Quando tinha aí uns 13 ou 14 anos, fazia parte daquele grupo de putos parvos (neste aspecto não tive grande evolução) que demoram imenso tempo a ir da escola a casa e que andam nos autocarros sempre a saltar de um lugar para o outro a aborrecerem os outros passageiros e a fazer um estardalhaço dos diabos.
Numa dessas viagens do autocarro 33, houve um puto da escola Eugénio dos Santos (um reles frequentador duma escola preparatória, comparado connosco que já andávamos no Liceu Rainha Dona Leonor) que começou a improvisar com o meu inseparável amiguinho Canina (onde é que andas, senhor engenheiro Pedro Quadros? Não sei de ti há mais de 20 anos) porque duas ou três miúdas lá da escola dele trataram de nos fazer olhinhos (adoro esta frase, fazer olhinhos).
Nós os dois, do alto dos nossos 13 anos (atenção que ambos juntos, não medíamos mais de 2,5 metros) dissemos lá para o gajo: "- ó paneleiro de merda, sais adonde?" Ao que ele, de baixo dos seus 11 anos (portanto, muito mas muito mais novo, apesar de ter mais um palmo de altura que qualquer um de nós), disse: "Na Estefânea". Replicámos, então: "Tás fodido. Vais apanhar tantos pensos nesses cornos que até andas a sete."
E assim fomos, a viagem inteira sempre naquele rame rame "ai vais ver vais" "não, tu é que vais ver", "isso pensas tu" e tal.
Quando saímos do autocarro, o meu amigo Canina, pousou a enooooooorme mochila e tunga, atira-se ao gajo e ali ficam enrolados aos puxões e aos encontrões. De fora, um outro gajo (eu, claro) incentivava-o com gritos parvos e estúpidos: "Vai, dá-lhe Canina, estás a ganhar, dá-lhe!"
Surge então em cena um dos passageiros do autocarro que agarra cada um deles por um braço e avisa "Vamos masé acabar com esta merda senão a coisa complica-se!". Apesar de afastados, os dois não se ficaram e continuavam a mandar uns infrutíferos e inconsequentes pontapés que acertavam sempre no ar. Às tantas o senhor não está com meias medidas. Espeta um par de lostras bem esgalhadas nas ventas de cada um e sentenciou: "Ai o caralho, vamos acabar com isto ou não?". As coisas acalmaram.
O gajo que estava de fora - eu, claro - desata-se a rir muito e em voz alta. O senhor então não esteve com parcimónias. "Ai estás-te a rir? Espera lá que eu já te dou o remédio para a tosse" e pimba! Em vez de uma colherzinha de xarope acabou por sair mais um par de estalos para a mesa do canto.
E lá fomos os três, Casal Ribeiro abaixo, com as faces quentinhas e vermelhas e com os olhos a chorar. Diz-me o meu amigo Canina:
- Estávamos a ganhar, não estávamos?
- Vai à merda que ainda me dói as trombas.
Lembro-me sempre desta história quando ouço o meu presidente, o Veiga e o Luís Filipe Vieira a trocarem bocas parvas: mas não há ninguém que se levante, que os segure por um braço e que dê um par de estalos valentes nas trombas daqueles três gajos? É que já enjoam. Parecem meninas (não querendo ofender a classe feminina, ok?).
Dasssssse!