para 2009, eu gostava que, quando os elementos do programa os contemporâneos ouvissem ou lessem uma crítica que não lhes fosse favorável, dissessem coisas tão simples quanto:
- não gostam? está bem. - não gostam? ponham à beira do prato. - não gostam? paciência.
coisas assim, sabem? simples.
é que já não há pachorra. parecem meninas (que se defendem escrevendo muito bem e tal... tudo muito bem justificadinho, não é.... com um português muito bonito... um mimo.) de baby blogs quando lhes dizem que a filha tem cara de trambolho.
a noite passada custou-lhe a adormecer. tinha tosse, estava moída, foi complicado. às tantas pedia-nos carinhos. lá iamos, uma vez eu muitas vezes ela, o habitual.
dizia-me: está com dores de crescimento. diz que lhe doem as pernas. nunca tiveste?
disse-lhe que não.
continuou: eu recordo-me muito bem. tinha de ser massajada e tal. não te lembras mesmo?
reafirmei que não. e expliquei: eu nunca cresci!
quando fui tirar o meu primeiro bi, ali depois da primária, media 126 centímetros. quando entrei no rainha, já no sétimo ano, recordo-me que não chegava ao balcão do bufete quando queria comprar bolos. no meu nono ano, a maria joão coimbra, uma coisinha pequenina, gira, simpática, gira, querida, simpática, doce, fixe, gira, gira, gira e tal, verificou que eu era menor que três réguas de cinquenta centímetros juntas. se houve altura em que cresci alguma coisa foi só lá para os 17 ou 18 anos, quando cheguei aos fantásticos 171 centímetros. e nessa altura, quer-me parecer, que me lembre só tive dores de cotovelo.
hoje, 7h28 da manhã (madrugada, pronto), a fila na garrett para comprar o bolo-rei, ia até ao bpn.
hoje, 8h53 da manhã, a fila na garrett para comprar o bolo-rei ia até à loja dos artigos de golfe.
meus amigos, bem sei que onde houver alguém num stand duma feira a distribuir gratuitamente sacos de plástico, logo aí um molho de portugueses fará um filinha, mas caramba, por mais bom e saboroso que seja, estamos a falar de um bolo, porra!
ainda não estão assustados? e se vos disser que estavam 6 graus, pá?
nem assim? notas: 1) e eu espetava aqui neste texto uma alusão à fila que na almirante reis, ali defronte da igreja dos anjos, alguns pobres esfomeados já estariam a formar e ficaria um post tão bonitinho, não era? pois, mas para o peditório da teologia da libertação eu nunca dei - daria porrada, pronto! - e também não preciso de tachos no bloco de esquerda.
2) frio, eu penso é no frio que o pessoal estava a passar
3) e cada vez que penso nos sobretudos dos clientes da garrett lá na fila vem-me à memória também o lucho a despir a camisola depois da marcar o golo lá em kiev. há gente para tudo.
a equipa dos outros espetou com duas bolas nos nossos ferros. é a vida, acontece.
o meu treinador veio falar em oportunidades de golo e falta de sorte do nosso lado. repito, levámos com duas bolas nos "nossos" ferros. ou seja os outros senhores tentaram marcar-nos golos e não conseguiram porque não tiveram arte, engenho ou sorte e fizeram esbarrar a bola nos nossos ferros. e meu treinador falou em falta de sorte do nosso lado. é a vida, acontece. p.s.: quando vi ontem aquelas imagens daquele "chega para lá" - por amor de deus não chamem agressão àquele gesto. agressão é mais ou menos o que o sá pinto fez ao artur jorge, ok? - feito por um senhor do marítimo nas fuças do rolando pensei cá para comigo. estou curioso para saber que menção irão fazer os nossos queridos jornais da bola sobre este assunto. o mais parecido que li sobre isto foi umas escaramuças que aconteceram no túnel e na garagem do dragão. gostava de saber quais seriam as escolhas editoriais para as primeiras páginas lá dos referidos jornais se tivesse ocorrido um empate e, nesse mesmo jogo, acontecesse um tal "chega para lá" efectuado, por exemplo, pelo rolando ao aimar. ou, estou-me agora a lembrar, se tivesse sifo feito belo bruno alves ao joão moutinho.
imbuída até ao tutano com espírito natalício, a minha filha decidiu mesclar o profano com o sagrado e, também ela, decorar o seu quarto com uma árvore de natal e com um presépio.
usando parafernália do seu quarto, pegou na casa das pollys, decorou-lhe o varandim do primeiro andar com plasticina amarela e chamou-lhe, isso mesmo, árvore de natal.
reservou, contudo, o último andar da casa das pollys, não como privado, mas como estábulo onde colocou imagens do reino animal bem como alguns seres humanos.
à nossa esquerda temos o panda a fazer de burro e a leoa representando a vaca. ao fundo, um velho, um cruzamento entre um reformado da setenave, o avô da heidi e o pai-natal, representando são josé. do nosso lado direito, a famosa miss piggy assume o papel de nossa senhora. finalmente, deitado no chão, um comandante duma nave intergalática tem a nobre mas humilde função de recriar a figura de cristo enquanto bebé, o nosso menino jesus.
e por este andar, quando entrar na casa dos sessenta já terá a escola toda para imitar os passos da sua avó.
não era pouco vulgar quando algum dos nossos amigos sacava uma pita mais pita, ouvir da boca dele coisas como «não, pá. a gaja tem dezassete anos mas já é muito avançada para a idade» só mais tarde quando a catraia decidia ter uma atitude de pessoas da sua idade - de dezassete anos, lá está - é que o nosso amigo acordava da realidade e desatava a bradar aos céus pela situação em que se via metido.
sucede-me o mesmo quando penso na miudagem do meu clube e que parece - repito, parece. dá ideia, portantos! - que o senhor treinador pôs a jogar um tiquinho melhor.
por isso e para não cometer as injustiças que cometi quando o pepe começou a dar barraca: - rolando (23 anos) - guarin (22 anos) - cristián rodriguez (23 anos) - tomás costa (23 anos) - fernando (21 anos) - pelé (21 anos) - givanildo (22 anos)
agora não me fodam, o mariano já tem 27 anos, não é altura de se ir embora pelo próprio pé? está aí o natal, pá. vá baza!
chego a casa e a minha mulher dá-me a notícia choque número um «a libra está a duzentos e quinze escudos» repito, duzentos e quinze escudos.
fico abananado, corro para o computador e procuro na net - tenho internet em casa, ó qué que pensam? - umas coisas só para tirar umas dúvidas. e tiro-as. e fico ainda mais chocado.
vamos lá ver a explicação para o segundo choque:
nos últimos três ou quatro anos, desatei a comprar, paulatinamente, a melhor série televisiva de sempre, o west wing. e porquê? porque comecei a perceber que tinha revisto tantos mas tantos episódios que isso era sinal que valia a pena comprar a coisa para a ter em boas condições, boa imagem, som decente, bem legendada e sem aquela estupidez de estar dependente das noitadas, acordado à espera que a tvi iniciasse a emissão da série, para carregar no rec e adormecer de seguida. e olhem que a série chegou a começar às 3h20 da madrugada. isto, claro, quando o senhor moniz não se lembrava de «pronto, olha, hoje não se transmite aquela coisa do presidente lá da américa».
dizia eu, fui comprando as temporadas à medida que elas foram sendo lançadas. assim, sabe quem é louco para comprar estas coisas, que gastei ao longo destes anos, cerca de 70 contos em dvd's, já que os senhores decidiram, graças a deus, emitir sete temporadas. ora, sete vezes 10 contos... bom, é fazer as contas.
quem consultar a amazon da inglaterra verificará que existe uma caixa toda supimpa, com a totalidade das sete temporadas, pela módica quantia de, não setenta contos, não sessenta, muito menos cinquenta mas sim, atenção, dez contos e picos. isto ao câmbio de hoje.
consultando mais abaixo outros lançamentos em dvd, verificamos que o studio 60 - a segunda melhor série de sempre, publicada em dvd. quê, o thirtysomething? pois, continuo a aguardar que apareça no prelo. haverão, na certa, problemas relacionados com direitos autorais. que a impede de vir para a rua. só pode. -, que ali a fnac
não que eu seja muito amigo dos preços da fnac. mas infelizmente, esta série, não se vende em muitos mais lados. ou então, simplesmente, não se vende em mais lado nenhum, pronto!
tem a vender por sete contos e tal, custa na amazon, tchan tchan tchan-tchan, dois contos e quinhentos.
tenho dito e encerro aqui a loja.
pronto, só mais uma achegazinha: o planet earth que anda a ser vendido por volta dos dez contos cá no burgo, está lá na amazon, em blu ray, por cinco biscas e pouco**. *não és menino para te ofereceres como prenda de natal, esta caixinha que substituiria as cópias que fizeste dos meus? ** e sim, tenho consciência que esta coisa das edições em português encarecem mais a coisa por causa do mercado ser mais reduzido e essas paneleirices da oferta e da procura e não sei mais o quê.
a minha filha veio aqui há uns dias duma exposição de dinossáurios - repararam que eu não escrevi dinossauros, não repararam? é muito nível, porra! - com um t-rex debaixo do braço.
à noite, meteu-o numa caminha e enfiou-lhe uma chucha entre os dentes.
não me fodam, uma miúda que adormece o seu t-rex e o afaga com festinhas e chuchinhas tem muita cartonância.
qual será o seu passo seguinte? adoptar um boneco do hitler e vesti-lo com roupinhas fofinhas?
estou curioso em relação à crónica de sexta-feira do grande cervan. no mínimo, claro, vai dizer reafirmar que esta vitória veio atemorizar o porto e o sporting. coisa que a eliminação na taça pelo leixões já tinha deixado as suas luzes.
se há memórias musicais públicas que eu tenho do meu bairro, talvez uma das mais vincadas, é a imagem do arménio - não o "trolha da areosa", mas o "méninho" dos embrechados - a descer a frei fortunato, estupidamente bronzeado, calça de ganga muito coçada, t-shirt de alças modelo "ginástica da tropa" - «quero-vos formados às 9h30, na parada, com o vosso fatinho do ballet, seus caralhos!» - ténis nike cor de neve e no ombro e, seguro pelo seu braço musculado - como aquele cabrão cresceu lá nos ferros, porra! -, um enorme e prateado cantante, debitando rock em altos berros:
- méninho, trazes aí um ganda som, pá! - ihhh, ó jaime, é uma coisa nova que arranjei... - é bom, pá!
era o love removal machine.
para mim, é "a" música dos cult. é o ponto mais alto de toda a sua carreira. eles chegam ao electric depois de anos dum rock muito chegado à música de vanguarda que culmina com o lp love de 1985. é certo que o love tem uma mão cheia de singles que animam qualquer alma deseperada mas convenhamos é quando o rick rubin pega a sério nas canções deles que a coisa fica ali nos trinques. não é só a guitarra do billy duffy, não é só o vozeirão do ian astbury, para mim, há ali um elemento que dá equilibrio aos dois, é o baixo - gosto tanto de baixos, caneco! - do jamie stewart. pode muito bem ser uma bela coincidência, mas a verdade é que enquanto estiveram estes três juntos - bateristas é que foram mais que muitos - a banda teve sucesso.
pronto, já falei aqui do love removal machine, já disse que acho o electric bem melhor que o love mas este post é para prestar homenagem à mais "esquecida" grande-malha - ao que parece agora já não é de bom tom dizer-se malha, agora é bonito dizer-se riff - dos cult. falo do fire woman do sonic temple.
mais esquecida porque, na realidade, quando vamos para a náite e a coisa mete rock, no que toca aos cult, normalmente o dê jota, bota o wild flower ou o rain. com um bocado de sorte lá apanhamos com o lil' devil ou o she sells sanctuary. curiosamente as melhores para dançar são colocadas de parte. precisamente estas duas: o love removal e o fire woman.
duvidam de mim? tomem então atenção:
ok, é certo que isto tem o seu quê de cromisse, mas recordo-vos que estávamos em 1987. e se metade de vós ainda não sabia que o dystron que a mamã levava para o bidé, não era propriamente um líquido para alargar sapatos como ela vos dizia, a outra metade ainda usava meias brancas, por isso, haja respeito.
o vídeo começa logo com aquele ar de "veio do espaço" e apresenta-nos o caminhar do billy com as tradicionais calças justas às botas, até ao seu amplificador. é então que surge aquela bela imagem do patilhame aparadinho e do grande penteado mullet que o bono tinha imortalizado no live aid do baterista les warner. a malha começa a rasgar e já se vislumbra o ian a saltitar lá no andar de cima. o jamie está de costas, à espera de vez para martelar as cordas do seu baixo. às tantas o ian desce as escadas, aquele seu ar de pocahontas, o cabelão, a camisa gótica, branca, de folhos e avisa: check this one. e daí para frente é um vê se me agarras, com alternância de imagens entre dois takes do videoclip onde se misturam a dança duma espécie de fandango do vocalista com o pedal que o ian imprime na guitarra. o ian ora tem uma camisa branca ora tem uma camisa preta, o duffe ora toca com uma guitarra branca ora toca com uma preta. é tudo muito bom, muito pedaloso. mas aquele baixo sempre ali a marcar ritmo, e aquela forma como o billy domina fisicamente a guitarra, a forma como pega nela, como a suetém segurando-a pelo braço, numa mistura entre os movimentos do chuck berry e as notórias influências das malhas do jimmy page é algo que me deixa de rastos quando escuto isto.
como podem aqui ver, dois anos depois a coisa não está muito diferente. o ian continua com o ar de pocahontas mas com aqueles trejeitos de fandango bem mais apurados, o billy já se meteu a rasgar a guitarra com as malhas mais repuxadas, assim a esticar aqueles oinnnnnnnnn com mais força e durante mais tempo e o baixo continua a ser o mesmo estremo esquerdo do palco, sempre ali, a bombar, a dar ritmo à coisa.
curiosamente neste altura - e neste clip - julgo que o baterista é o matt sorum que depois andou pelos g'n'r naquela altura do use your illusion e afins.
aliás, foi feito pelos cult o melhor concerto - em portugal - que eu não vi em toda a minha vida. 1993, gartejo! paciência.
hoje, uma e tal da tarde, rádio oxigénio*. when boys talk dos indeep.
respeito!
(ai se esta rádio fosse sempre assim!....)
*calma, não estrilhem. é óbvio que eu não ouço esta rádio - deus me livre! - a coisa surgiu lá na telefonia do meu carro porque andava a fazer zapping, ora!
estamos num campo de nudismo. ali, tudo ao léu e fé em deus. liberdade, vida simples, pessoal descomplexado.
pergunto: uma vez que toda a gente pode ver as partes pudibundas de toda a gente, haverá necessidade de existirem nesses campos, wc para homens e wc para mulheres?
repergunto: e havendo realmente necessidade de haver divisões elas apresentam-se de que forma «pessoas que urinam em pé para um lado e pessoas que urinam sentadas para outro lado»?
há uma frase, uma ideia que volta e meia utilizo para mim próprio - assim em silêncio, estão a ver a coisa? - que é «fazer trabalhos de casa em computador».
não sei se se recordam, mas quando aparecia um tipo qualquer lá da turma que apresentava trabalhos de casa feitos em computador, a coisa poderia estar a maior merda, cheia de erros e tal, mas pronto «eh catano, ganda pintarola, foi feito em computador» e lá se babava meia turma mais metade da classe dos professores que achavam piada àquelas coisinhas que o menino ou a menina tinham feito.
foi aí que começou o declínio do tubo de cola uhu - ou da cola cisne -, usado durante séculos nas montagens de fotos lá para os trabalhos sobre o barroco, o império romano ou as viagens na minha terra.
quando o oliver stone apareceu no natural born killers com aqueles movimentos de câmera dum lado para o outro, como que se o senhor que segura lá a máquina de filmar tivesse levado um pontapé certeiro nos túbaros, toda a gente achou piada e desatou a usar como se fosse o último grito do tarzan*.
e a verdade é que há alguns exemplos em que isso fica bem e dá num resultado bonito. principalmente se for filmado em película como, por exemplo, no friday night lights. e já agora, se não se fizer uso desse bamboleamento a torto e a direito.
noutro dia dei por mim, sem canais nenhuns além dos 4 portugueses e três espanhóis, a ver aquela coisa dos advogados lá da avenida da liberdade. tinha a rita lello (nem perguntem, ok?) e eu deixei-me ficar a ver aquilo. às tantas dei por mim quase a vomitar. pensei um pouco a ver se tinha sido o jantar estragado que me estava a vir à glote. mas não, tinha sido um jantar todo supimpa acompanhado pelo tintol da ordem.
penso mais um bocado e lá percebi que a somar à quantidade de histórias sem pés nem cabeça que a série tem, existe a tal coisa dos «trabalhos feitos em computador» e desatam a usar, abusar e rebusar a tal técnica do pontapé nos tomates do senhor da máquina de filmar. assim para dar a ideia que é uma série toda modernaça e tal, com pessoas que ganham muito carcanhol e que têm grandes carros e atravessam a avenida da liberdade pelo meio dos carros a deixar cair sandes de presunto e coisas que tal. e a verdade é que quando damos por ela, o raio dos olhos não estiveram fixos uma única vez e a cabeça começava já a andar à roda porque as imagens andam mesmo à roda e afastam-se a aproximam-se e...
fui meter meio logan ao bucho para ver se aquilo passava mas foi pior a emenda que o soneto: lembram-se das bebebdeiras que se apanhavam no velhinho "barco" que estava ali atracado no cais do sodré? lembra-se? quando com dois ou três whiskys se apanhavam bebebdeiras como se tivessemos bebido oito? pois é mesmo assim que eu me sinto quando vejo o tal liberdade da rita lello.
(tenho pena dela.) (e do ivo, pronto!)
* eu não sei se foi ali naquele momento que esta técnica surgiu. isto não é o blog do mexia e por isso aqui não há certezas cinematográficas ou de qualquer outra espécie. eu sei é que foi nesse filme que eu me recordo de vir isso pela primeira vez.
nem sei explicar muito bem porque associei eu isto àquilo. mas a verdade é que a primeira ideia que me veio à cabeça foi o motel chronicles, um livro de pequenas histórias escrito pelo sam sheppard que além de ser um actor bestial, tem a sorte de partilhar leito com a jessica lange.
eu explico.
vinhamos de cáceres. a miúda lá atrás a dormir. ela, ao meu lado, também em silêncio. na telefonia, tocava aquela selecção mais assim p'ró miá soft. assim, aquele misto de carly simon, com o james taylor, passando pelas coisas do nebraska do springsteen, aqui e ali também com a carol king... por aí, por essas bandas. lá fora estava frio mas dentro do carro a shô fajem (assim como se fosse a senhora fajem) mantinha-nos quentinhos. a estrada estava quase deserta e raramente cruzávamos com outros carros. o sol já se tinha posto e o céu começava a ganhar aquelas cores maravilhosas. não falo daqueles crepúsculos cheios de vermelhos e cores de fogo. não, uma coisa mais suave, menos dramática.
ainda por cima, a estrada seguia em direcção a esse mesmo crespúsculo. tinha como cenário umas elevações, uns penhascos que recortavam o horizonte como se fossem personagens daqueles teatros de sombras chinesas.
e eu sabia que uma eventual foto não lhe faria justiça nenhuma ao momento. porque eu não estava com paciência para descobrir a melhor conjugação de aberturas, sensibilidades, velocidades e outras que tal que traduzissem melhor aquilo tudo; porque nela não ficaria impressa a alegria que carregávamos connosco pela visita àquela cidade; porque também não conseguia lá colocar o cheiro que as histórias do sheppard têm - um cheiro de alcatrão e de lavanda nos lençóis dos moteis -, um cheiro que também encontro nas imagens do rumble fish, nas coisas do on the road ou nas canções do darkness on the edge of town...
eu sabia estas coisas todas. mas mesmo assim parei e carreguei lá no botão da máquina. como disse, não faz jus ao momento. mas ainda assim, foi um momento daqueles.
e já estou com saudades daquelas nossas viagens pela espanha fora.
natação obrigatória na introdução à instrução primária natação obrigatória para a salvação é condição necessária não há cu que não dê traque não há cu que não dê traque mal a gente vem ao mundo logo a gente vai ao fundo
não é a primeira vez que venho aqui com este tema, julgo também que não será a última. mas, confesso, só venho porque é sobre algo que me melindra profundamente. falo-vos dos pediatras.
eu gosto pouco de generalizar e por isso se houver por aqui uma opinião que vos pareça, digamos, estar a atingir desonesta e injustiçadamente um grupo qualquer de pessoas, não liguem, carreguem na tal cruzinha no topo superior direito do ecrã e siga para bingo!
por isso não sei se me hei-de irritar mais com os pediatras, se com os pais que não fazem nada sem a permissão dos pediatras, se com os pediatras que não explicam bem as coisas aos pais ou, finalmente, se com os pais que não entendem correctamente o que os pediatras dizem.
desta última vez foi porque houve um pediatra que aconselhou - este verbo é um eufemismo puro - que bebés na natação só após os seis anos de idade.
e o que mais me intrigou não foi propriamente o conselho, foi mesmo a justificação que fundamenta o mesmo. ao que parece, o senhor doutor diz que as piscinas são um local repleto de contaminações e doenças porque, ao que parece, lá a água está cheia de mijo e de merda largados pelas pessoas que as utilizam.
eu confesso, quando me contaram aquilo, tentei dar o devido desconto «nahhh, aquilo foi dito meio na reinação... nahhh, não era bem para se levar a sério...» e também sei que quem me contou não leva muito a peito - nunca se sabe, nunca se sabe - este tipo de coisas, mas fico francamente em brasa quando ouço este tipo de desaforos, ditos assim, da boca para fora. é que acreditem, há pais para quem, as palavras dos pediatras são leis!
é que uma coisa é a criança não poder andar na água porque, coitada, tem uma infecção urinária, uma merda qualquer na pele ou, sei lá, uma alergia que lhes fornique o corpo. outra coisa é ser porque... bom, porque o senhor doutor mandou uma laracha falacciosa qualquer.
reparem, é que depois espetam-se umas bocas giras, assim, tipo, esquerda-bolchevique a roçar a psicologia mineral como sejam «também, todos nós sabemos que eles com 4 meses não vão aprender a nadar, não é?»
fico piurso, confesso que sim.
eu não faço a mínima ideia se o pediatra da minha filha é bom ou é mau. mas também, confesso, não o utilizo para educar a minha filha. uso-o, imaginem, para questões médicas, estão a ver a coisa? eu explico, a miúda está doente e eu - é mais a mãe, é verdade - telefono ao senhor a dizer "ai, senhor doutor que a miúda se me está a espumar da boca para fora" e ele lá me responde que "não, deixe lá, é mesmo ela que não sabe ainda cuspir."
agora para saber se a miúda pode ou deve ir para a natação? tenham juízo, porra!
eu revejo mentalmente a justificação lá do médico e aquilo dá-me vontade de rir «porque é um local cheio de contaminações». o que é mais caricato e irónico nesta história, é que curiosamente no meu caso, a minha filha ficou doente durante umas 3 ou 4 vezes seguidas, precisamente após as visitas que regularmente teve de fazer ao pediatra. por esta ordem de ideias, a piquena, coitada, da mesma forma que não deveria andar na natação também não poderia andar no médico. vinha ele cá a casa que isto aqui é um local com muito asseio. vem cá inté uma senhora todas as sextas-feiras fazer umas horinhas e até trás flores para a minha filha e para a minha mulher e tudo.
notinha de rodapé: isto não é um post contra ti. nem isto é uma abordagem indirecta para malhar em ti. primeiro eu não sou pirata e por isso não faço abordagens e depois isto é mesmo é contra lá o senhor doutor da tua filha que pode ser muito bom e tal, mas, compreende, tem opiniões que merecem posts.
e sabes, a minha tem a sorte de ir lá para a natação - sabes que os gajos lá não lhe chama isso. dizem que é introdução ou adaptação ao meio aquático ou lá o que é. uma merda dessas. - desde os 3 meses e aquilo fez e faz-lhe muito bem. e faz mesmo naquelas coisas que nós não vemos à primeira vista e que os ajuda a crescer assim rijos como um pêro, como tão bem dizia o pequeno saul.
e sabes outra coisa? era eu que ia lá para dentro de água com ela. mas no último ano deixei de a acompanhar. ela mudou de horário e passou a ir a mãe sozinha. bom, a verdade é que na semana passada, por motivos que aqui não são chamados, fui lá eu e fiquei comovidíssimo - sim, aquela coisa dos olhos a marejaram e tal - com as coisas que ela agora faz e que, como deves imaginar, não fazia. é giro, sabes: eles a dominarem a coisa, a relacionarem-se com os amigos, a confiança que eles têm nos professores, essas coisas, entendes? coisas que se fazem na dita natacão.
ou achavas que ela ia lá para aprender a nadar? nah, isso é como o inglês na escola. isso é para se ir aprendendo.
digo isto porque posso pagar essas coisas? não, nada disso. digo isto porque se tivesse tido oportunidade, adoraria que os meus pais me tivessem metido na natação e nessas coisas quando eu era chavalito. mas como sabes, não havia carcanhol e só andámos, eu e a minha irmã, na equitação, no pólo e no golf.
dada a imensa quantidade de notícias que todos os anos se publicam sobre o assunto, estava convencido que o manoel de oliveira andava a fazer 100 anos, desde, pelo menos 1992.
é verdade, já há muito tempo que entendi que não existe jornalismo desportivo escrito em portugal. é a vida, o dinehiro custa a ganhar e por isso inventou-se uma coisa mais lucrativa chamada "actividade de notícias vendáveis escritas".
por isso, quando o porto, por exemplo, vence o seu grupo da champions - o que é que é isso num grupo com o liverpool e os turcos e mais não sei o quê? - a minha expectativa, o meu momento de humor diário existe quando tento adivinhar qual será a capa que o record ou a bola fará no dia seguinte.
ora, não havendo jogo das competições europeias para o benfica, estando o sporting também com treinos, não havendo contratações em fila de espera, de que é que então se fará destaque?
isso mesmo, da vontade do quique em ver o moretto em acção. lindo!
e o reyes - adoro ouvir os locutores dizerem reias - diz que deseja ficar no benfica por vários anos. qual real madrid, qual atlético, qual arsenal, qual sevilha. o homem passou por eles todos e sentenciou: é no benfica que se atinge o top europeu. é assim mesmo, pá. a gente acredita e tudo.
farto do raio das confusões com o jet set nacionalóibérico, abandonei a sierra nevada e as estâncias lá dos pirenéus, meti-me num avião e rumei para aspen.
ali sim, ali há gente de cartonância.
fui para a famosa neve. gente que é gente tem de fazer neve.
gosto tanto, mas tanto tanto de quem diz "fazer neve", fazer praia", "fazer termas",...
é isso mesmo, em tempos de crise, enfrentemo-la com a força toda.
cheguei lá de carro, subi a star mountain na minha potente carrinha, mesmo até à tower. mas como estava um barbeiro do caraças, voltei uns metros para trás e cortei à esquerda para supper (mas com ésse). e foi lá numas especiais pistas que peguei na minha expensive folha de plástico super resistente - que comprei (2,75 euros, cerca de 3 metros), claro, lá no here (com cápa no meio) de denver ou coisa parecida - deleitando-me com suberbas descidas de grau de dificuldade 7 (é o valor máximo, lá nos states, em descidas da neve), apresentado as mais difíceis manobras que um professor me ensinou, numa das minhas estadias em bariloche.
que é que foi? estranham a coisa? para mim, ski alpino já deu o que tinha a dar. férias na neve é só para lá do atlântico. e ski, só mesmo o andino.
in a jukebox job downing blues in her leopard-skin anklehigh boots while i'm jackin' off reading playboy on hot afternoon
three times loser - rod stewart
já falei aqui em como os cronistas e entrevistadores das revistas, ditas, masculinas, me desiludem ao fim de 3 ou 5 exemplares. falarei agora, do que realmente interessa, do gajedo.
nunca compreendi muito bem a evolução, ao longo dos anos, das características físicas das mulheres que encontramos, nas fotos das revistas masculinas.
ou seja, isto trocado em miúdos, «porque raio, não valem um caralho, as gajas que hoje em dia, aparecem descascadas nas revistas»?
peço desculpa mas é algo que me preocupa. preocupa-me a mim, deixou de preocupar a minha mulher.
sempre disse à minha mulher que as revistas de gajedo que apareciam lá em casa tinham como fim serem objecto de leitura de entretenimento. e confesso, com as gajas que apareciam antigamente, tinha receio de ser apanhado a mentir, agora, meus amigos, basta ela olhar para a capa para que não haja dúvidas em relação aos meus intentos.
sejamos sinceros, gaja que apareça na capa ou na centrefold tem de ser realmente boa. tem de ter boa prateleira, tem de ter bom cagueiro. tem de ser gira, caramba! mas acima de tudo, tem de servir para que um puto de 13 ou 15 anos, a surripie ao pai e fuja para a casa de banho para abafar a costeleta à pala das catraias. há dúvidas? julgo que não, não é?
e eu ainda trago na mente algumas dessas senhoras, valentes nacos de carne na pedra, que serviram de inspiração, nos longíquos anos oitenta, para actividades lúdicas de índole privada.
mas na actualidade? oh meu deus, a coisa está mesmo no meio duma crise do catano. ajudem-me a perceber a coisa e não, já nem vou para o reino da pornografia, bom, adiante. você está dentro dum banco de esperma, prestes a doar 3 ml para a ciência. a enfermeira pergunta-lhe: - qg, maxmen, hmf, pode ser?
você faz um scan às capas que se lembra de terem acontecido nas edições estrangeiras d'antigamente. e recorda-se: duns tetos da herzigova, dum cagueiro duma belucci, das prateleiras (são várias, não são?) da nicolle smith, por aí fora... e diz, tudo bem, venham elas.
- bom, mas só temos edições nacionais.
você aceita na mesma e quando chega ao cubículo depara-se com quem? com, por exemplo, a núria madruga ou a soraia chaves. agarra-se à coisa, efrega, esfrega, esfrega e... e o que é que queriam? as moças são girinhas, tudo bem. são magras, elegantes e tal. mas porra, dão ponta a alguém?
diana chaves? que é aquilo, pá? ponta? ponta pode eventualmente dar se estiver a a abanar o cagueiro à nossa frente enquanto o autocarro circunda o marquês, mas numa revista? tenham juízo!
e depois há o caralho do photoshop. meus caros, um dos maiores erros é julgarem que nós precisamos de photoshop para... bom, para... vocês sabem não é?
vejam por exemplo aquela coisa da cinha e da filha. aquilo tem alguma lógica? mas gasta-se assim tanta página com fotos daquilo? eu olho para o corpo da ana marques (quem é que se lembrou que aquilo poderia ser sensual?) na gq e acho que a mulher é revsita a faia! sério, entre a coxa da apresentadora e o chão do meu hall, eu, confesso, não encontro diferenças.
aliás, consoante a tonalidade da pele das senhoras, julgo que os photoshopeiros escolhem 3 tipos de filtros: faia para as fotos de inverno ou para as branquelas, cerejeira para o pessoal que é fotografado no verão e wenge para as pretas. aquilo ne textura tem, caramba.
o pessoal gosta de ver um vinquinho aqui, outro ali, gosta da sua ruga, gosta de sentir a sua chicha. e claro, caramba, sem tetos ou prateleirame ou cagueiro em condições, qual é a ideia?
veja-se as playboys brasileiras. sempre têm umas barroas quaisquer, participantes do bb, todas grossas e tal para animar o olho. agora voltemos para este lado do atlântico, pergunto "em que parte é que a marta leite de castro foi uma boa idea para ser capa de uma revista?", re-pergunto «mas o que é aquilo, porra?"
gostava de ter a memória mais clarificada relativamente a estes acontecimentos. recordo-me que esteve gravado, no lado b duma cassete que tinha no lado a o kick dos inxs. era uma cassete tdk, normal, com um som péssimo. nem sequer de ferro era, muito menos de crómio. de metal? ui, dese material tive talvez duas ao longo de toda a minha vida, isso ficou guardado para coisas muito além.
eu tenho quase a certeza que o disco apareceu lá em casa vindo do andar de baixo, do rui pires. certamente foi para lá vindo de outra casa qualquer que eu não estou a ver o rui a entrar numa discoteca para comprar aquilo.
eu acho que o gravei porque tinha uma assombrosa versão do in the air tonight que eu na altura gostava imenso. sim, olho agora para a lista das músicas e confirmo, foi mesmo por causa dela.
mas a verdade é que depois esse disco acabou por ser entreposto musical para ir para outras paragens. estávamos em 1989, lá pela primavera, presumo - sei-o porque me lembro de ouvir esse disco no verão de 89 - quando então, como disse, a reboque do phil collins descobri este disco que retrata um pedaço do concerto para angariação de carcanhol para a amnistia internacional e que ganhou o nome de the secret policeman's other ball.
ora bem, eu não digo que foi por aqui que passei a gostar mais deste ou daquele senhor cançonetista. o que é verdade é que há ali versões que não lembram ao diabo. dentre elas, há uma, digamos, porreira que é o catch the wind do donovan - ok, confesso, é raro estar virado para aqui - e outra fenomenal - mesmo! - do i don't like mondays pelos boomtown rats que uma namorada me fez o favor de gravar uns anos antes em duas cassetes basf encarnadas, de ferro, e que eu virei e revirei até saber quem raio estava ali a cantar. é verdade, não sabiam?, não nascemos ensinados - mas as que me enchem mesmo a alma são duas cançõesinhas dos police cantadas pelo sting.
falo-vos do message in a bottle e do roxanne. tudo ali é perfeito, o som, o ambiente, a guitarra a acompanhar a voz. tudo, tudo é perfeito. falei da voz, pois, não esqueçam, estamos em 1981, o sting tinha, sei lá, 30 anos ou coisa parecida. aquilo é soberbo. o gajo naquela altura cantava como quem bebe água. e quando é daquela água que nós gostamos, ui, então quando é assim até sabe a capilé.
adoro esta versão do roxanne. tenho a certeza que foi daqui que passei a dar, ainda, mais atenção às coisas dos police e principalmente ao outlandos d'amour. gosto de tudo ali: já falei da acústica, já falei do dedilhar da guitarra, queria acrescentar a forma como é feito o "roxanne" inicial ou os silêncios que ele coloca na canção - também são muito bons os silêncios do bob geldof no mondays - e, vou-me repetir, na forma como o cabrão canta.
1 - todos sabemos o quanto os jovens são cruéis e pouco criativos. mas, haja justiça, são directos. por isso se há alguém que na turma seja loura, logo, ganha a alcunha de "a loura"; se é narigudo, aí o leque de opções é mais variado «pinóquio», «pencas», «chaveta», etc (sei do que falo); se é preto, adivinhem, é isso, chamam-lhe «o preto», se é coxo chamam-lhe «mantorras» e por aí fora.
com as diferenças musicais sucede a mesma coisa. agora, confesso, não sei, mas no meu tempo de «pinóquio» era cool gostar-se de música de vanguarda, mas não era cool gostar-se dos dead kennedys; era bem gostar-se dos genesis (pré "trick of the tail), mas não era bem gostar-se dos marillion - contudo, para algumas franjas da sociedade, era bem gostar-se desta banda -; era bem gostar-se dos omd mas não era bem gostar-se dos duran duran; podíamos gostar dos dexys mas nem pensar gostar, sei lá, dos tom tom club. já dos talking heads, curiosamente, era obrigatório gostar. podíamos e devíamos gostar dos clash, mas seria, no entanto, de muito mau gosto, gostar dos cramps.
num nível mais reles do gosto musical, além de estupidificante, era comprar uma guerra com o mundo, gostar-se dos: wham, do jim diamond, do gazebo, dos scotch ou da rádio cidade. e mesmo que as pessoas se divertissem mais a roçar as partes baixas ao som do power of love dos fgth ou do sign your name do terence trent d'arby, deveríamos mentir e dizer que aquele roça roça tinha acontecido enquanto o david lá na festa da sofia, tinha colocado o stairway to heaven.
um dia, o pio, um jovem com um toque de bola apuradíssimo, teve a sensatez de andar-se a passear por entre as colunatas do pátio do rainha com o movement dos new order. ora, actualmente, com a internet e a divulgação massificada de tudo o que existe no mundo musical, desde som, capas ou letras, eu julgo que ninguém consegue ter noção do quanto isso poderia significar em 1983. foi a primeira vez que eu vi esse disco nas mãos de alguém. sabia que existia, mas nunca tinha sequer visto a capa, nem lhe conhecia as cores. recordo-me que andei por ali a vaguear à volta do gajo só para ter o prazer de estar a olhar para aquele disco.
tempos depois ele andava com o under a red blood sky. carai, o gajo tem o under a red...? não, não tinha sido a primeira vez que o via, mas o endeusamento à volta do rapaz foi aumentando. ele era mesmo cool. o passo seguinte foi com o steve mcqueen dos prefab sprout, não havia dúvidas, ele tinha mesmo bom gosto. ele era, assim, uma espécie de bitola do que se deveria gostar em relação às coisas da música. era, pois, o oposto daquelas miúdas com autocolantes da bravo com o david gahan. é curioso que actualmente gostar do dave gahan já é cool, vá se lá saber porquê. até se ouve na radar, imagine-se!
recordo-me que o pio, lembrou-se de carregar uns 2 anos, talvez, mais tarde o provision dos scritti politti. reparem, não foi o songs to remember ou o cupid, foi mesmo o provison. e eu acho que esse acto deitou por terra todas as suas ambições em manter-se como rei espiritual ou platónico do bom gosto. pelo menos no meio daquelas almas parvas que se preocupavam com isso. ou seja, para as gentes "pensantes" daquele liceu, ele até poderia gostar de tudo o que vendesse menos de 5000 exemplares em portugal. nunca, mas nunca poderia gostar de coisas que tivessem sido disco de ouro.
eu que era uma puta vendida que me excitava de igual maneira com o the hanging garden ou com o disco band dos scotch, olhava para aquilo e imaginava que uma das caratcter´siticas das pessoas crescidas seria o facto de relativizarem todas estas questões, permitindo-nos podermos andar a ouvir o que nos desse na real gana mesmo que usássemos ténis sanjo em vez daqueles nike azuis com a onda laranja que custavam sete contos e oitocentos.
2 - consciente ou inconscientemente já utilizámos o advérbio «só» metido no meio de algumas frases como por exemplo: «o meu filho só começou a andar aos 12 meses»; «a minha filha só começou a ler aos 6(?) anos»; «...pois, só deixou de mijar na cama lá por volta dos 8 anos».
e eu disse inconscientemente porque acredito que não haja muita "maldade" no uso dessa palavra. mas há por aí - dêem uma vista de olhos em alguns dos blogs em que se falam sobre os filhos, por exemplo - uma parva competição tão enraizada que a sua utilização se torna ridícula.
confusos?
vejam comigo: as senhoras aborrecem-se quando ouvem o marido dizer "eu ajudo a minha mulher a passar a ferro", não é?
(é)
porque aquela frase já subentende que o "passar a ferro" é do departamento feminino e, portanto, é uma "ajuda" quando o marido se mete a fazer esse trabalho.
é certo que imbuídas por aquele espírito parvo das igualdade feminina/masculina, também ficam aborrecidas quando nos lembramos de ser meramente educados e gentis ao lhes abrimos a porta do carro ou seguramos a porta do elevador para entrarem, mas isso já são outros trezentos.
voltando a trás, aborrece-me tanto aquela colocaçãozinha do "só" nas frase sobre os putos que só me apetece dar-lhes com uma chinelada nos cornos.
ainda falam dos chineses e dos ingleses que gostam de jogar e apostar em tudo. os portugueses, mesmo que a feijões não lhes ficam a trás. competem com tudo e sobre tudo: o número de dentes, o dia em que deu os primeiros passos, a primeira vez em que escreveu «o povo está com o mfa», a primeira vez que observou que «ó mãe, a porteira do prédio do vasco, tem pinta de vaca, não tem?» ou a primeira vez que disse "ó pai, porque é que chamam águia lá ao milhafre do benfica?»
3 - o francisco camacho, além de ser um dos responsáveis por eu ter deixado de ler atentamente a gq - a filomena mónica está para a gp como a rebelo pinto está para a maxmen - faz parte daquelas pessoas que na passagem de adolescente para adulto, acomulou o ponto 1 e o ponto 2 deste post.
ele tem uma crónica mensal lá na referida gq onde fala sobre música. poderia ter escolhido muitas formas de falar sobre este tema mas escolheu precisamente a mais parvinha de todas. ou seja, decidiu enveredar por «vamos lá falar sobre músicas que as outras pessoas gostam e que eu não gosto, realçando o facto de eu ser muita bom por gostar das músicas que eu escolhi gostar enquanto que todas a restante população mundial é ignóbil por gostarem de lixo discográfico em quantidades industriais.»
eu já nem vou ao ponto de destacar a crónica em que ele desanca nas pessoas que gostam dos abba, vou-me calar quanto ao facto de ele ter malhado nos pobres il divo do simon cowell, mas achei realmente uma coisa parva - porque acumula a gabarolice parola com estupidez - a crónica em que decide demonstrar que ele é um ser superior porque nunca permitiu que os seus filhos decidissem que tipo de música se ouviria no seu carro.
(é assim mesmo, pá!)
ou seja, ele é que é bom e esperto porque na sua viatura nunca se ouviu o noddy, a hannah montana ou o bob o construtor. enquanto que os seus amigos que não puseram travão a esses hábitos são pessoas inferiores.
bom a coisa poderia ficar por aqui caso fosse apenas essa a ideia da crónica. acredito até que a ideia principal seja apontar com humor todas as dificuldades que temos em controlar os desejos das nossas crianças, uma vez que isso é verdade. o que não é verdade é o facto de ele ter piada, por isso refugio-me no facto do autor ter mesmo tentado demonstrar o que está patente nas suas crónicas sem qualquer outra mensagem humoristica subrepticiamente escondida.
(é verdade que posso não ter cabecinha para encontrar esse tom humorístico nas crónicas da gq. mas também nunca disse que a gq tem a medida do meu arcaboiço cultural. longe disso! sou um gajo que ainda gosta de ler o cascão e o chico bento, pessoal)
assim, o bom do camacho lembrou-se de apimentar a crónica com os resultados da sua boa e acertada acção em não permitir que os seus herdeiros ouvissem o que bem lhes desse na gana dentro do seu carro. a exemplo que já tinha sucedido com ele, que com apenas oito anos já ouvia coisas superiores como os beatles - que decidiu gravar em enormes bobinas apagando as coisas do charles mingus ou do gerry mulligan que o seu pai costumava escutar - também o seu petiz já ouve no seu ipod, bandas, decerto reveladoras do grau de superioridade em relação aos colegas da primária, como os arcade fire, o josh rouse ou os pixies.
(que bonitinho, viste?)
a cereja no topo do bolo sucedeu quando confrontou o filho em relação ao presente que os seus amigos deveriam dar à criança. assim, em vez dos tokio hotel ou outras coisas mais "morangos com açucarzadas" que o mercado fnaciano tem, a criança - tão bem educadinha, não é? - sentenciou: quero um disco dos beatles.
4 - pergunto (e concluo) eu, tem algum mal gostar dos beatles? credo! era a última coisa que eu poderia dizer. tem algum mal gostar dos arcade fire? dos tokio hotel? dos pixies?
não, não tem mal rigorosamente nenhum. o que tem mal é fazer crónicas retroagindo como se fosse um daqueles adolescentes parvos que gozavam
gozavam e gozam! ainda presentemente ouço pessoas pronunciarem frases como se fossem trofés cronológicos, como: eu com 12 anos já ouvia os discos dos king crimsom do meu pai!
com os colegas que gostavam dos wham em vez dos judas priest, usavam calças da ramirez & raul em vez das levi's ou viam filmes do spielberg em vez do bergman. mais a mais, denotando orgulho nas opções do seu rapaz.
e pergunto ainda outra coisa «e tem mal agir assim?». não, não tem mal nenhum. uma coisa é escrever sobre isto num blog parvo como este, outra coisa é escrever numa revista, não gratuíta, sendo ainda por cima pago para esse efeito.
e pronto, suponho que é bonito mantermos estas criancices parvas ao longo dos anos.
isto é tão ridículo como se eu me lembrasse de me orgulhar e encher o peito perante os coleguinhas da escola da minha filha, só porque ela, imagine-se, no meio dos seus 4 anos, sabe cantar o «as» do stevie wonder.