aterrou na casa de banho lá de casa, precisamente num caixote onde se depositam os jornais que nos acompanham nos momentos mais complicados que a família ali passa, uma revista com uma coisa chamada contos. ou seja, decidiram pedir a um molho de pessoas que escrevessem umas histórias.
o que poderia ser uma colectânea porreira, pelos vistos transformou-se numa coisa muito estranha e que, não só prolifera pelos livros actuais - ditos modernaços -, como também nalguns blogs.
ora bem, julgava eu que isto aqui dos blogs era uma coisa amadora. ou seja, vínhamos aqui pespegar uns dois ou três linguados e pronto, da mesma forma que há sites com fotos de casais amadores no truca-truca, também nós, patetas bloggers, fingíamos ser pessoas letradas e aqui deixávamos uns paragrafozecos com umas tolices nossas. depois, claro, quem gostasse dizia que sim, quem não gostasse dizia que não ou desligava a coisa. sabia eu também que se quisesse uma coisa em condições, sem erros nem nada, teria que comprar um livro, esse sim, já escrito por alguém com juízo e com capacidade para fazer umas histórias porreiras. sabem, aquela coisa que aprendemos na preparatória: o início... o meio, o fim..., por aí fora.
mas ao que parece, a coisa não é bem assim. o que fica bem e é modernaço é alterar esta coisa toda. o que fica bem é, pronto, alinhavar uns parágrafos e tal... deixar o texto o mais confuso possível, escrever umas coisas, assim, tipo, pensamento profundo, nomeadamente sobre os desencontros de amor ou sobre a dor duma manhã de chuva e pronto, vuálá - se se engatilhar umas frases ou palavras em estrangeiro, fica sempre bem -, aqui temos um conto. conto, é mais bem que um romance. romances, a bem dizer, até as actrizes das telenovelas os escrevem.
e assim, vamos lendo na diagonal - se os ler na horizontal adormeço e tenho medo de cair da sanita, assim, na diagonal sempre a coisa vai com mais balanço - os tais contos e aquilo, é uma salganhada de... bom, eu sinto-me velho a ler aquilo. velho e pouco actual. não quero ser injusto até porque não pesco rigorosamente nada, nem de literatura nem de edição jornalística ou livreira, mas cum raio, é aquilo o melhor que se consegue, dadas as circunstâncias?
eu já não peço que me apresentem histórias como as do luís fernando veríssimo mas não teria piada se tentassem, sei lá, ser criativos? dá ideia que toda a gente que é literada tem capacidade de escrever. e mesmo dentre os que conseguem escrever, nem todos, infelizmente, sabem imaginar uma história. eu poderia estar aqui a descrever, num conto, a entrada dum cliente aqui na loja e a forma como ele se senta defronte da minha secretária, mas isso, acreditem, se não tiver outros elementos à mistura, não tem interesse nenhum, nem revela alguma criatividade.
mas pronto, lá está, da mesma forma que fica bem tirar fotos a preto e branco, parece que o que é modernaço é contar histórias - sofridas, é bom que sejam sofridas para dar valor à coisa - sem interesse nenhum, desde que o começo da história aconteça lá pelo meio do conto e, muito importante, não tenha nem conclusões nem fins, nem nada, pronto. desde que venha sem erros...