quarta-feira, março 28, 2007

dor de corno

em 1989, no auge da maior e mais prolongada dor de corno que o hemisfério norte já conheceu, fui no espaço duma semana a dois concertos memoráveis no coliseu: um da simone e outro do caetano veloso (realmente, não podia escolher melhor programa para evitar choradeiras. pois, pois...).

a simone era paixão antiga. já aqui falei no assunto. e veio a portugal no auge da loucura. veio com uma banda doutro mundo, com uma bateria enorme e uns percursionistas bestiais. um deles podémos ver (quem quis, claro) na banda de apoio da tina turner. um must.

e no coração? no coração festeiro, verdadeiro, brasileiro...

recordo aqui um momento que achei o máximo. à minha frente, uma miúda com o seu namorado. os dois juntinhos, muitos beijos, muita carícia, muita paixão. do seu outro lado um outro rapaz, amigo dos dois e eventualmente seu ex ou futuro namorado. antes do yolanda a simone faz um desafio: quem quiser, segura a mão de quem ama e cante comigo. a miúda encostou então a cabeça no ombro do seu namorado enquanto este agitava lentamente o isqueiro no ar, dum lado para o outro. do outro lado e escondido atrás das costas da miúda estava a mão do outro rapaz. essa mão estava unida à dela enquanto se ouvia aquele se é p'rá morrer quero morrer contigo de mão dada. joinha!

o do caetano foi uma semana depois e podia ter sido uma bosta de concerto (era a minha estreia com ele). a casa estava seguramente e
sem exagero com um terço da sua lotação, a setlist era fraquita com coisas muito anos oitenta e o povo estava a desesperar. entretanto e como nos filmes de suspense dá-se um twist duplo. primeiro com um fabuloso solo de percussão feito com panelas de diversos tamanhos e executado por um tal de charllie brown - mais tarde conhecido por carlinhos brown - e depois, no fim, com uma sequência de 3 encores em que o senhor veloso às tantas já se dava ao luxo de perguntar: í ágora? quí é que voçeis querem ouvirr?

e foram 11 (onze), onze músicas, ali, em acústico, só para meia dúzia de gatos pingados que tinham resistido até ao fim: terra, índio, debaixo dos caracóis, dom de iludir, lua e estrela, fera ferida, etc...

eu, num camarote - estavam quase todos vazios e entrava-se para eles à la gardere - chorava desalmadamente.

um mês depois voltei a apaixonar-me e a coisa passou.

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