assim como os prédios da almirante reis sempre tiveram patine
noutro dia reparei que os das avenidas novas, agora que nos aproximamos a correr do fim desta década do novo milénio, começam a ter também patine de boa casta nos alçados frontais
também nós olhamos para as nossas saudades mais remotas, com aquela coisa boa de lá encontrar paredes com vestígios de mais de vinte anos, assim como as paredes com camadas sucessivas de cartazes das festas do avante ou dos concertos de apoio à libertação do povo oprimido pelo general noriega.se aos trinta eu verificava que aconteciam com bastante frequência frases iniciadas com as palavras «lembro-me, há vinte anos...», aos quarenta, tenho a felicidade de reencontrar pessoas que não via há pelo menos, os tais referidos «há vinte anos».
e sucedem-me com uma velocidade estonteante esses
reencontros: há dois anos foi a fantástica reunião de colegas duma muito gira turma do meu rainha dona
leonor; há uns meses marcou-me muito um valente simpósio gastronómico em casa da minha única prima carnal
gosto muito de dizer «primos carnais»aqui do meu lado
jaime, a «tal» prima que todos nós tivemos, temos e teremos;
gosto tanto de tua pinta, pá!;
no meu 40º aniversário recebo um telefonema duma ovelha transviada que abandonou há uns 18 anos um rebanho muito porreiro; desde há uns dois anos, ou coisa que o valha que me ando a empanturrar com valentes
comezainas nuns encontros muito aprazíveis
não penses que os caracóis de ontem fazem esquecer o leitão. e aviso já que não te armes em caçador gabirú, a apanhar estorninhos com pescoceiras armadas lá no terreno para nos servires passarinhos com arroz. estou para aqui a falar e se calhar nem sabes o que são pescoceiras. nahhh, deves saber!
com gente da velha, velha, velha guarda; há uns meses foi uma mana que esteve guardada uns oito anos, precisamente para me saberem melhor uns
reencontros valentes, acontecidos já neste ano que andamos a percorrer; são histórias atrás de histórias.
e se o
facebook (ou o
hi5 ou o raio que o parta) é o novo suplemento dos classificados com anúncios a
reencontros do batalhão de combatentes destacados no
uige de 1968 a 1972, então
juntemo-nos ao
facebook que não vem daí mal nenhum ao mundo.
e eu ando para aqui a engonhar, com este texto nitidamente de «ir ao cu» e nunca mais chego ao que interessa.falei ali atrasado numa turma do meu querido rainha dona
leonor. foi uma turma criada ali por volta de 1986/87 ou coisa que o valha, gente já com bigode rijo e tal, pessoal que já tinha arrumado os lusíadas - cheios de desenhos
grafitados de adamastores com palas à pirata e bigodinhos
hitlerianos - na prateleira mais alta e andava agora na livraria da
fundação gulbenkian, lá na cave, armados em finos e carapaus de corrida, feitos parvos a comprar o
pesadíssimo jansen. mas tinha mesmo que ser comprado...
pois, agora falo-vos de uns cromos mais difíceis.
começaram timidamente; este adicionou aquele, que descobriu depois
aqueloutro e mais não sei o quê e quando demos por ela, estavam umas pessoas que já não se viam há uns vinte e tal anos a coleccionar almoços à sexta-feira.
e desses almoços de 48 minutos cada, partimos para o patamar da jantarada.
mas aqui já é preciso sorte. da mesma forma que havia sempre um tanso que tinha mais lata e paciência para os aspectos logístico-escolares e que apanhava com o frete de ser o delegado de turma, também aqui há uns (e umas. calma, não atirem pedras) que fazem os favor de nos oferecerem de presente: folhas de
excell com relações de alunos, contactos telefónicos,
messengers... e que marcam mesas em restaurantes, organizam contas, falam com empregados de mesa e coisas assim.
depois há gente, nitidamente mais parva (não tens outro nome, meu querido engenheiro) que enfia em sua casa, uma dúzia de bêbados e barulhentos cotas, carregados de paletes de cerveja, sacos de gelo e uns
cd, para evitar que os
plateaus desta vida ganhem uns trocos com um bando de cantores de karaoke.
este
post, como a maioria das coisas deste blog, é obviamente escrito com um (uns) destinatário(s) na parte da frente do envelope.
é assim mesmo!
madrugada de domingo, no regresso a casa, transportando comigo muita emoção boa, uma valente cólica renal e um ensonado advogado, comentava com este último, como é bom ter andado na escola com pessoas tão diferentes que chegam, depois, aos quarenta e
ãs, comportando-se duma forma tão homogénea e pateta. como é bom ver chegar à nossa beira, esta ou aquela pessoa que já não vemos há tantos anos, darmos um abraço,
soltarmo-nos num repente e disparando para o outro um «vais tu ou vou eu pedir duas
tulipas ali ao balcão?» assim, como quem diz «vai-me ali à
mirita do bar e tira-me uma senha para um bolo de arroz, enquanto vou num instante ao
wc passar o meu
kispo por água, que o cabrão do augusto mandou-me com um torrão de terra com tanta força que até parecia que me partia o ilíaco.»
não me apetece (se calhar até apetece) estar para aqui a
reflectir muito sobre a noite de sábado. sei é que fiquei com a sensação que tinha estado de novo, num dos intervalos da escola. no grande, no de quinze minutos. é isso, para mim, aquilo foi o intervalo grande.
e eu espero que a minha filha nunca nunca leia esta parte -
tenho a certeza que se está cagando e andando para isto - mas para a sua formação
mais lá de dentro da ialma preocupa-me mais que ela chegue aos 35 ou 40 anos com o espírito de saudade e reencontro que o pai e os seus amigos de escola têm, do que ter passado os anos todos, cheia de: boas notas,
irrepreensíveis comportamentos disciplinares ou folhas de avaliação pejadas de «
assíduo e pontual»
(gostava de ter exagerado com o que escrevi nesta última parte, mas estou ainda tão emocionado com aquilo tudo de sábado que por enquanto é assim que fica.)
dê, dê, dêdêredê
dê, dê, dêdêredê
dê, dê...
(só deus sabe porque carga de água, onde está a maria, está um bando de gajos todos
augados à volta.)