tenho uma conversa recorrente com algumas das minhas amigas - as mais tenazes, digamos - sobre o facto de elas acharem que os homens têm medo das mulheres inteligentes.
eu repito a palavra: medo.
bom a verdade é que eu tenho a discussão com duas ou três amigas mas sei que a opinião se estende a quase cem porcento da população feminina. para todos os efeitos elas acham que nós gostamos é de ter uma tipinha que tenha boa peida e ande caladinha.
confessamos que dá jeito, mas na verdade não é só isso que queremos.
vamos lá a ver as coisas. isto agora é para vocês, minha amigas. se a ideia é andar a passear-vos pela naite e pela bitx (isto quer dizer praia em estrangeiro) dá realmente aquela pala que vocês tenham o tal rabito empoleirado nas pernas, a mamoca malandra a querer rebentar o 3º botãozeco da camisa, etc, etc. mas como a nossa vida não é só isso, o que a gente realmente gosta é que vocês sejam espertas, inteligentes e que tenham a cabecita nos vossos lugares.
vejam o seguinte, há coisa de 20 anos, uma amiga, mafalda de seu nome
gira de morrer, assim com uma franjinha, modelo "nelly furtado" e com o único defeito de ter escolhido para experimentar uns linguados, dois dos meus amigos e não este vosso parvo escriba
lembrou-se de fazer um jantar de aniversário. o seu irmão, parvo como tudo, teve a infeliz ideia de fazer-se acompanhar por uma brasileira que lhe andava a dar a volta ao miolo. sucede porém que a sua namorada era uma coisinha do catano, grossa até dizer chega. ui!!!
essa gaja, a namorada, a tal grossa, apesar das insistências, não sabia que estava a em fase de transição e decide fazer uma pega de caras na festa, ao rapaz. acho que era ricardo ou coisa parecida. pronto, para todos os efeitos eu baptizo-o de ricardo.
então a menina, entra cave do restaurante dentro, dirige-se à beira do ricardo e da sua nova companheira brasileira e anuncia:
- torcastes-me (isto não é erro, foi mesmo assim que a bicha disse) por essa mula. muito bem, há-des sofrer com isso. podes começar a expedir-te (a gente desconfia que a gaja queria dizer despedir-te, mas nunca se sabe) de mim.
dá meia volta, desata a desfilar (este é o termo correcto) em direcção à saída enquanto que nós interpelávamos o miúdo (que era bem mais novo que nós. pronto, vá lá, aí uns dois anos.):
- ó ricardo, pá. a gaja é toda boa, porra! vai lá atrás dela, caralho, não a deixes fugir.
às tantas, no preciso momento em que ela começa a subir as escadas,
isto passa-se na cave do "ti lurdes" da óscar monteiro torres e quem conhece o sítio em questão sabe que a visão é demolidora
arreada de mini saia (isto é um exagero, eu acho que ela trazia um cachecol na cintura), salto agulha e peida bamboleante. o alex ou o monas, já não me lembro muito bem qual deles, desatam então aos berros:
- ó booooooooooooooooooooa! volta para nós!
- ó estúpido, olha a gaja a bazar.
- ó boooooooooooooooooooooa, ó boooooooooooooooooa do caralho! (sic) volta para nós.
ela, vira-se, olha para a mesa (estavam mais de 40 pessoas aos gritos) e pergunta:
- isso é comigo?
resposta quase em coro:
- é, é, caralho! é é contigo, ó boooooooa do caralho!
e vira-se para o ricardo e pergunta:
- vais continuar aí?
o rapaz não aguentou mais e foi atrás dela.
entretanto a brasileira que ficou para atrás, que também era um borracho do catano, ficou ali, abandonada, a distribuir charme e outras coisas que tal, para 5 ou 6 pessoas que estavam ali à sua volta. a gaja era um mimo. só presenciado.
meses mais tarde, o miúdo já tinha ganho todo o juízo do mundo e já se fazia acompanhar pela brasileira. tardou mas foi. quando lhe perguntei se se tinha cansado da booooooa do caralho, ele lá confessou:
- há alturas que convém ter uma miuda esperta ao nosso lado.
volta e meia lembro-me desta história. e lembro-me não só pelas pernas e pelo cu da "boa do caralho" (ficou assim conhecida lá no rainha para sempre) mas também porque quando elas me começam a dizer que os namorados fogem delas porque não conseguiam suportar estar junto a uma mulher mais inteligente que eles, eu desconfio logo. hummmm, aqui há gato.
ou as gajas são um valente trambolho e também são espertas. ou são espertas e têm um feitio daqueles. ou então têm ambas as coisas. agora acreditem, não temos medo da vossa inteligência, da vossa cultura, do vosso ordenado mais alto, de nada. e acreditem adoramos, repito, adoramos deixar-vos à solta num evento social qualquer, quando sabemos que não corremos o risco de vocês enunciarem que a perestroika é um peixe (esta é verídica) (a mim acontece-me de tudo).
tive uma namorada que era cultíssima, falava um porradão de línguas, conhecia este mundo e o outro (pronto, se calhar não conhecia o outro), tocava a abertura do let it be ao piano só para mim, viajadíssima, linda de morrer, mas que se lembrou de dizer, numa sala de snooker localizada numa aldeia recôndita da serra, repleta de aldeões daqueles que bebem dois bagacitos e uma mine às sete da manhã, o seguinte:
- ai que dor de cabeça.
depois virando-se para os tais aldeões acrescentou
- por acaso nenhum de vocês tem um aspirina, não?
noutra ocasião, por alturas do nascimento da sic, quando essa estação tinha um programa diário com telediscos da mtv, essa mesma miuda disse o seguinte:
- ai, não sei porque raio agora a sic tem um programa da mtv. para quê, se já toda a gente tem parabólica, não é?
concluindo, que a coisa já vai longa: não chega serem lindas, não basta serem inteligentes, não basta serem carinhosas, têm de ser muito mais que isso. e não, acreditem, a gente não tem medo se vocês forem todas, isso tudo junto.
nós amamos quando vocês nos ensinam coisas. assim, sabem? coisas! pronto, sei lá, coisas.
amamos e amamo-vos se forem assim.