de maneiras que ao que parece finou-se o antónio sérgio.
de maneiras que ao que parece também fica bonito escrever qualquer coisa com aquele ar de «as inúmeras janelas que ele me abriu para o mundo musical e blah, blah, blah...»
lamento mas não me incluo nesse lote. a culpa, claro, não é do antónio sérgio, coitado.
bom, vamos por partes: se há grupinho "irritanchi à beça" no panorama da fauna musical portuguesa, são, obviamente os antigos vanguardas, posteriormente indies e actualmente alternativos. se há grupo com maior percentagem - cerca de 95% - de pessoas com aquele ar «isto aqui é que é bom, aquilo aí que tu ouves é foleiro e menor» são estes que referi atrás. sei do que falo, frequentei essas «zonas zoológicas» e realmente aquilo cansa. cansa porque tem coisas (musicais) muito, muito más.
pior, confundem alegria com brejeirice e confundem brejeirice com mediocridade. poderia dizer que os metaleiros e os clássicos (antena 2) também são um bocado assim. aceito, tudo bem. mas os alternativos metem essa malta toda num cantinho.
o problema é que entretanto essas pessoas crescem e não mudam. ora eu não peço que mudem de gostos, mas peço, cum raio, que deixem de vez a atitude pedante.
já não temos 16 anos. já lá vai o tempo em que ter uma t-shirt com a foto do garlands ou do porcupine era um santo e senha para se ser «aceite».
ora, todo esse grupinho, está hoje de luto pela morte do senhor sérgio. é claro que o senhor sérgio não tem culpa nenhuma das atitudes pedantes dos seus seguidores. não podemos culpar o menssageiro pelo efeito da mensagem. longe, muito longe disso e é certamente uma afronta eu falar sobre esta coisa no mesmo texto sobre o antónio sérgio. mas não resisti, confesso. foi mais forte que eu.
eu lamento a morte do antónio sérgio porque lamento o desaparecimento duma característica que ele tinha ao qual eu tiro o chapéu. ele foi o último dos moicanos, o último dos radialistas da sua geração (e da geração dos que punham discos na rádio quando eu ainda não tinha pêlos nas partes de baixo - nem nas de cima!) que não trabalhava com playlists. se há coisa que eu odeio são programas com playlists. ou melhor, eu tenho é pena de não haver mais programas daqueles em que os senhores que iam lá pôr música, pegavam num molho de discos escolhidos previamente e «olha, hoje toco estes.» assim, sem mais, apenas porque lhes deu na veneta.
e por isso, caramba, aqui fica a minha chapelada ao antónio.
(e não há um caralho dum vídeo no you tube com os xutos a tocarem o som da frente!)