é verdade, não me posso queixar. tive direito ao belo do postalinho, a um abraço - muito bom nos tempos que correm - e mais um desenho lá com umas coisitas escritas.
o problema surge... ora, sabemos que a criançada deve ter sido questionada pelas educadoras para se tirar dali algum sumo que servisse para construir uma coisa engraçada para alegrar o pai. tudo bem. o problema surge quando começamos a escalpelizar o raio do texto que vem no tal postal.
a saber:
- começa logo por informar que faz desenhos com o pai e que me ajuda a fazer coisas. quem conhece os nossos hábitos quotidianos sabe que eu nunca, repito, nunca fiz desenhos com ela. acredito pois que ela tentou mandar a educadora para canto, com uma afirmação que a deixasse ficasse bem vista perante as suas amigas e amigos. o «ajudo-o a fazer coisas» é verdade. e lá está, a miúda, esperta, imaginou logo que uma parte artística, por mais falsa que fosse, ficaria sempre bem, apensa a algo ligado ao labor e à solidariedade.
- diz depois que sente muitas saudades minhas quando está na escola. apesar de gostar que ela use palavras que designem coisas abstractas sinto ali, também, uma crítica à sua vida escolar. no fundo ela está a mandar uma indirecta a alguém «aqui isto é uma seca, tenho saudades do meu velhote». embrulhem!
- informa, por fim, que eu sou um simples servo, um reles motorista, que a transporta diariamente para a escola, exigindo ainda por cima, que a oscule antes das lides académicas. não me parece nada mal.
- gosto muito, contudo, da chancela que deixa no fim do cartão. fico na dúvida se aquilo não revela um certo gosto pela escrita cuneiforme. pronto, ela lá sabe. pelo menos tenho a certeza que é daquelas assinaturas que não são fáceis de falsear. a miúda tem sempre um fito nas coisas que faz.
maravilha!
maravilha, principalmente, porque ela tem a sorte de ter alguém - nem todas as crianças têm - a quem entregar, seja lá o que for, no dia do pai. maravilha também porque, também eu, obviamente, tenho a alegria de receber coisas destas a 19 de março. vai oferecendo, pá. cá estaremos!