terça-feira, junho 28, 2011

continuo a achar que ela chamá-lo de angelino foi o ponto alto da coisa

o povo  
é sinuoso identificar como povo duas mulheres, na casa dos sessenta, com pinta de quem trabalha (ainda) no campo há cinquenta anos, não é? se aparentassem ser tias de birre será que ainda seriam o tal «povo»?
é tramado a sentenciar.

há pouco, no café da esquina
por acaso é mesmo numa esquina
duas mulheres conversavam e concluiram que o moço que cantava nos disârte teve aquilo que merecia.

- por mim pode morrer que é muita bem feito!

não só porque lhes chamaram de angelino
houve uma que ainda disse o nome aurélio, mas logo concluíram que «não, não, é angelino que eu bem sei!»
mas também, regressa por uns momentos a pena de morte
vá, mesmo que não seja a morte que veja pelo menos uma paralisia total para animar
porque «há castigos que um gajo tem que apanhar na vida se quer aprender de vez.

(maravilha!)

e é assim, já não bastava haver tribunais que decidiram que afinal o médico não violou aquela tipa que estava grávida, agora também o povo corta a direito «já que os que estão lá em cima não fazem rigorosamente nada por este país!»

é assim mesmo, catano!

(acredito que o mesmo povo usaria o mesmo discurso se o que aconteceu tivesse sido com um dos seus filhos
lá das velhas do café, per'ixemples!)
(ou talvez não?)
(ai não? então?)

(... no cu dos outros para nós é rajá, não é?)

(gosto tanto disto, deus do céu!) 

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