segunda-feira, agosto 31, 2009

sweet jane

algures por volta de 1985, os xutos e pontapés foram à tv e apanharam com o carlos cruz. de chofre, perguntou ao zé pedro se os xutos eram uma banda ou uma forma de estar na vida. respondeu o simpático guitarrista, depois de meio segundo de reflexão, que eles eram uma forma de estar na vida.

meses depois, estava eu em casa do osguinha a ouvir em altos berros o sexo quando irrompe quarto adentro o irmão do meio e nos pede: podem baixar aí os forma de estar na vida?

assim fizémos. assim baixámos.

olhou para nós com um ar de desprezo/gozo e perguntou-me:
- também gostas dos forma de estar na vida?
- tem dias. nem por isso.
(mentira. isto de não gostar, foi, apenas, após 1987. até lá, eu gostava muito)
- então e qual é a tua banda favorita?
- neste momento?
(que contra-pergunta mais besta, não?)
- não, noutro momento qualquer.
- humm, talvez os velvet.
- e tens idade para gostar dos velvet?
- não sei.

não tinha. nunca terei. vai-se ouvindo, pronto.

quinta-feira, agosto 27, 2009

com uma abébia dos meus camaradas

rezam as crónicas (as femininas também) que o cristiano ronaldo tinha acabado de chegar ao sportem e, como era jeitozo, puseram-no a jogar com os júniores. ele era, presumo, ainda um minorca do caneco e ali estava ele a jogar já com malta bem mais velha, de pelo na venta e corpo de adulto.

porém, ele lá foi para dentro do treino e passados 12 segundos já ele estava a dizer «ó chavalo, passa mas é a bola, caralho!»

os anos passam e se há coisa que podemos verificar nos cristianos desta vida - e também muito no futre (que saudades) - é que se estão cagando e andando para o palco onde estão a actuar porque não são atacados por aquilo que o valdano designou como medo cénico: jogar no alvalade contra o vila chã de sapo ou no maracanã contra o brasil, para eles sempre deu no mesmo. queriam (e querem) era jogar à bola.

chegou-me à minha beira um bídeo dum moço que eu não sei se estava nervoso, se é um valente cagão, se tem boa voz (tem) ou se tudo o que escrevi está errado. o que sei - ou pelo menos dá ideia disso - é que não se vê ali nenhum medo cénico.

gostei

cliquem aqui

shattered

um abraço ao engenheiro quadros,

algures em 1983, acompanhado dum meu amiguinho dessa altura, entro em casa dele e deparámo-nos com um cagaçal dos diabos.

no hall, dirigimos a cabeça em direcção da porta da casa de banho e notámos que o som vinha lá de dentro. de lá de dentro vinha também, um cabo que atravessava a porta fechada e que, ligado a uma tomada bem perto da porta da dita casa de banho, fornecia energia a um tijolo, provavelmente onkyo, que emanava uma rockalhada do caneco.

- é o meu irmão zé. está a tomar banho e a ouvir o still life dos rolling stones.
- iá.
- ele foi vê-los a madrid, na final do espanha 82.

ora, este diálogo encerrava, duas ou três questões que, para mim, puto de muita tenrinha idade, eram coisas que poderíamos arrumar na diocesa: g'anda ventarola.

a saber:
- o facto de haver um tijolo lá em casa, quando na minha havia um picâpe dos antigos que me fodia e riscava os discos com uma limpeza dos diabos;
- o facto de haver alguém que gostava dos rolling stones, coisa muito, muito além, para alguém - eu - que submetia os seus gostos musicais à (boa) enxurrada comercial que o jorge pêgo (e a ana bola também) me mostrava no t.n.t (patrocínio do shampoo timotei de camomila);
- o facto de haver alguém, que eu podia tocar assim com um dedo e tal, que tinha ordeca dos pais para ir a concertos;
- o facto desse concerto ser, imagine-se, em madrid.

os rolling stones só se tranformaram na minha banda favorita uns sete ou oito anos mais tarde quando me rendi, não às coisinhas dos seus discos dos anos sessenta, mas sim, aos dos anos 70. black and blue, iorr, exile, emotional rescue, some girls, sticky fingers e por aí fora, esses sim é que são a minha praia. e claro está, o still life que o referido zé estava a ouvir em altos berros naquela casa da miguel bombarda.

da tourneé de onde foi extraído esse disco, lembraram-se os rolling stones de convidar um senhor chamado hal ashby (vão ao gugâl saber quem é) para fazer um filmezeco a que deram o supimpa nome de «bute mazé passar a naite cá com o je», no original «let's spend the night together».

ora esse filme ainda é o filme dos filmes no que toca a coisas de concertos, coisas de rock, ou coisas do musicól, digamos. poderme-ão dizer que há também o shine a light e tal, que o scorcese é que é, que aquilo está muito bem filmado... bom, quero que vão todos para o real caralhinho com essas opiniões. para mim, gosto mais de comer um prego cheio de molhanga e mais um traçadinho na tendinha do rossio que uma gaita qualquer num restaurante daqueles em que os empregados se chamam valdiney e cortam o cabelo em institutos de beleza. ou seja, o meu problema não está no trabalho do senhor scorcese mas sim nos rolling stones
em si. basta olhar para as imagens desse concerto dos idos oitenta para ver que eles ali estavam no pico dos picos.

é toda aquela envolvência: um estádio cheio, americanos doidos, uma coisa em tempe no arizona, bem no meio do deserto e tal, o jagger magérrimo, com calças apertadíssimas e joalheiras de skate, o kiff com aquele ar de joe strummer, ao piano ainda estava o ian stewart e tal... é perfeito, simplesmente perfeito. e o palco? que maravilha: cor, seco, rude, amplo. e depois tem aquele letreiro luminoso a dar um ar de carruagem do metro a anunciar as estações, daqueles antigos com as letras formadas por pontos vermelhos.

esta não é a minha favorita. mas é nesta em que se vê uma coisa que eu ador. está o jagger a mostrar o ombro, a dizer she do me, she do me, she do me, enquanto saltita tesourinhas, quando se vê o bill a sacar o isqueiro do bolso do seu blusão - uma coisa muito eighties, assim em schintz ou coisa parecida. idêntico a um que eu possuí e que tive o cuidado de foder, ao entalar uma das suas abas, no eixo dianteiro esquerdo do meu carro de esferas, numa daqueles excitantes provas realizadas nas traseiras do lote 20 barra 21 da mira fernandes - a acender o seu cacilho, enquanto a música já decorria. sem excitações nem compromissos, aguarda pelo acorde correcto, sem temer perder a vez ou entrar atrasado, fazendo-se ouvir o seu baixo, ali no momento em que o seu téni naique esquerdo começa a subir e a descer, marcando o ritmo do seu instrumento.


chama-se a isto, uma banda de níbel!



terça-feira, agosto 25, 2009

o fogo inesquecível

gente amiga foi há dias a londres ver os u2.

aosdespois, teve a lata de enviar um email a um grupo de amigos dizendo: foi espectacular. cliquem no link em anexo para ver os comentários no fórum e blah, blah, blah...

ou seja «pessoal, gostei. não sei escrever sobre este assunto por isso leiam o que os outros disseram».

o rapaz é parvo, claro! (aquele beijinho, meu conho!)

mas a verdade é que acabei por clicar lá no link indicado e dei uma vista de olhos. não li os comentários lá do referido fórum mas dei uma especial atenção à setlist da coisa. tomando em consideração que estamos em 2009 e que os moços já têm mais que uma dúzia de discos, deixem-me vou dizer que é um conjunto de canções supimpas. é uma lista do caraças. e digo isto por várias razões das quais destaco duas: porque tocam 7 das 11 canções deste último disco - definitivamente o melhor dos últimos 20 anos, a par, digo-o duma forma desinfectada, do achtung baby -; e porque entre outras, tocam o unforgettable fire. e acreditem, por mais setlists que se possam construir, haver uma que tenha o fogo inesquecível (e até tem o bad, camandro!) empurra logo a coisa para um valente concerto.



estou com inveja do meu amigo, não liguem!

segunda-feira, agosto 24, 2009

dietas

armados em regenerados, já com as férias definitivamente enterradas, decidimos amansar um cadinho a dimensão das cilhas dos respectivos pancis - mais eu, que ela é parva e não sabe o que é gordura corporal.

assim, aproveitando o facto da mais pequena estar de férias, elegemos como menus para a janta, sopinha e fruta.

eu acrescentei uma taça de tinto que há limites para tudo.

tudo muito bem, tudo maravilhoso, muitos sorrisos e mais o caralho e tal.

- ah, se eu comer outra fruta, não tem mal nenhum, não é? é fruta, por isso...

mais à frente:
- realmente, ó amor, isto nas férias foi um descalabro de pão, doces, cerveja...
- e leitão, e leitão...
- isso.
- mas agora, olha lá a gente, hein? gaspacho, sopinha, frutinha... que maravilha.
- e não vais ter fome?
- nahh, temos que mortificar o corpo. se ela vier mais perto da noite, come-se... bom, come-se outra peça de fruta!
- isso.

encho outra taça de tinto, uma coisa fina, ali uma espécie de cartuxa, desvinculado pelo vizinho de cima e tal. vamos os dois para a sala, silêncio humano, a miúda com os avós... nem um «cala-te, porra!» ou um «vai mazé já prá a cama que o pai já te vai ler a história!». nada disso, tudo quáiate, tudo pianinho.

- bem amor, vou lavar a loiça.

porta fechada, música da cozinha, estupidamente alta, sintonizada no immigrant song. os pratos na máquina da loiça, os talheres também, os copos, a bimby... espera lá! mas que merda é esta que a bimby tem aqui dentro. isto... isto são restos de... carne? carninha? ui! mas isto tudo junto ainda dá para uma.... onde é que eu tenho o salazar? está aqui, espera lá... uhhhh! que maravilha. então em tempos de dieta... e na lâmina? espera lá, espera lá, se eu conseguir sacar aqui com uma faquinha daquelas que dão nos aviões... já está. a brincar, a brincar ainda mamei... ora deixa cá ver, mandei cá para dentro umas boas duas colheres de chá de carninha!

em tempos de crise...

e amanhã tenho a certeza que ela vai ler isto e pega logo no telefone:
- ó meu estilhaço de punheta, isto é que é solidariedade, meu cabrão?

(calma, estou a brincar, ela não diz asneiras.)
(nem eu.)
(deves!)

sexta-feira, agosto 21, 2009

bloch


eu tenho medo de falhar, digamos, por meses... vá lá, semanas, pronto. mas eu acho que a débora bloch está em ponto de rebuçado há seguramente 22 anos e 5 meses!

(que ganza de mulher!)

domingo, agosto 16, 2009

nebulosa

cara rita,

pronto, lá vim finalmente para o meu posto de observação do céu devidamente artilhado (sabes bem que este artilhado é um exagero) com o tripé para os binoculos (comprei o tal adaptador, sabes?) e, imagina tu, vim também com um monóculo que o meu cunhado me emprestou.
ora bem, acho que já te tinha dito, nem nos binóculos nem no monóculo havia qualquer referência à potência, características ou marca da coisa. por isso, lá fui eu para o campo sem ter nenhuma noção do que iria encontrar.
ainda estava a preparar o tripé (dizer «preparar o tripé» é uma coisa já meio pro, não achas?) quando alguém que comigo estava de férias comentou:
- olha, se vais ver o céu tens que olhar ali para aquele ponto que é marte.
marte? pensei eu cá para comigo, sem ter nem certezas nem dúvidas em relação àquela informação. olha, se for, porreiro. se não for, logo descobrirei o que é.
olhei para lá com os binóculos e, como deves imaginar, os meus «vastíssimos» conhecimentos levaram-me a um mero encolher de ombros somado ao previsível pensamento «talvez seja». acabo então de colocar os binos (dizer «binos» também é coisa de pro, não é?) (estou feito um cagão, já viste?) no tripé, aponto a coisa para o suposto «marte», vejo a coisa com mais atenção, vou buscar o pc para a minha beira, ligo o stellarium (com esta é que arrumei as questões todas. gajo que vai olhar o céu artilhado de stellarium está literalmente a armar-se aos cucos, não achas? um dia destes estou para aqui a falar em dobosianas e coisas assim, não é?), procuro com mais atenção e... eh pá, jupiter? será?
era.
que maravilha, rita. nunca tinha visto assim, pelo meu olheco, um astro desses que andam à volta do sol que não fosse a lua. tótil, pá. ali estavam eles, de um lado o europa, do outro o ganímedes... coisa mais gira.

depois fui à revistinha lá do sir patrick moore e aquilo lá tinha um gráfico todo catita com a evolução das luas de júpiter e lá fui acompanhando ao longo dos dias a coisa.
ora bem, vistas as coisas de júpiter desatei a tentar perceber o que raio se consegue ver com os binos devidamente fixos no tripé. eis quando tento procurar e.... e encontro a nebulosa de andrómeda. é pá, uma coisa diferente dum pontinho e tal. uma coisa assim fora do vulgar, gira, pronto.

encheu-me o dia. ou melhor, encheu-me a noite. daí para a frente lá fui seguindo as sugestões da revista. aquela coisa do triângulo de verão e tal. mas claro, volta e meia voltava ao planeta grande para ver o desenrolar do carrousel lá das luas. que maravilha.

ah, o tal monóculo não é mau. já se vêem as coisas mais pertinho e tal. mas é como tu já me tinhas prevenido, a quantidade de luz já é bem mais reduzida e torna-se também mais complicado encontrar o que se quer ver ou até, como sabes, ter uma nitidez da coisa.

mas gostei, gostei mesmo. e fiquei também com a certeza que dada a frequência com que terei estes céus, preciso de bater muitas muitas noites de binóculos antes de eventualmente - tenho sérias dúvidas - me meter num telescópio.

vale?

motas

eu não sou contra as motas.
eu não sou contra motards.
eu não sou contra as concentrações de motas.
eu sou é contra a minha ineficiência em conseguir conjugar as minhas férias com aquele período do ano em que não há concentrações de motas nos locais onde passo férias.

eu até compreendo, respeito e louvo o espírito camarada entre os motards.
eu até aceito e verifico que há motards - gente mais cota e tal - que vão para as concentrações com aquela aura zen de "iá, pisse ende lâve tu evri bodi".
eu não consigo é aceitar que me digam que, estatísticamente falando, este último tipo de motards seja o "cidadão comum" entre os motards.

não me fodam nem me enrabem, é só abrir os olhinhos. as pessoas que não têm nada que ver com as motas mas que têm que apanhar com elas durante as concentrações
sim, porque não julguem que os motards ficam circunscritos ao recinto das concentrações. não, nada disso, vêm cá para fora e andam por aí como fugitivos exibicionistas.
apanham por tabela com o vasqueiro que emana da porra das ponteiras
não era suposto haver um caralho dum limite legal para aquele coisa dos decibéis que as motas fazem?
apanham com o cheiro íntimo que os concentraccionistas (ou lá como é que esta gente se chama) transportam;
nada contra. quem fez inter rail ou semana de campo na tropa sabe que há coisas que não se conseguem evitar. sou é contra ter que apanhar com falta de asseio nas ventas.
apanha com aquele regime de excepção em relação à obrigatoriedade do uso de capacete
se eu decidir fazer uma concentração, sei lá, de carros amarelo-torrado permitem-me andar sem cinto? e sem cuecas? e sem pneus? e sem pára-choques? e sem carta?
e tem que assistir àquelas bonitas cenas, que por isto mesmo sucedem, onde surgem, na frente dos zelosos gnr, famílias numa mota, com o pai à frente, a mãe atrás e, no meio, entalado entre os dois, um ou outro bebé.
uma maravilha, ali os três e tal, sem capacete...
contudo, continuo a achar o top dos topes, aquele coisa de desatarem a acelerar a seco, ali a puxar pelas máquinas, o barulho a aumentar, os sorrisos matreiros deles e delas (pois, ataca a todos os géneros) como quem diz «maquinão do caralho, hein?» e as cumplicidades dos que assistem, sentados nos selins (ou assentos ou lá o que aquela merda se chama) a sorrirem também.
as cerejas nos topos dos bolos são aqueles ou aquelas que captam e gravam todos estes acontecimentos nas suas privadas câmaras de vídeo. imagino-os mais tarde, lá em casa, naquelas salas de jantar repletas de posters com uma ou outra águia da harley, interrompendo os programas das choppers do orange county com aquelas frases «ó toino, e se víssemos aquele vídeo com o necas a sacar aquelas gazádas na kawa?».
eu falei em cerejas e bolos no parágrafo anterior mas enganei-me. na realidade eu que queria deixar esta coisa das cerejas para este parágrafo aqui. é que podem não acreditar mas aqueles malandros dos motards já não se contentam espectáculos de gajas com tetos semi-tapados por camisolas molhadas. agora têm que terminar as concentrações com, imagine-se, raves ou tendas electrónicas e mais não sei o quê. ora acreditem, mesmo numa zona cuja topografia é bastante acidentada, mesmo assim, temos que apanhar com pum-pum-pum-pum-pum que atravessa vales e montanhas mesmo a mais de uma légua (são cinco quilómetros, não precisam de ir ao gugâl) de distância, isto, refira-se, às seis ou sete da matina.
foda-se, só me faltava mais isto. quero dormir, caralho!

sábado, agosto 15, 2009

ferrari

ontem guiei um «ferrari».

não andava propriamente a sonhar com isso todos os dias mas caneco, um ferrari é sempre um ferrari.
infelizmente não era um ferrari de 4 rodas mas sim um de 2 rodas. falo na realidade de uma bicicleta, um ferrarizaço das bicicletas.
meu deus, eu acho que vi a luz. há qualquer coisa de extraterresre em guiar uma coisa daquelas.
se estou a exagerar no entusiasmo? é provável que sim.
mas reparem, a minha primeira (e única) bicicleta comprou-me o meu pai, tinha eu aí uns sete ou oito anos. era uma chopper azul (à porto, carago!), sem mudanças, daquelas que se podiam dobrar ao meio para facilitar o seu transporte, pesadíssima e que perdeu o assento, poucos meses após a sua estreia.
era daqueles estilo harley e o meu pai teve o cuidado de adaptar um tubo de canalizador num selim branco, comprado na mítica ciclo-areeiro, localizada naquelas arcadas dos edifícios do início da gago coutinho.
ora, devido ao seu peso excessivo, ao selim que me obrigava a pedalar praticamente em pé por não chegar em condições com os pés aos pedais e àquela horrível configuração do guiador era um tormento conquistar subidas com ela.

e o meu bairro tinha (e tem) a característica de estar cercada por subidas (ou descidas). além disso, mesmo lá dentro do bairro, havia umas subidas, digamos, de primeira categoria, como por exemplo a da sede do vitória.

poder-me-ão dizer que a subida da mira fernandes era uma coisa puxada, que a calçada - principalmente devido ao seu piso em basalto e ao constante tráfego automóvel - era também uma coisa complicada e até que quem se atrevesse a subir a do carrascal tinha que ter a sua dose de loucura.

mas friso, subir a silveira peixoto não era para todos. aliás eu arrisco a dizer que nunca ninguém subiu a aquela via.

ora, é com estes pressupostos - somados, eventualmente, ao facto de as minhas últimas experiências ciclísticas terem acontecido numa bicla «conquistada» nuns pontos de combustível e graciosamente cedida por alguém que prefere vê-la a andar por aí sob o meu rabo do que arrumada numa garagem - que eu peguei então na bicla do meu cunhado. o tal ferrari que referi logo no início.
cum raio, aquilo é tudo perfeito, simplesmente perfeito. caraças, a gente bota os pés nos pedais e tudo se encaixa. deixa de haver subidas.
eu às tantas estava a ver que tinha ganho 10 quilos de músculos nas pernas mas não, eram mesmo o raio das mudanças que funcionavam ali, pianinho, sem saídas de corrente, sem trec-trec-trec a roçar nos carretos, com a suspensão dianteira regulável para não andarmos aos solavancos quando subimos as ladeiras. é tudo mesmo perfeito.

e depois o peso. é pá, eu acho que a minha mulher tem talheres lá em casa mais pesados que a bicla. que maravilha!
não posso deixar de referir aqui os travões da menina. para quem passou dois anos - entre os meus 11 e os 13 - a gastar ténis porque os travões da roda traseira não funcionavam, obrigando-nos a entalar o pé entre o quadro e a roda para reduzir a velocidade, acreditem, ter uma bicla com travões de disco é, não só uma loucura, como também, no mínimo, bizarro.
andei nela umas meras duas voltinhas de 45 minutos cada. mas caramba, só o prazer de galgar subidas nela... e estou a escrever esta isto, páro, olho para trás e vejo, na mesma frase "prazer" e "subidas" e há realmente coisas que só acontecem quando andamos num ferrari!
e não, não vou referir nem marca nem modelo da bicla para não virem os eventuais comentários (ou emails) do costume a dizer que «não, não, máquina a sério é uma não sei quantos, por medida, com garfos de titânio ou lá o que é. mariquices, de quem quer - como eu - falar só por falar. como se não houvesse vários "escalões" de ferraris. como se eu dissesse que tinha conduzido um daytona ou um enzo e me viessem falar que o veyron mete os outros italianos a um canto.

são os mesmos comentadores que nos respondiam «ah, mas se fosse um ml63 é que tinha pinta!» quando relatamos que a gaja tinha a mania de nos deixar assapar com o ml350 do pai para as dunas do guincho, depois de nos pagar valentes mariscadas no muxaxo. ainda que lhes replicássemos que aqueles tetos valiam punham qualquer ml63 a um canto...

bom, vou-me calar!

quinta-feira, agosto 13, 2009

férias

tenho dificuldade em compreender as férias sem que as mesmas sejam com calorzinho. não digo caloooooor entendem? digo, vamos lá a ver, calorzinho, vale?

tenho dificuldade em compreender as férias sem que as mesmas sejam passadas em fato de banho e chinelos. nada mais que isto. qualquer t-shirt, para mim, já é um sobretudo.
subscrevo aqui, desde já, a minha enorme admiração - e desprezo - pelas pessoas que vejo nas revistas - que também (quase) só folheio nas férias- e que usam, imagine-se, calças (encarnadas, amarelas ou verdes), gel ou, quem sabe, saltos altos.
tenho dificuldade em compreender as férias sem que nas mesmas eu não engorde. não me lixem, preocupações com a barriga têm-se durante os meses de frio. agora no verão? no verão comem-se: gelados, chicha grelhada besuntada com maionaise com alho picado, cerveja até fartar, tintol até cansar, sestas enooormes, doces de envergonhar aquelas freiras enclausuradas lá nos conventos...

tenho dificuldade em compreender as férias sem que nas mesmas não dê os meus passeios de bicla. volto a frisar: passeios. coisas feitas francamente com prazer. não que não me canse e sue a fazer isto, mas é tipicamente um «quem corre por gosto...

tenho dificuldade em compreender as férias sem que nas mesmas não me perca nas revistas que a minha mulher e outras veraneantes ao meu redor compram as quais mostram pela 356ª vez a gaja que o roberto severo andou em tempos a comer em mais uma festa de verão.

tenho dificuldades em compreender as pessoas que passam pelas férias como se fingissem que estão a trabalhar.

quarta-feira, agosto 12, 2009

pergunta francamente inocente

serei o único português que ainda se recorda que no verão de 2005 os jornais e os cronistas diziam que «este benfica de koeman é muito superior ao de trappatoni»; que no verão de 2006 diziam que «este benfica de fernando santos é muito superior ao benfica de koeman»; que no verão de 2007 diziam que «este novo benfica de fernando santos é muito superior à versão do ano de 2006» passando a dizer, semanas depois que «este benfica de de camacho tem uma alma superior à do treinador português»; que no verão de 2008 «o benfica de flores iria inundar os estádios de futebol com um perfume de campeão»?
serei?
eu bem sei que a actividade jornalística só sobrevive com páginas encarnadas. não tenho nada contra, note-se. caguei para isso. ficaria, isso sim, bastante aborrecido se os jogos do meu clube só tivessem, digamos, uma porcentagem de «montra» idêntica, ou seja, uns meros, 35 minutos.
não estou a dizer que este não vai ser o ano do benfica, mas quando toca a comentários, opiniões, essas tretas, não era altura dos escribas começarem a usar aquela treta dos paninhos quentes e mais não sei o quê?

crítico

não sei, confesso, se me hei-de aborrecer - o termo correcto é ralar - a sério com certas coisas durante o tempo de férias.
mais a mais porque cada vez que o faço estou a gastar valioso tempo de internet da pen do meu pai.
mas pronto, cá vai: «não consigo entender muito bem a essência da crítica de cinema». ou seja, não consigo tolerar que quando uma pessoa está perante uma folha de papel ou um ecrã de computador em branco, o seu único fito seja: tenho que dizer bem ou dizer mal.
fui à dias ao cinema. ora este acto que há uns anos era algo corriqueiro mas sempre feito com uma valente dose de expectativa, tornou-se, nos dias que correm, num momento de «só lá vou se acho que não me vou chatear muito».
calhou ir assitir à projecção dum filme, realizado pelo provavelmente único realizador que eu gosto mesmo. ora, esta frase já carrega algumas tolices. primeiro porque está subjacente nela que eu sei o que faz um realizador. facto que obviamente não sei. depois porque é uma afirmação fundamentada na soma das partes, ou seja, com base nas visualizações dos seus anteriores filmes. até aqui tudo bem. porém, as coisas que eu gosto - e muito - nos seus anteriores filmes, não tenho a cereteza, confesso, se têm o seu dedo de realizador ou se são obra dos montadores, editores, directores de fotografia ou essas actividades que os filmes têm e que depois, nos óscares todas as pessoas se estão cagando para quem ganha o quê. assim como assim eu decidi que o responsável pelo facto de eu gostar do filme x ou y, não sendo pelo actor ou pela actriz, é o realizador.
na verdade há umas quantas coisas nos filmes anteriores do senhor que eu não encontro nos filmes de mais ninguém. quando fui ver este filme, agora, já não encontrei uma das características que me enchem as medidas. porém, encontrei outras. e, pronto, gostei. dei a noite como ganha.
outras pessoas comentavam este ou aquele actor. tudo bem, é um comentário lógico e expectável. a mim, os actores passaram-me francamente ao lado. nem me aqueceu nem me arrefeceu. e se não me arrefeceu já foi muito bom.
mas claro, valeu o dinheiro gasto.
caí porém no erro de ler, sem querer, confesso, «coisas» sobre o filme. felizmente li só depois. e há um denominador comum em todas as tais »coisas» sobre o filme, ninguém escreve tendo em mente que as pessoas vão ao cinema para se divertirem, distraírem, ouvir/ver contar umas história, etc... não há um único escriba que não use o seu espaço para cair naquele caralhinho de desatar a escrever como quem atribui notas a uma turma que acabou de fazer um teste de ciências da natureza. não entendo, confesso.
foda-se, cinjam-se a dizer «gostei»/«não gostei» disto ou daquilo. por que raio têm que desatar a cagar postas de pescada sobre a textura do argumento ou a solidez do desempenho do director de fotogtrafia? é assim tanto necessário?
eu entendo que haja necessidade de se escrever, de se encher a página, mas não exageremos. e muito menos, não se perca o fito de informar o eventual espectador que «iá, tem lá umas cenas fixes, umas metralhadoras que até parecem reais e até há uma altura em que as gajas se mamam uma na outra!»
por vezes perde-se o essencial. mas pronto, isto sou eu a exagerar, lá está.

sexta-feira, agosto 07, 2009

morreu o joão

não foi só na adolescência, como muito bem recorda o mike gayle no life and soul of the party, que os nossos interesses femininos se dividiam em gostos pelas molly's ou pelas ally's desta vida. ainda agora, olho para homens que conheci ainda putos chavalecos e, quando me apresentam a mulher (companheira, namorada ou essas coisas), fico logo com vontade de os interpelar «arranjaste uma molly? é pá, sempre julguei que eras mais ally?»

esta dicotomia é apenas um dos aspectos que são fotografias de quem tinha borbulhas na cara entre 1980 e 1989 que o john hughes tão bem decidiu mostrar no sixteen candles, no breakfast club e no pretty in pink.

parece que o senhor joão bateu a bota. temos pena. eu pelo menos tenho muita pena. até porque nunca mais voltaram a haver filmes como aquele.

ok, aceito que o joel schumacher também fez o st elmo's fire. mas, convenhamos, não é a mesma coisa. para mim, não é realmente a mesma coisa.