Uma vez, num programa sobre as celebridades e a fama, a mãe do Hugh Grant (para mim, o mais sobrevalorizado dos actores de Hollywood - há mais de 20 anos a fazer o mesmo papel, o de hugh grant) fazia a distinção entre a forma como a generalidade dos ingleses e dos americanos lidam com a fama. Perguntaram-lhe numa festa qual era a profissão dos filhos, ela respondeu que um era bancário e o outro era actor de cinema. Então a sua interlocutora, vira-se para ela muito admirada e entusiamada e diz: "uau! a sério? e em que banco?"
Eu também sou um bocado assim. Primeiro por desconhecimento e por distração (certo dia vi uma tipa no Cascaishopping que, pela cara me parecia gravemente doente. comentei com a minha mulher "já viste aquela gaja? deve ter sida, coitada. ou então é anorética". respondeu-me ela "não meu parvo, é uma modelo. é uma das belas e perigosas do 24 horas. e o corpo é mesmo assim"), depois porque me estou realmente cagando para o facto de "este, aquele ou aqueloutro" serem: jogadores de futebol, porteiros de discoteca, drag queens, cantores de bar, presidentes da junta, donos da empresa xpto, proprietários do carro xp47, editores de revista de moda, políticos, actores de novela, etc.
É claro que também me deslumbro e me arrepio por certas pessoas. Só que não têm propriamente os mesmos atributos de celebridadismo (esta fui eu que inventei, a ideia é vir de celebridade, desculpem lá o mau jeito) que todos os outros. Encantam-me e fico de boca aberta com: recepcionistas de oficinas de automóveis que, no meio duma aparente rudeza, pegam em bebés duma forma inusitadamente deliciosa, alguns arquitectos que, apesar de brutos e parvos como as portas, são capazes de em 5 riscos fazer ressuscitar uma casa (há outros que não são brutos nem parvos, mas que também fazem o mesmo, nem que seja em 10 riscos); pessoas que sabem pôr vírgulas nos sítios certos, que não sabem o que é um verso jambelegíaco, mas distinguem advérbios de preposições como uma mãe distingue os seus filhos gémeos; pessoas que ganham o ordenado mínimo e que conseguem educar 3 filhos, etc.
Isto vem ao caso porque hoje pedi o meu primeiro autógrafo. Já andava para o fazer há muitos meses. Hoje voltei a encontrar-me com essa pessoa, enchi-me de coragem, espetei-lhe um livro à frente, ele ficou ainda mais nervoso e envergonhado que eu, disse qualquer coisa como "ah e tal, também leste estas coisinhas? sabes tenho de escrever isto para me distrair deste mundo...." (e eu pensei cá para comigo "ah meu malandro, com que então coisinhas?"), folheou 3 páginas, desenroscou a sua caneta de tinta permanente e pespegou lá as seguintes palavras: para o pedro, com um abraço do ........
é uma das minhas pessoas favoritas!