quinta-feira, outubro 29, 2009

a walk in a park

estou aqui de telefone na mão a tentar falar com o instituto de seguros de portugal (estes "meus" dependem de que ministério, porra? isto era «olho na rua!» para estes gajos todos, foda-se!) e ao mesmo tempo ouço lá fora, os gritos da minha filha que anda por estas bandas no passeio semanal ao parque da sua aula da creche.

se eu podia viver sem isto? podia, mas não era a mesma coisa.!

(peguei no telefone, vim à porta, e gritei «cuuuuuca!», ela olhou, viu-me e não me ligou puto.)

(acho que estavam de volta dum cagalhão canino. digamos que há umas certas prioridades na vida, não é?)

(ser pai é isto.)


segunda-feira, outubro 26, 2009

ainda assim, não consigo desarriscá-lo dos escritores que me fazem tão bem à alma.

assisto com um misto de tristeza e de um outro sentimento esquisito e indescritível (mas que se assemelha àquilo que sinto quando olho para os tigres - tristes, cheios de peladas e cicatrizes - nas jaulas dos troleys dos circos) ao rol de entrevistas que o lobo antunes faz, cada vez que lança um livro.

não é bem o não gostar do «tipo de espectáculo» (também é, ok). é que gostava, por exemplo, de ler coisas... como é que eu hei-de dizer... ler coisas sobre o tal livro que ao que parece o senhor escreveu.

com estas entrevistas - sempre com aquele tom de «sabe, antónio, pode dizer as coisas, nós gostamos muito de si, não tenha medo de falar. e por favor, sim, por favor, não se arrelie e não nos mande a todos "para o caralho e mais a estas entrevistas que a minha editora me arranja!", nem baze daqui para fora porque o meu editor mete-me no olho da rua se não faço depois, assim, um texto em que falo sobre o seu quotidiano, as lombadas dos seus livros, o faulkner, o tchekov....», acaba-se por criar uma coisa menos jornal das letras e mais «na cama com», transformando o lobo antunes (que não escreve um romance em condições desde 1999) (ok, tudo bem, o legião é um "suficiente mais") numa espécie de personagem do tratado das paixões da alma.

tenho pena do senhor, só isto!

terça-feira, outubro 13, 2009

maitê

o que me preocupa não é o video da maitê proença, moça que eu sei, teve o condão de desencadear certamente algumas vigorosas sarapitolas durante os anos oitenta. adiante!

repito, o que me preocupa não é o vídeo. aquilo só revela aquele tipo de tentativa - manifestamente frustrada - de gozar e sair por cima. também não me preocupam as gargalhadas finais da turminha feminista do programa no final do vídeo. só quem nunca viu o programa pode achar a coisa estranha.

francamente, o que me preocupa são os comentários generalizados que depois se fazem ao resto da população brasileira. acho piada, confesso.

e acho piada porque, normalmente, vêm do mesmo grupo de pessoas - pronto, já agora também tenho direito a generalizar, não é? ai não tenho? então eu vou generalizar para verem como fico ridículo - que comete os mesmos erros: os portugueses.

ao que parece a senhora proença andou lá a mandar umas bocas cometendo alguns erros históricos. quando eu entrei na faculdade, num simples inquérito junto dos caloiros de história, repito, junto dos caloiros de história - ou seja, pessoas que iam tirar o curso de história e que têm, presumo, uma bagagem de história diferente dos que andam a assentar tijolos ou, por exemplo, a escrever em blogs - revelou que 30% dessas pessoas colocaram, numa ordem cronológica, o dom afonso henriques antes de jesus cristo. repito, 30%. para os que não sabem o que isto quer dizer eu elucido: em cada 100 pessoas que entraram no curso de história, havia 30 que julgavam que o jesus cristo tinha nascido após o dom afonso henriques. vale?

se calhar é um exemplo meio tolo. mas acreditem, não é. é um ramo basilar da cultura de um povo: a história. e se vejo pessoas ficarem muito chocadas porque a maitê disse que o salazar esteve (apenas) 20 anos no poder, já acho estranho que tenha havido poucos comentários ao facto dos que votaram, não no salazar como o melhor português de sempre, mas sim num dos actores das telenovelas da tvi. (ahh, são putos que votaram, isso não conta. são putos e o cérebro - cerco, como diz a minha filha - ainda não está desenvolvido.)

fode-me este tipo de generalizações. se um par de brasileiros assalta uma dependência do bes, logo todos os brasileiros são ladrões. se uns brasileiros convidam os portugueses a desvincularem-se de dez porcento do seu ordenado em nome do senhor, logo todos os brasileiros são uns místicos gatunos.

porém, ninguém generaliza em relação aos portugueses que vão ao teatro ver a teresa guilherme; que dizem museu dos "cóches" em vez de museu dos "côches" (devem julgar que é um museu de viaturas espanholas); que dizem «é assim» ou «portanto» no início das frases; que elegem para presidentes de câmara pessoas que quando terminam de
alcatroar a alexandre herculano, colocam placas (caras!) a dizer «fui eu que fiz»; que realmente não só cospem nos monumentos nacionais como também não sabem o que quer dizer «egrégios avós» ou «ínclita geração»; ou ainda que escrevem blogs tolos, cheios de vernáculo e erros ortográficos como este que agora ledes.

afinal a maite até tinha material para fazer um vídeo a dar baile aos portugueses. o pecado dela foi ter escolhido mal os temas abordados.

segunda-feira, outubro 12, 2009

ennnnnnlástico

imbuído pelo espírito da coragem, entrei shopping adentro com o intuito de, duma vez por todas, sair de lá com um par de calças novas.

dentre as calças que o senhor teve a amabilidade (eu odeio comprar roupa) de me sugerir, estavam umas que, tchan tchan tchan, além de muito justas eram elásticas.

cheiravam a 1985.

estive aí uns dois minutos a tentar espremer o meu corpo lá dentro (o moço tinha-me garantido que aquilo era o meu tamanho). quando me olhei no espelho vi uma coisa muito estranha e esquisita lá reflectida. além de estarem por lá umas pernas à la iggy pop, tinha a sensação que o colhões estavam colados... sei lá, às omoplatas!

sexta-feira, outubro 09, 2009

haja paz


não desfazendo o moço que hoje ganhou o nobel da paz, eu tenho para mim (há lá frase mais gira que «ter para mim») que enquanto o fernando nobre não levar para casa os tais não sei quantos milhares de euros que o obama vai levar por ter tido o engenho de ser um moço educado e sensato - ao contrário do seu antecessor (ai que observação mais injusta, pedro jaime!) (não esquecer que foi por terem colocado o santana lopes como primeiro-ministro que o senhor engenheiro ganhou, nas calmas, as eleições de há 4 anos.) - eu não encontro justiça no caralho da atribuição dos nobel da paz.

por outro lado, antes o obama que outro gajo qualquer. por mim, o moço até poderia receber um «nobel sem pasta». assim como os ministros sem pasta que havia naqueles governos que duravam 3 meses ou menos.

quarta-feira, outubro 07, 2009

banhinho


a minha ignorância, provincianismo, distracção e brejeirice é por demais conhecida dentre as pessoas que (coitadas) me estão mais próximas.

recordo, acerca do assunto que falarei a seguir (equipamento de casa de banho), que, apenas quando fiz as primeiras obras na casa onde fui morar há uns anos, percebi que existem diversos tipos (diferentes, atenção) de toalheiros, os quais, claro, eram devidamente escolhidos pelos proprietários. resumindo, julgava que o maçon que andava lá com o trolha a fazer as obras, deslocava-se à estância mais próxima e dizia:

- ó américo, ontem o teu palmense levou na pá do camarate, hein?
- não gozes, meu cabrão, andam a jogar com os júniores. já ninguém quer treinar. que queres da loja?
- avia-me aí umas merdas para pendurar toalhas e papel higiénico.

pronto, era assim.

fiz, entretanto, outras obras noutra casa e aí já estava um niquinho avançado na coisa (não muito, claro).

sexta-feira vou dormir a casa dum amigo. irmão velho, gente da minha criação, casa nova, tudo bonitinho, bem decorado e tal... casa à facho com uma prateleirinha sob o lavatório com toalhas para os convidados e tudo. numa palavra: níbel.

entro no duche (odeio banheiras) e estou, seguramente, uns 37 segundos para descobrir como raio se abria a puta da torneira. esperto como sou, lá descobri a coisa. banhinho quentinho, aquele ritual do gel na mão, a volta saloia pela colhoeira, sovaco e bilha. a atenção redobrada nos coiratos, o pezinho já a cheirar bem e tal.... um mimo!

e após a ronha da água quentinha, já a aproximar-se a hora em que previa um esperado grito do dono da casa «ó seu paneleirão, julga que isto é o balneário de chelas? gasta-me a água toda! toca a despachar, foda-se!», sucede aquilo que muitas pessoas assimilarão como uma disfunção patológica mas que eu, no meu espírito jovial (deves!), lhe chamo «deu-lhe o amoque!».

é que eu posso ter levado 37 segundo a descobrir como se abria a água. mas, que raio, descobri não é? porém, percebemos que a idade nos deixa num caco, quando queremos, depois, fechar a circulação da água e voltamos a demorar mais uns bons 30 segundos porque entretanto nos esquecemos de como a abrimos e por isso não sabemos como havemos de a fechar.

(nem me digam mais nada, por favor! são modernices, pá!)

sexta-feira, outubro 02, 2009

estão todos bem uns para os outros

todo o mundo critica - por vezes com razão - as bocas e os floreados que ele volta e meia presenteia os adversários.

desta vez meteu-se com o benfica por causa do falcao.

e o benfica ou todos os outros que vão na cantiga do jorge nuno quando manda estas bocas não são resistem, querem armar-se em superiores mas acabam por demonstrar ser da mesma cepa.

tenho pena de, neste caso, o rui costa não ter tido a educação que a minha mãe me deu: «filho, não respondas às coisas que o luís maluco te disser. são atrasadinhos, temos que respeitar a deficiência dos maluquinhos e não lhes respondermos na mesma moeda.»

lá está, outros tempos.

quinta-feira, outubro 01, 2009

radomel

antigamente, quando os jornais eram a preto e branco, a primeira página tinha normalmente uma foto dum jogador a rematar ou a cabecear para golo. pronto, ficava ali registado o momento em que tinha acontecido o que realmente interessa num jogo, o golo.

aos despois desataram a mostrar, não o golo, mas um cacho de jogadores a festejar um golo. eram os tempos em que os jogadores festejavam golos.

eu acho que agora nem isso mostram. aparece uma foto lá do meio do jogo e já é um pau! na realidade, se tiver jogado o clube o que realmente aparece é uma futura e suposta contratação do benfica ou então o jesus mascarado de arnaldo exterminador.

recordei-me desta evolução porque eu não tenho nenhuma pachorra para aquele tipo de festejos de golo em que um gajo enverga uma cagança tal - assim como se tivesse acabado de descobrir a penicilina - que nem festeja nem nada fica ali a olhar para todo o mundo à espera que lhe digam «sim filho, foi um golo porreiro, foi sim senhor», fazendo-me recordar o gama que jogou na subida do vitória lá da década de oitenta. é sabido que não é cantona quem quer é mesmo só quem pode.

não tenho também paciência para aqueles festejos em que se reunem dois ou, quanto muito, três jogadores - normalmente, um grupo que se reúne depois à noite nos elefantes desta vida a pagar copos de champanhe às north caroline que por aí há - e abraçam-se ou cumprimentam-se assim como quem pergunta em debates «então, seu maroto, foi para o algarve?»

festejo, para mim, não é festejo que se cinja ao relvado, festejo, para mim, é à toureiro, assim, em grande, agradecendo a quem lhe bate palmas. festejo, para mim, é uma coisa encenada, assim, um drama. é coisa de vida ou de morte. festejo, para mim, não são aquelas corridinhas para o gajo que lhe fez a assistência. festejo, para mim, não é mandar calar os adeptos adversário. para mim, festejo é uma corrida sem norte, ali às voltas, como que se quisesse abraçar todas as pessoas do estádio. é ir a correr para a bancada de braços abertos e, com humildade ou com cagança - aqui sim, já a tolero - gritar de pulmões bem abertos: é golo, caraaaaaaaaaaaaaaaaaalho!

irritavam-me aquelas paneleirices do lucho e do lixa - que saudades deles, caramba! -; eram ridículos aqueles festejos do sporting a imitar uma bomba atómica; aqueles sambinhas dos baianos são uma parvoíce; o movimento de embalo dum bebé só teve piada quando feito a primeira vez pelo bebeto. depois disso, são gestos confrangedores. uma cambada de tolos é o que todos eram e são.

adiante.

meus amigos, eu não sei se finalmente tenho um ponta de lança em condições - coisa que não tenho desde o mccarthy. eu tenho memória bem apetrechada e por isso tenho a alma muito queimada pela experiência da segunda época do pena. quero com isto dizer que não sei se com este falcao é que nós vamos lá. eu sei é que finalmente e de certeza absoluta, tenho um jogador que sabe festejar golos!

esqueçam a qualidade do golo de ontem. aquilo foi, perdoem-me, um valente chouriço. a única coisa com peso conta e medida foi mesmo o passe do meireles. daí para frente já acho que houve muito grão na engrenagem: o trabalho do hulk muito atabalhoado, aquele remate com um pé direito que tem a qualidade dum josé torres foi no mínimo risível. e, para mim, repito, o toque é à chouriço. podem-me dizer que não e mais não sei o quê, mas para mim, é uma chouriçada. e guardem por favor a memória do madjer para outras situações. ligar aquele toque de calcanhar com o do madjer em viena é mais ou menos como confundir a estrada da beira com a beira da estrada. quero com isto dizer, duma forma subliminar que o golo frente aos leões é muito, muito melhor que o de ontem.

porém, meus amigos, reparem no show que ele faz após a marcação. o gajo desata a correr como louco, o cabelo a bailar, os braços abertos... que maravilha. vê se que há ali influências da escola argentina da bombonera e da monumental de nuñez. estou mesmo contente com esta aquisição.

sim, sei que é uma parvoeira das antigas gostar dum jogador pela forma como festeja os seus golos. mas, caramba, se o jogador festeja os seus golos significa que os marcou. se o jogador é do clube então significa também que o clube marcou um golo. certo? certo, claro!

ai este falcao. repito, que maravilha estes festejos. que loucura, a boca aberta, os braços em vê, assim à kempes, a forma como aterra de joelhos. oléééééé!

venham mais destes!



é claro que não há realizadores de tv em portugal que nos deixem ver estes festejos como deve ser. ou mudam logo para a camara que está a focar o banco dos suplentes ou o camarote presidencial ou... ou uma outra merda qualquer, pronto!

romano

eu gostava de avisar que se algum adulto comer a minha filha quando ela tiver 13 anos vai mesmo de cana. se por acaso ele conseguir sobreviver ao flagelo dos cartuxos de sal enterrados na peida, disparados pela minha caçadeira e conseguir fugir para o estrangeiro, fique descansado que se voltar ao meu país, mesmo que 30 ou 40 anos depois, vai de cana. chame-se ele zezé camarinha, tomás de mello vasconcelos, tomás taveira ou roman polanski.

para mim dá no mesmo.

e mesmo que a parva da minha filha me venha a dizer, anos depois «eh pá, bem vistas as coisas também não sofri assim tanto, porra!»

repito, dá no mesmo!