eu trabalho, regularmente, há quase 20 anos. estive em 6 empregos. uns bons, outros maus, outros assim assim. tive, na maior parte dos casos, excelentes relações com as entidades patronais ou com as chefias. coisas rijas, fincadas, coisas para sempre. algumas dessas situações resvalaram da amizade para a ligação familiar (não é, meu querido afilhado?).
nos últimos 2700 dias (certinhos), tive o melhor trabalho do mundo. sem exageros. não sei se seria o melhor para toda a gente, era seguramente o melhor para mim. trabalhava com a pessoa que mais amei (e amo, fosga-se!) nos últimos 30 anos; a pessoa que mais admirei (até, se calhar, profissionalmente); a pessoa que, sem ter feito um cabrão dum esforço (és mesmo uma nulidade em pedagogia, pá), mais me ensinou nestas coisas do marketing, do design, da publicidade e outros que tais.
nem tudo correu bem, é certo. mas gaita, o cabrão do saldo é muito positivo. lembro-me muito bem de como era a minha vida há 8 anos e como é agora.
estas melhorias têm a ver com o meu desempenho? sem dúvida que sim. mas há coisas que não se esquecem. não posso esquecer que trabalhei numa coisa que adorava, que tinha uns horários flexíveis até dizer basta, que tinha um ordenado bestial, que andava de chinelos e calções de Abril até Outubro, que tinha vista para o mar, que tinha carro, que tinha um porradão de coisas porreiraças.
no dia 3 do 3 saí dessa empresa. senti que tinha sido o primeiro dia do resto da minha vida. pela primeira vez tive necessidade de ser crescidinho. de pensar que tenho uma família, de pensar que tenho uma filha para sustentar. atenção, não que não tivesse pensado antes, mas no dia 3 senti esse peso nas costas.
ok, vou para um trabalho muito mais aliciante; vou trabalhar com uma das 5 mulheres mais fantásticas que já conheci em toda a minha vida (eu tenho uma sorte bestial em só ter trabalhado com gente incrível), uma craque dos diabos, uma senhora que me trata como se seu filho fosse; vou trabalhar numa área em que sei que me vou dar bem, em que sei que vamos ter sucesso - vamos, não vamos, madrinha? -; sei que vou ter mais responsabilidades, vou ter mais privilégios, vou ganhar mais dinheiro, etc. e é sabendo isto tudo, é sabendo que estas coisas estão à minha espera, que tenho todo o consolo do mundo.
mas gaita, enquanto não passar esta porcaria desta fase não se metam à minha frente que isto custa muito. olha, olha, apanham-me num dia bom, apanham!
desviem-se, ok?