quinta-feira, abril 16, 2009

casas

relações familiares permitem-me (e/ou obrigam-me) a visitar duas casas que algum do meu passado me «obriga» a caracterizá-las como «casas de facho».

estou brincando. quero obviamente dizer que são casas com um recheio de valor francamente apetecível.

nada contra. obviamente, tudo a favor.

estas duas casas têm em comum o facto de me provocarem um sentimento idêntico: duma forma exagerada - e obviamente inconsequente - digo delas que não era capaz de ter em minha casa, nenhum dos objectos que nelas habita. nem sofás, nem candeeiros, nem aparelhagens, nem nada. rigorosamente nada.

(repito, estou a exagerar. mas numa primeira, segundo ou terceira vista, a verdade é que nada nelas me é apelativo)

deixem-me fazer aqui um pequeno parêntesis. todos nós - digo eu - em diferentes períodos da nossa vida, andámos por algumas casas que por esta ou aquela razão, nos fizeram dizer ou pensar «ihhhh, quem me dera morar aqui». recordo-me, assim muito de repente, da casa do fred e do martin porque era (é, não é di napoli?) em plena avenida de roma, um sítio moderníssimo que até tinha, imagine-se, semáforos. estou-me a recordar, mais tarde, da casa dos meus primos de cascais, porque tinha duas casas-de-banho, dois skates da life - nada dessa coisa rasca que eram os roller não sei o quê - era perto da praia, tinha televisão a cores e, imagine-se, um aparelho de video u-matic. relembro também a casa do nuno que tinha, rigorosamente tudo o que era preciso para uma criança brincar: subutteo, mini hoquei em patins, tv a cores (apanhava o 2º canal na perfeição) milhares de livros da disney, almanaques dos espiões e, imagine-se, flippers. ah, e nos lanches, o pão, além de manteiga, era servido com fiambre e queijo, acompanhado com leitinho da ucal em garrafas. fino, portanto.

voltando às duas casas do início. dizia que apesar de serem fartas, não me sinto atraído por nenhum daquelas elementos. contudo, uma dessas casas, um apartamento, é moderna, sofisticada, toda cheia de gedjetes avançados, com um traçado rectilíneo e gizado a autocad, faz-me sentir desconfortável e sinto-a fria.

porém a outra, tem coisas ultrapassadíssimas, algumas velhas, muitas estragadas mas, é quente, acolhedora, cheia de bricabraques e talvez por isso, seduz-me e deixa-me derrotado quando a visito. imagino-me lá com menos pessoas do que as que nela estão quando a visito - normalmente em festas - imagino-me em outras horas do dia. imagino-me lá durante a semana e durante o dia. imagino-me lá a viver.

e tem milhares e milhares de coisas velhas - não necessariamente antiguidades - coisas desarrumadas, coisas boas, coisas menos boas, coisas doutros países, coisas doutras viagens, coisas...

e foi construída aos bochechos, acrescentada ao longo de algumas décadas, algumas das vezes com ligações que parecem ter pouco nexo arquitectónico. lá está, parecem. mas é só isso «parecem».

adoro aquela casa. tudo ali parece caído do céu e ao mesmo tempo tudo ali faz sentido. tudo parece desajustado e também todos aqueles objectos parecem ter - e têm, na certa - uma história por detrás. vendo mais ao pormenor, todos aqueles objectos encaixam uns nos outros como fotografias de pedaços da nossa vida, como fotos captadas nesta e naquela terra, neste e naquele país.

até os cães - enormes mas estranhamente dóceis e graciosos - fazem sentido e ficam bem naquele ambiente.

olho depois para a minha casa e fico a pensar quantas histórias precisam os nossos objectos ter, quantas objectos são precisos para fazer uma história e quanto «lixo» precisamos de não deitar para o lixo, para que as casas fiquem, isso mesmo, casas, lares?


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5 comentários:

Patti disse...

Esse sentimento, de quase amor com os nossos objectos, mesmo que não valham nada, existe porque depositamos neles uma parte de nós: memórias, pessoas, grandes acontecimentos ou breves momentos, cheiros, saudade.
Resumindo, tarecos que só nos importam a nós.

Agora vira lá a foto das garrafas para cima, senão entornas o tinto e borras o post todo!

sofia disse...

esqueceste-te da vista. quinta da regaleira?!?

Márcia Carvalho disse...

Visito tantas casas e penso nisso tnatas vezes, pá! Principalmente na "história" das coisas, dos objectos... casas com vida!

Bic Laranja disse...

Privilegiado. Vista para a Serra.
Abraço!

tcl disse...

desculpe, mas já reparou que tem uma das fotos de pernas para o ar?

se aquilo cai, vai haver vidros partidos por todo o lado!