eu estava convencido que a turma do rainha que eu mais tinha gostado, tinha sido a do meu primeiro 10º ano.
mas pensando um bocadinho melhor, verifico que o que me marcou, não foi bem a turma em si, mas sim um conjunto de acontecimentos que sucederam por essa altura: tinha passado a barreira do 9º ano, entrava finalmente na área de artes, mostraram-me o nebraska e o darkness on the edge of town, vi o cotton club e o rumble fish, conheci o left in the dark, apaixonei-me por uma miúda com problemas e cheia de complexos
(há sempre um momento na vida em que caímos perdidinhos por uma tipa assim. é da praxe. o facto de anos mais tarde ela me ter encornado com outra gaja - sim, eu disse gaja -, também é uma coisa, digamos, que fica sempre bem num currículo),o meu vitória da picheleira foi campeão, saiu o queen is dead e o cerco, fiz a minha primeira directa, andava doido pelo plays live do peter gabriel, armava-me aos cucos a ver coisas do tarkovski no quarteto, tinha acabado de sair o misplaced childhood
(apesar de eu ser muito mais fugazzi ou scrip for jester's tear)e os meus pais celebraram as bodas de prata.
e na realidade era uma turma bestial com pessoal do belo e todo joly, artistas meio malucos
(éramos uma turma de artes, não esquecer, ok?)e com professores que até me acabaram por marcar à séria
(gosto muito de dizer "à séria"):
não consigo olhar para um quadro impressionista, uma cena art nouveau ou deco ou uma coisa qualquer do lalique sem me lembrar da famosa professora guidinha que para mim há-de ser sempre sinónimo de história da arte.
mas a história, como as montanhas, deve ser vista à distância. por isso, visto à luz de 20 anos já decorridos, verifico que "a turma", aquela, a tal, foi a que se criou no ano seguinte. quando recuo no tempo a ideia que salta à memória é que era uma turma com uma camaradagem fora do vulgar. também tinha os seus grupinhos, é certo. mas não eram grupos fechados, herméticos. eram coisas mais maleáveis, mais permissivas. eu, por exemplo, tanto ia com o pessoal da gabardina preta para a esbal ouvir os shish, como zarpava para o central park, ali no centro comercial s. joão de deus, para me roçar às gajas
(ok, não eram assim tantas. foi mesmo só com uma gaja)quando dava o sign your name.
eu acho que o traço comum mais importante d'"a turma" era o humor. era tudo pessoal com um humor fora de série
(volto a dizer, éramos de artes).humor do mais fino recorte, uma coisa muito inteligente, muito montypythoniana
(eu pergunto, quantos de nós não elegem a vida de bryan como "um dos 10 filmes de sempre"?) e ao mesmo tempo muito subtil.
lembro-me que há coisa de 10 anos, numa noite em que fui ao speakeasy, no meio duma operação de charme que uma amiga me estava a submeter, encontro um colega dessa turma que já não via há uns bons 5 anos, o meu querido peixoto. apesar do gajo estar acompanhado, forniquei-lhe o caldinho e fui para a mesa dele. bom, foi um fartote de riso a noite toda
(bom, foram só 20 minutos, mas pronto, fica mais giro se eu disser que foi a noite toda).
no fim, pergunta-me a minha amiga: "mas olha lá, tu não o vias mesmo há 5 anos? eu acho que me estavas a tangar, vocês tinham conversas iguais, piadas iguais, gargalhadas iguais e ainda por cima, recomeçavam conversas que pareciam ter ficado suspensas há dois dias."
lembro-me duma outra história, esta ocorrida há coisa de 2 anos e pouco, quando apresentei a minha mulher e a minha filha ao Osmar
(desculpa lá, meu querido Luís, mas nos assuntos relacionados com esta turma, hás-de ser sempre Osmar).
quando vinha para casa, dizia-me a minha mulher: "não te percebo. vocês gostam tanto um do outro e só se vêm de dois em dois anos. juro que não percebo."
nesta sexta-feira, dizia-me alguém lá no nosso jantar: "tu desta gente, quem tens visto com mais frequência é o gonçalo, não é? é que têm conversas tão parvas, falam como se tivessem visto ontem ou na semana passada, conversas de putos, pá! ainda contam as mesmas piadas e as mesmas anedotas...". pois, compreendo o que ela quis dizer, mas na realidade não o via há 15 anos.
na sexta-feira aconteceu um milagre. eu continuo a julgar que sim, que foi um milagre. na sexta-feira, houve 16 pessoas que se lembraram que já foram putos charilas e foram reviver outros tempos numa jantarada ali para os lados de carnide. e foi bom, foi muito muito bom. na sexta-feira voltámos a provar que aquela turma não tinha problemas de gestão de egos complicados. foi como entrar numa cápsula espacial. dum momento para o outro passámos de senhores e senhoras respeitáveis para aquela cambada de putos que atiram pão uns aos outros quando estão a comer, que falam alto e que dão gargalhadas demolidoras. foi giríssimo. e para mim aquilo foi tudo muito rápido, passou tudo num fogacho. dizia-me o nápoles: "eu nem sequer vi a ementa! eu ouvi alguém falar em polvo e gritei: passa a dois!"
e não me canso de dizer: foi realmente muito bom. eu que tenho um coração que vive alimentado a "saudade", tive uma alegria doutro mundo quando pude rever:
a
odete palaré (porra, a nossa détinha já é senhora professora da esbal - como é que aquilo agora se chama, pá? deves ser pouco lixada para a canalhada, deves.);
a
alice (ó pá, juro que não te reconhecia se te visse na rua; eras tão menininha e estás tão senhora. isto é um elogio)
o inginheiro
di napoli (outro, como eu, que só lhe faltou foi chorar -
a gente estava a chorar por dentro, não era, man?) que me fez o favor de me mostrar uma cassete que eu lhe tinha ofertado com o still da joy division (
bem, quando eu voltei a ver a minha caligrafia de há 20 anos deu-me cá uma coisa, pá). outro assunto, tu sabes fazer puxadas para roubar electricidade lá ao teu patrão, ou não? ensina à malta pá! agora com o frio dá jeito com os aquecedores, man.);
o
tiago capristano (para mim, a pedra mestra do humor da turma) (
ainda tens de me ensinar como é que eu faço para ir ao monument valey);
a
susana teixeira (como é que é mesmo que tu te chamas agora, pá? moura-carvalho? realmente, isso agora já é nome de arquitecta) que está enxutíssima, charmosérrima, que deve ter tido os filhos pelas pernas, e que, como eu e o gonçalo dissemos: tens uns abdominais que até parece o petit! ah, melhér dum raio!;
o
mira, o nosso pedro alentejano. coitado, está todo marado de snifar o raio do pó da pedra das esculturas. outro malandro que se esqueceu de engordar. (
percebeste que fiquei meio à nora quando te abracei, não percebeste? percebeste que tens um t6 com duplex e vista para o rio aqui no meu coração, não percebeste?)
o
tomé, que passou de cara de menino a senhor arquitecto respeitável de barbas. olha lá essa cena era postiça? és um dos "others" lá do lost?;
o
osmar, contigo é diferente, pá. somos da mesma família. estamos condenados a ser mesmo felizes juntos;
o
miguel, outro que ficou barbudo e com quem recordei uma célebre noite na aula magna, num concerto de beneficência aos povos oprimidos da américa central (
foda-se! que coisa mais comuna!), onde estivemos nos camarins com o sérgio godinho e o luís pastor. depois do mira ter andado aos abraços ao baíco salomé lá da terra dele, ainda acabámos a noite a mamar imperiais no canecão! (
olha lá, a namorada que na altura o teu amigo fred ou martim - nunca consegui saber qual dos dois é que era - tinha, era uma naco do c-a-r-a-l-h-o!);
o
pissarra, rapaz que merece o meu sincero respeito porque continua igual aquele gajo pequenino do era uma vez o homem e também porque em 2006, em pleno século xxi, é a única pessoa que eu conheço que não tem telemóvel. não tem, nem nunca teve, repare-se!
a
xana, a nossa actriz. que se lembrou de nos ganhar a todos: além de giríssima e charmosa, apresentou-se mais magra que há 20 anos. estúpida, isso faz-se, pá?
o
gonçaladas, parvalhão de merda. pacóvio, ignóbil, imbecil, aldrabão, etc. tu achas que a gente acredita que já tens 40 anos? (
disseste à paula que lhe mandei uns beijinhos cheios de saudade, pá? vê lá se precisas que te puxe uma orelhinha?)
a
carlinha do prédio da sul-américa (
é assim que assinas nos autógrafos, não é?), que teve a alegria da noite, quando lhe contámos que afinal o rabo da cláudia não era nada inferior ao dela. e que além disso era (e é), muito mais querida e doce que a outra parvalhona!
o
pratas, porra o pratas está cum ganda níbel, sim sinhôr: arquitecto, fotógrafo, "filósofo", cineasta.... cum caneco, pá. a tua vida dava um filme. gostei tanto de te ver, meu malandro. (
eu juro que deixo de te falar se não me mandares fotos lá dos nosso tempos, pá. muita atenção ao blog deste menino, ok? muita atenção à escrita desta malandro. níbel!!!)
e o
narciso. ihhhhh, já nem me lembrava do narciso. bom, mas quem é que o mandou não trazer o elástico à ivan lendl? assim ninguém te reconhece na rua, pá
fico contente por saber que houve um cabrão dum
post que, em parte, desencadeou a vontade de nos reencontrarmos (
eu sabia que afinal ter um blog era uma boa aposta). sei que aquilo soube-nos a todos a pouco. tenho para mim que isto devia ter sido o dia todo, com futebolada, piquenique, churrasco, sesta, bailarico e eleição de miss "ti-chârte" molhada. para mim, era assim. mas vocês não alinham nestas merdas. têm medo do quê, das formigas nas toalhas aos quadradinhos?
pois, eu não sei se vos vou voltar a ver mês sim mês não. eu sei é que com filhos, maridos, mulheres e afins, foi uma sorte dos diabos, juntar ali aquele número de pessoas. sei também que agora estamos todos com o tesão do mijo para nos vermos todos os dias. eu então ando de pau feito. não tenho ilusões, a vida de cada um de nós não permite encontros destes com a frequência que nós gostaríamos. é certo que deixámos de ter 3 meses de férias no verão, mas gaita, a ver se não voltamos a estar 18 anos sem nos vermos.
pode ser? combinado? a gerência agradece.
p.s.:
1) o nápoles teve a indecência de me outorgar um cd
(
isto tinha mais piada era se fosse uma k7. só que depois eu não tinha onde a ouvir. pois, se calhar foi melhor assim.)
com música da altura. assim, além de ir com o ego nos píncaros com os carinhos qu'estes malandros me fizeram, fiz a a5 a abrir ao som de coisas que já não passam pela cabeça desta malta nova como: o transmission, o winning dos the sound, o mr malcontent, o sketch for dawn e principalmente, muito muito principalmente o duel dos propaganda. nem queiras saber o quanto eu adoro o duel, pá.
2) o peixoto não pôde vir. fiquei mesmo triste, pá. prometes que me dás um abraço apertado quando nos reencontrarmos?
3) o desenho que está lá em cima, é uma caricatura feita pelo luís ratana
(
já disse que éramos uma turma de artes, não já?).
que me retrata na perfeição: ali estou eu, gel na parte lateral do cabelo e a parte superior em reboliço, nariz vincado - sou possuidor duma sinalética portátil: ó jaime, diz-nos lá onde fica a casa de banho? - camisa aos quadradinhos, blusão de ganga coçadíssimo, umas calças bombazine e uns mocassins à índio. aliás, aqueles mocassins eram o meu logótipo.
4) eu gosto mesmo muito de vocês! obrigado por me terem deixado participar numa das noites mais felizes da minha vida.