terça-feira, maio 27, 2008

acto de contrição


uma amiga que eu cá sei (como é que andas? a bebé, tudo bem?), confidenciou-me ter estado dois anos sem comer carne. a curiosidade da coisa está relacionada com facto dela ter descoberto, quando voltou a consumi-la, que a carne já é algo com sabor a modos que salgado e que é um exagero o que nós adicionamos de sal quando temperamos a bifalhada.

numa estúpida e repuxada alegoria (ou será metáfora?) pensei nisto durante as minhas férias. setes dias num outro continente, num outro hemisfério, numa outra língua

por favor, não chamem português àquilo que se fala nos arredores de são salvador da bahia de todos os santos

faz-nos meditar no quanto somos mesquinhos, piquinhas, cheios de paneleirices, cocós e parvos, com o que pensamos, dizemos e até escrevemos. só mesmo na «ausência» vemos isso.

no primeiro dia pedi ao gajo da recepção «oi, vê para mim aí na net dábliu, dábliu, dábliu o jogo ponto pê tê»

eu não disse que por lá não se falava português?

percebi então que a final da taça afinal não era no sábado mas sim no domingo.

dahhhhh!

no dia seguinte voltei à carga. estava 0-0 aos 102 minutos. e pensei: gaita, que ridículo, quando aos 102 minutos a coisa ainda não está decidida é porque ou o clube está a jogar muito mal, ou afinal a cena de não libertarem o bosingwa para este jogo foi algo muito muito estúpido, ou os lagartos estão a exceder-se. caguei para o assunto, para o resultado final - fosse ele qual fosse - caguei para o cigarro do sócrates e do pinho, caguei para as ideias para futuros posts, caguei para o abrupto

já caguei há muitos anos, mas fica sempre bem uma alusão ao jpp

e fui esvaziar umas brahmas.

... põe meia dúzia de brahma prá gelar, muda roupa de cama...

horas mais tarde a minha mulher - vá se lá a saber como soube? - informou-me «o meu clube ganhou dois a zero». respondi-lhe «está bem.»

e foi o facto de lhe ter respondido assim e me estar a sentir, também, "assim", que me fez ver que somos mesmo ridículos. pronto, perdeu, sigamos em frente, porra!

nem quis saber se houve coisas com arbitragem, nem quis saber se houve bocas dos treinadores, nem quis saber quem marcou os golos, não quis saber mais nada! pedi outra cerveja

e olhem que estamos a falar em garrafas grandotas. coisas para seicentos e tal mililitros, ok?

e continuei a comer.

golos a sério vi na tv brasileira. tv que é uma merda, cheia de casos de polícia, de ratinhos, de testes de adn, do júlias pinheiro a falar brasileiro. apesar de tudo, deste lado de cá, estamos bem melhor. menos no futebol. aí as nossas tv's estão ao nível dos testes de paternidade nas tv's brasileiras.

lá vêem-se os golos (gols lá na língua deles), há repetições, vêem-se os festejos e escutam-se os comentários. não há casos de arbitragem (haver há, mas não têm tanto eco quanto cá, foda-se!), não há paineleiros a falar sobre arbitragem, não há apitos finais

um dia gostava que me explicassem, como é que o meu clube foi tão, mas tão, mas tão, mas tão, tão, tão, tão estúpido, ao ponto de ter subornado um árbitro que não o beneficiou (antes pelo contrário) no jogo por ele dirigido

não há merdas dessas. há golos, jogadas e repetições.

há férias que vêm por bem: vou passar a ler mais livros e muitos menos jornais; vou passar a ver mais filmes e muita menos tv. apesar de tudo, vale mais uma margarida rebelo pinto (estou a brincar, claro) ou um tino navarro que as notícias dos apitos e os comentários dos paineleiros.

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