segunda-feira, maio 18, 2009

surfistas

como não existiam ipods, como não havia arjã para o comprar caso houvesse, como não havia pleisteixãns, como não havia uii's, como não havia nada, algures em meados dos oitenta, pedi ao meu pai para me fazer um placard.

ora, estranhamente, o meu pai até concordou com a coisa. e assim, lá fomos os dois, até à estância da azinhaga do carrascal comprar uma grande placa de esferovite. em casa encontrámos duas ripas - nem queiram saber a tralha que aquela casa conseguia acolher - que serviram para sustentá-la e segurá-la na parede. e pronto, roubadas duas ou três dúzias de alfinetes lá da caixinha minha mãe, estava tudo ôpuã para lá serem colocadas as tralhas que eu bem entendesse.

se a memória não me falha a primeira vez que eu estive perante um placard foi em casa do colega que morava ali para os lados da gama barros. no seu quarto tinha um placard enorme, em cortiça, repleto de coisas relacionadas com o espaço. uma maravilha: foguetões, planetas, estrelinhas... coisas dessas. e até tinha um daqueles emblemas de coser no kispo, com o símbolo da nasa, que o pai lhe tinha trazido da américa.

gosto muito de dizer américa. estados unidos é farsola. américa tem outra cartonância, não me lixem!

e assim, no meu placard, não havia coisas das naves, mas por lá tiveram expostos: postais com autógrafos do carlos lopes, desenhos, bilhetes de cinema, fotografias, bilhetinhos escritos à mão... e por aí fora.

neste fim-de-semana, ao rever fotografias antigas, em casa de velhos amigos, olhei para um um cartoon que o dono da casa habitualmente fazia nos seus cadernos. aquele que eu vi no sábado, salvo erro, tinha sido oferecido à sua namorada e, imagine-se, passados 25 anos

há histórias curiosas e bonitas

sua actual mulher.

ver aquele desenho fez-me tlin tlin aqui numas coisas que eu cá tenho dentro

não, não foram essas que estão a pensar

e fiquei «ihhhhhhhhhh, os desenhos dos surfistas! há c'anos que não via um.» e sem querer, recuei para a mesma época em que, na verdade, já me encontrava ao rever aquelas fotos mas num local diferente: no meu quarto, a colocar o desenho no placard.



obviamente que gostei muito. podia falar mais coisas sobre esta noite de sábado. (in)felizmente a descrição e a dificuldade de encontrar engenho para transportar para aqui as coisas que fui sentindo enquanto as horas decorriam são um remédio santo. foi muito muito bom e não só pelas razões óbvias. contudo, aprendi uma coisa: na dúvida, é sempre melhor levar duas (ou três!) garrafas de vinho (quem diz três diz quatro!) do que andar ali «ó tio, ó tio» a dividir gotas de tintol de copo em copo. o próximo, meus amigos, será no meu chalet.

1 comentário:

Cristina disse...

subscrevo em absoluto as garrafas de tintol e a "próxima"...