu Cariño, o Filipe Martins ou o Paulinho Gomes? Tudo gente boa. Estou a falar de meu sogro, desportista leonino, septa campeão nacional de andebol (cinco delas seguidas).

E em relação ao Benfica? Como é que posso ter coragem de escarnecer na derrota, os meus amigos e irmãos Zézinho Malveira, Rui Pinto, Hélder (o filho do aço), o Quim e a Beta (e o Pedro e a Daniela), o grande Cunhado, o meu querido Gonçalo Paraíba, o nobre Jorge Carreira (benfiquista e comunista rôxos), o Luís Mário, entre muitos, muitos outros? Não sou capaz, não é?

Quando perco não gosto de receber mensagens de telemóvel, telefonemas e etc, porque são inóquos. Não me ofendem, além de que são dispensáveis. O mesmo se passa nas vitórias. Às vezes mandam-me mails felicitando-me pelas conquista disto ou daquilo. São escusados. Quem vence é o meu clube, o adepto está ali é para aplaudir, para apoiar.

A minha filha, essa vai ser do que ela quiser (desconfio que será lagarta). Mas não pode é ser do anti-qualquer coisa (muito menos anti-porto hehehehe!!!). Isso, não vai ser de certeza!!!

Mas amigos, isto não é fácil. Há alguns meses deixei de comprar jornais desportivos.
É escusado, andava comprar só pelas fotografias. São tudo menos órgãos de informação. Os jornais desportivos são sociedades comerciais. Como tal têm de dar lucro. Para isso, têm de vender (e muito). Ora se o povo é maioritariamente benfiquista e sportinguista, não tem lógica nenhuma apresentar notícias pouco favoráveis para esses clubes. Por isso toca a deitar abaixo o Porto e a louvar os clubes da capital. Acham que estou a exagerar? Tentem ler a Bola ou o Record imaginando-se adeptos do Porto? (o Jogo não conta para esta contabilidade. É pior que O Diabo da Vera Lagoa.) Acham difícil? Lembrem-se do que é que o meu clube conquistou nos dois últimos anos e comparem com a respectiva cobertura jornalística. Lembrem-se do Jardel que era um tosco no Porto e ao passar para o Sporting, passou a ter títulos de jornal considerando-o o melhor atacante do mundo; ou do Mourinho que era um arrogante do caraças e passou a ser um dos melhores técnicos do mundo.

E o golo do Petit na Luz que não foi (ou foi?). Lembram-se da capa da Bola? Eu recordo: «FOI GOLO!». E quando o Clayton marcou um golo de livre de canto directo ao Bossio, também na Luz? Houve o mesmo estardalhaço? Acham que tudo isto é por acaso?

Mas quer dizer com isto que só o que o Porto diz, faz ou reclama é que é certo? É óbvio que não. Estou-me a referir apenas aos jornais. Deixou-se de falar em futebol para se falar de polémicas.

Meus caros, tem de se vender jornais. Para um jornalista sem assunto, toda a perna é presunto. Um dia destes eu volto a falar sobre isto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem.... retenho aqui que só agora os teus amigos "apareceram" no teu blog !!

Depois falamos...

Aquele abraço !

Ass. Calado